Uncle Frank | Crítica: Sensível história sobre família, intolerância e aceitação

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Uncle Frank (2020) passou completamente batido por mim na época que fez sua pré-estreia no Festival de Sundance no começo do ano. Os tempos eram outros, uma época pré-pandemia, onde 2020 tinha acabado de começar e o festival exibiu outros filmes que tiveram mais destaques e não lembro de ter visto o longa em nenhuma lista de “Mais Esperados” ou “Destaques do Festival” que sempre pipocam na imprensa gringa.

Uma pena, pois Uncle Frank é um desses que merecia todo o destaque possível. Sensível e emocionante, o longa mistura uma história de amadurecimento dupla, com um toque de road trip movie, e conflitos familiares que deve ser impossível não sair com o coração apertado ou o olho seco. 

Com direção e roteiro de Alan Ball (Six Feet Under, American Beauty e True Blood), Uncle Frank faz o que o diretor sabe fazer de seu melhor, construir personagens humanos e complexos que por acaso são gays e que aqui não são sua maior característica, eles são pessoas completas, cheias de sentimentos, tanto alegres quanto tristes, e que ajudam a contar essa história sobre intolerância e aceitação, mesmo que tardia. 

E para isso Ball tem dois triunfos em mãos. Paul Bettany, mais conhecido por sua participação nos filmes da Marvel Studios como o robô de inteligência artificial Vision, realmente entrega uma atuação graciosa como Frank, um professor universitário que vive dentro do armário para sua família do interior dos EUA enquanto vive também em Nova York com um companheiro de longa data chamado Wally (Peter Macdissi). Bettany em tela é uma “visão” para os olhos e realmente passa um ar melancólico e triste impressionante que salta em tela e faz um dos melhores papéis no ano.

A Amazon Studios precisa trabalhar a campanha do ator para Melhor Ator na próxima temporada de premiações, e aproveitar o hype que Bettany terá com o lançamento da primeira série da Marvel Studios no serviço de streaming concorrente para tentar incluir o ator nas disputadas listas. Bettany é a alma do filme juntamente com Sophia Lillis que mais uma vez se mostra uma jovem atriz talentosa e que aqui entrega também uma maravilhosa atuação. 

Uncle Frank | Crítica
Foto: Amazon Studios

A trama de Uncle Frank chega até ser simples narrativamente falando, mas faz uma poderosa jornada para Frank em conseguir se livrar das amarras do passado e finalmente seguir sua vida sem medo de ser quem ele é. O roteiro de Ball é responsável por grande parte disso, mas não seria o mesmo se não tivesse Bettany e Lillis em seus respectivos papéis. Os atores elevam tanto o texto do filme que nos faz querer estar ali e abraçar esses personagens em suas jornadas. O longa começa com Betty com 14 anos e que se sente isolada de sua família e só se dá bem com seu Tio Frank. O longa parte para o futuro e agora Betty é Beth, tem 18 anos, e começa uma nova vida, agora universitária em Nova York depois de tendo vivido sua vida toda numa cidadezinha do interior do Estado da Carolina Do Sul. Ela finalmente chega na cidade grande e não se sente mais como um peixe fora d’água, afinal agora ela tem outras pessoas para conversas sobre as coisas que ela gosta como livros favoritos, autores e autoras mais queridos.

Esse coming of age para Beth é divertido de se acompanhar, mesmo que para o espectador as coisas e passagens apresentadas não são nada sutis e falta um pouco de finesse de Ball para tratar disso. Mas conhecendo os trabalhos prévios do diretor e roteirista fica claro suas intenções. A trama ganha força e um peso dramático mais intenso que descobrimos que o pai de Frank e avó de Beth falece.

E eles tem que retornar para o interior para visitar a família. Frank nunca se deu bem com o pai, o rústico e rabugento Daddy Mac (Stephen Root) e isso fica claro em todas as cenas que Root e Bettany contracenam. A tensão no ar, e o peso do não dito fica evidente logo de cara, e como falamos Ball não é nada sutil ao apresentar esses personagens. A ida do parceiro de Frank junto com Frank e Beth movimenta a trama, e quando chegam no funeral é chance de Frank honrar seu pai mesmo com anos de ressentimento e mágoas entre eles. Sem dar spoilers, como vocês podem imaginar, as coisas não terminarão bem, ou até vão, vocês precisam assistir para saber.

Com diversas cenas que variam entre ângulos abertos para dar um sentimento de vastidão do interior dos EUA e outras tomadas mais fechadas para conseguir capturar o tom caótico que se aproxima na vida de Frank, Wally e Beth, Ball costura a narrativa desses momentos, e principalmente o final, de uma forma intensa e angustiante onde vamos por descobrir mais sobre essa família e alguns segredos guardados durante anos.

Mesmo com elenco de apoio muito bem escalado e escolhido, Uncle Frank sofre para não dar espaço para todo mundo e por entregar uma trama enxuta em 1h30 de duração. Além das presenças de Bettany, Lillis e Macdissi que são o grande o foco, o longa ainda tem a atriz Judy Greer que quebra um pouco das tensões como a mãe de Beth, uma personagem meio cabeça de vento, mas com boas intenções e Margo Martindale como Mammaw, a matriarca que aparece pouco, mas tem cenas que são ótimas.

No final, Uncle Frank faz um filme incrível de se acompanhar com excelentes atuações. Um longa para todos os garotinhos ou jovens adultos que vivem com o mesmo sentimento de terror que Frank viveu sua vida toda e que entrega uma mensagem poderosa: amor é amor. 

Avaliação: 4 de 5.

Uncle Frank chega no Prime Video no dia 25 de novembro.