Um bate-papo com Tarsila Amorim, a chefe de dublagem da série Iwajú

"Era injusto que esse elenco tenha menos que 100% de atores negros.(...) se não for nesse momento que a gente possibilita a maior inclusão de dubladores negros vai ser quando né?" afirma Tarsila Amorim diretora de dublagem da série animada Iwajú do Disney+.

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Iwajú é a nova série do Disney feita pela Walt Disney Animation em parceria empresa panafricana de entretenimento Kugali e chegou no Disney+ com 10 episódios liberados, de uma vez, para o primeiro ano.

Ambientada na cidade futurística de Lagos, na Nigéria, a trama de Iwajú acompanha Tola (voz em inglês de Simisola Gbadamosi e na versão brasileira de Rafaela Gonçalves), uma jovem da próspera ilha, e seu melhor amigo Kole (voz em inglês de Siji Soetan e na versão dublada brasileira de Agyei Augusto), um autodidata expert em tecnologia, enquanto descobrem os segredos e perigos escondidos em seus diferentes mundos. 

Os cineastas da Kugali, que incluem o diretor Olufikayo Ziki Adeola, o designer de produção Hamid Ibrahim e o consultor cultural Toluwalakin Olowofoyeku, fazem parte do time de produção junto com Christina Chen, da Disney Animation.

A atração tem roteiro de Adeola e Halima Hudson.

No Brasil, a equipe de dublagem da atração foi liderada pela dubladora, e diretora de dublagem e diálogos, Tarsila Amorim que bateu um papo com o site para falar os principais desafios do seriado, a adaptação dos diálogos do seriado para o português e algumas curiosidades de bastidores. Confira:

Os personagens Tola e Kole em cena da série Iwajú. Foto: © 2024 Disney. All Rights Reserved.

Você já trabalhou nas produções Operação Big Hero- A Série, Vampirina, Fancy Nancy Clancy e agora está em Iwajú. Como foi para você receber o convite para trabalhar nesse seriado, o primeiro da Disney com a produtora panafricana Kugali?

Tarsila Amorim: Foi uma honra! Rolou um grande trabalho de ouvir e tentar entender o que essa série significava. [No começo] ouve situações de falarmos “Não entendemos isso, vamos pesquisar, honrar para fazer direito e trazer direito” [essa representativa da cultura africana em tela] o que essa série linda representa.

Eu imagino que você tenha recebido os episódios com uma certa antecedência e fico curioso o que você pensou pela primeira vez quando viu os capítulos e pensou e agora por onde eu começo a trabalhar nesse projeto?

Tarsila Amorim: Terminando de ver os todos episódios, a minha primeira preocupação, na verdade, até enquanto eu vou assistindo, eu sempre penso em quem vai dar voz para essas personagens. Quem vão ser os atores, que em português podem ser convincentes e bons o suficiente para isso, né? E bons no sentido de ter um timbre adequado [de voz], de ter a vibe adequada, de ter a idade adequada para personagem e tal. Então eu já começo a pensar e fazer uma lista das pessoas que que eu quero que encabeçam esse projeto.

E esse trabalho não é feito só por mim, assim por dizer. Eu ofereço os nomes das pessoas, mas principalmente para os personagens principais a gente acaba sempre mandando uma tríade [uma lista com três nomes], o cliente escuta, então a Disney manda lá pra o time lá da matriz na Califórnia que falam: “Essas são as vozes brasileiras que podem fazer essas personagens.” E aí eles escutam e falam, “Tá bom! Dessas três, eu gostei dessa aqui.”

Então eu acho que essa é a minha primeira preocupação, pensar no elenco. E foi uma preocupação grande porque eu falei: é injusto que esse elenco tenha, menos que 100% de atores negros dublando. Também até por ser uma questão do tipo, se não for nesse momento que a gente possibilita a maior inclusão de dubladores negros vai ser quando né? Se isso não é motivo bastante. Quando vai ser? Então a gente inclusive acabou trabalhando com pessoas que não são necessariamente tão experientes e que são dubladores que estão começando. Mas é por ter bastante tempo por ter bastante cuidado para fazer a série, uma pessoa com menos experiência também pode entregar um trabalho incrível, porque a gente tem, é isso tem todo cuidado a paciência e o tempo hábil para falar tá bom? esse take pode ficar um pouquinho melhor então a gente só mais uma, e grava mais uma, até entregar entregar o trabalho que você deve ter assistido e que na minha humilde opinião ficou brilhante.

E continuando, por que essa ia ser minha próxima pergunta: Teve algum personagem que você viu na série, ouviu e falou nossa a voz de fulana, ou de fulano vai combinar muito com esse personagem?

