O Menu | Crítica: Jantar exclusivo serve deliciosa crítica para o mundo dos privilegiados

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Definitivamente 2022 tem sido o ano das sátiras para o grupo do chamado 1%, aquela seleta parcela da população que concentra a maior parte da riqueza. É a tendência que Hollywood vem há meses, e por diversas produções, seja na TV, no cinema, e no streaming, a debater e contar histórias a respeito. E com O Menu (The Menu, 2022) não é diferente.

O estúdio tentou vender a produção como um longa que mistura terror e suspense, mas dentro do cardápio que O Menu oferece, o longa é muito maior do que isso. É um marcado por uma cativante história com nomes conhecidos, no que chamamos de um filme com um ensemble cast, ou seja, vários atores figurões de Hollywood que servem para o espectador uma refeição completa, com entrada, prato principal e sobremesa.

E a cereja do bolo é a atriz queridinha de Hollywood dos últimos tempos, a talentosíssima Anya Taylor-Joy que junto com Ralph Fiennes (ótimo no papel) não colocam o espectador em banho maria e garantem que O Menu receba algumas boas estrelas (Michelin, claro) e merecidamente bem dadas. 

O Menu
Ralph Fiennes e Anya Taylor-Joy em cena de O Menu.
Foto: By Eric Zachanowich. Courtesy of Searchlight Pictures. © 2022 20th Century Studios All Rights Reserved

Essa mistura de mistério, com crítica social, deixa O Menu com um ar tenso e carregado na medida que o chefe Slowik (Fiennes) e seu time de cozinheiros se preparam para receberem, mais uma vez, um grupo seleto de clientes que pagaram uma pequena fortuna para jantaram no exclusivo restaurante Hawthorn localizado em uma remota ilha.

O Menu funciona como um mistério de assassinato às avessas, afinal, não temos um detetive, não temos um assassinato em si, e não precisamos descobrir quem matou? Mas fica claro pelas intenções de Slowik que nem todos os clientes vão sair vivos na medida que o chefe linha dura anuncia que todos eles estão ali por um motivo, que os pratos que serão consumidos naquela noite, e foram feitos sob medida para cada um deles, e que eles vão precisar se manter em seus lugares durante toda a refeição. Queira eles ou não.

Apenas por um detalhe. Margot (Taylor-Joy) não estava na lista original, onde descobrimos que a jovem serve de acompanhante de última hora para o aficionado nerd-gastronômico, um foodie, Tyler (Nicholas Hoult) depois que o rapaz termina com sua antiga namorada, e não quer perder a oportunidade, e o valor do ingresso (mais de 1200 dólares/por cabeça) para jantar no local.

E como a única que não vem de um mundo de privilégios, que não poderia ligar menos para o mundo da alta gastronomia, Margot pode ser descrita como a uva passa no arroz do Chefe Slowik e é uma personagem que acaba para ser o os olhos do espectador dentro do mundinho exclusivo que somos apresentados à medida que os clientes chegam no local. Assim, presença dela desestabiliza a dinâmica da noite, e garante para a atriz bons momentos no longa.

Entre pratos sofisticados que são servidos, e preparados ao longo do filme, o roteiro da dupla Seth Reiss e Will Tracy (que trabalhou na produção de Succession) nos entrega, aos poucos, pitadas de informações sobre a abastada clientela do lugar, o que os levaram a estarem lá naquela noite, e o motivo pela qual estão sob a mira do chefe. 

A cada visualmente maravilhosa (mas será que saborosa?) comida servida, O Menu aumenta sua dose de excentricidade e revela uma nova, e às vezes, inesperada, informação sobre o passado de um dos personagens e que realmente muda toda a dinâmica entre eles. 

Os discursos do chefe Slowik nos entregam um trabalho de atuação incrível de Fiennes que comanda uma presença magnética em tela. A dinâmica do ator com todos os personagens dita o tom do filme que nos entrega um ar mais claustrofóbico e sufocante a cada prato apresentado. E o trabalho de Mark Mylod (que dirigiu episódios de Game Of Thrones e Succession) é extremamente preciso ao fazer a frieza do chefe ao falar sobre suas comidas transbordar em tela, ao mesmo tempo que o personagem mantém os clientes presos no local e que ao longo da noite, ele começa a destrinchar essas relações e ao longo de cada refeição vemos revelações das mais surpreendentes entre essas pessoas serem apresentadas na medida que nós, os espectadores, construímos esse quebra-cabeça culinário.

O Menu
Elenco de O Menu
Foto: By Eric Zachanowich. Courtesy of Searchlight Pictures. © 2022 20th Century Studios All Rights Reserved

Seja pela relação entre a sub-chefe Elsa (Hong Chau, novamente incrível) com o chefe de Fiennes, um casal de ricaços em crise no seu relacionamento (Reed Birney e Judith Light), a dupla de pretensos críticos gastronômicos (os ótimos Janet McTeer e Paul Adelstein), ou até mesmo um grande ator de Hollywood, mesmo com a carreira em baixa, e sua assistente que tem uma relação curiosa de se acompanhar (John Leguizamo e Aimee Carrero) e também um trio de investidores arrogantes (Mark St. Cyr, Arturo Castro e Rob Yang) que garantem momentos dos mais embaraçosos. Todos eles tem alguma coisa por acontecer fora dali, mas ao estarem dentro do restaurante precisam colocar os pontos nos “is” e resolverem tudo.

Assim, O Menu segura seu mistério, e revela sua trama de uma forma super intensa, e bastante imersiva, de se acompanhar. As reviravoltas garantem boas passagens, e o elenco se dá bem no ambiente fechado do restaurante para entregar momentos quase teatrais na medida que as intenções, e o plano, do renomado Chefe de cozinha é revelado. 

Na medida que descobrimos mais sobre esses clientes, O Menu vai compor um quadro que nos dá uma visão panorâmica sobre a situação perigosa que esses personagens se veem envolvidos na medida que a noite se desenrola. Segurem em suas pipocas e saboreiam esse drama com doses de suspense delicioso que é O Menu. O jantar está servido e garanto que vocês vão sair satisfeitos com o longa.

Avaliação: 3.5 de 5.

E onde assistir O Menu?

O Menu chega no Star+ em 18 de janeiro.

Filme visto no Festival do Rio 2022.

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