Tarsila Amorim: Ah, desculpa, mas não vai ser tão interessante. Até teve um pessoa ou outra que eu falei assim: Ah beleza, nossa batata, quero essa pessoa para essa personagem. Foi especificamente, a Felícia, a Happiness, que eu falei nossa é a cara da Marisa. Eu já pensei nela direto. A série ela tem poucas grandes personagens né? Então dentro dessas grandes personagens todas elas precisávamos mandar a tríade [de nomes]. Então mesmo que eu falasse, “É a cara dessa dessa pessoa, é a cara dessa atriz, ou desse ator essa personagem.” A gente, eu não podia nem me apegar, por que é a minha sugestão, e a mina sugestão ainda estaria sujeita a aprovação posterior do cliente.

É uma coisa bem desapegada que a gente faz assim, embora com muita responsabilidade né? A gente trabalha a serviço da obra, eu não trabalho para mim, é um trabalho que tem uma certa liberdade limitada por que a gente tem que servir o que a obra propôs. Não é para reinventarmos a obra. Alguém já pensou nessa obra da maneira bonita, coesa que ela é. Então eu tenho que fazer o máximo para que a versão brasileira respeite isso que alguém pensou, sem ficar inventando muita firula e tudo mais.

Quanto tempo levou para vocês trabalharem no processo de dublagem dos episódios? De fazer a seleção, até chamarem todo mundo para gravar o episódio, checar tudo e etc. Quanto tempo mais ou menos?

Tarsila Amorim: Acho que se a gente for pensar no tempo corrido… porque houve, umas pausas, por questões burocráticas, então eu recebi a série em um momento, ai ela ficou estacionada por um tanto de tempo, e depois a gente voltou a trabalhar na série. Então eu acho que na prática foi uma questão de dois meses, dois meses e meio. Assim de tempo corrido né? Entre receber o material todo, assistir, pensar na tradução, depois escalar o elenco, tanto o elenco que ia ser testado, quanto o elenco secundário. Depois fazer o teste com esse elenco que ia ser testado, então depois chamar as pessoas que seriam candidatas para essas personagens para gravar antes e espera a resposta dos clientes. Então de gravação foram mais ou menos umas três semanas mais ou menos, por que são 6 episódios, mas são 6 episódios curtos, então a gente consegue agrupar tudo em uma produção eficiente, na mesma gravações, numa mesma escala que é como a gente chama, numa mesma escala a pessoa vai gravar todos os episódios isso as personagens menores e as personagens precisa de mais tempo né?

 Bode DeSousa, o vilão da série animada Iwajú. Foto: © 2024 Disney. All Rights Reserved.

A pandemia precisou fazer não só os estúdios a se adequarem a nova realidade, mas também vocês dubladores. Dá para dizer que o trabalho com Iwajú foi um trabalho 100% presencial igual aos padrões pré-pandemia? Vocês já voltaram a esse patamar?

Tarsila Amorim: Na dublagem em geral, ainda tem estúdios que trabalham de maneira mista. Mas especialmente para produtos com essa com essa projeção, com esse impacto, como é para Disney, são os feitos 100% presencialmente. Até porque envolve uma questão de uniformidade na qualidade de captação do som. E aí não é nem que assim, “Ah é alguém que tem um microfone ruim ou o estúdio da pessoa em casa é ruim”, mas é dentro do mesmo estúdio, a gente, por exemplo, tem várias cabines de captação. E pela cabine ser um pouquinho maior, ou menor, o áudio fica diferente, a captação fica diferente. Então é tem um cuidado da gente captar não só tudo localmente como captar na mesma sala de de gravação assim para garantir uma uniformidade, enfim, melhora mixagem…. porque é tem alguns produtos permitem um pouco mais de flexibilidade, um pouco mais de “Ah, tudo bem? Se não for nota 10 pode ser nota 9,5!”

Mas esse produto não. Esse produto tinha que ser nota 10 e aí então tudo foi. Inclusive os testes, todos com os atores e a captação toda foi feita, presencialmente, na mesma na mesma cabine de captação.

Você deu a voz para a Dama no live-action de A Dama e o Vagabundo lá em 2019. Tem algum personagem da Disney, pode ser mocinho, ou vilão que você gostaria muito de dublar? Ou no futuro fazer?

Tarsila Amorim: Nossa essa pergunta me pegou desprevenida. Por que na minha cabeça, a resposta eu vou para coisas mais nostálgicas, assim. Eu penso menos no futuro ou em sequências e mais em coisas que já aconteceram. Ai boa pergunta.

Eu acho que eu gostaria, por exemplo de ter dado, voz para Valente, por exemplo a Merida, que enfim foi uma princesa contestadora, mais rebelde.

Completam o time de dubladores Davi Barbosa como Tunde, Max Grácio como Bode, Vanessa Mello como Otin e ainda Marilza Batista, Renato Caetano, Lorena Castro, Dirce Couto, Flávio Dias, Mariana Dias, Marisa Mainarte, Thor Junior, entre outros.

Confira o trailer:

Iwájú já está disponível no Disney+.

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