The Crown | Crítica 4ª Temporada: Seriado chega onde todo mundo queria ver: Diana e Charles

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Por mais que a Rainha Elizabeth II seja a grande protagonista de The Crown, e a figura central de toda a monarquia britânica nos últimos tempos, o seriado que conta a sua história, aqui nessa quarta temporada, ganha um desvio ao chegar nos anos 80: o início do relacionamento de seu filho, o Príncipe Charles com a Lady Diana Spencer. E isso só melhora a série que faz do seu quarto ano, talvez, sua temporada mais robusta.

The Crown
The Crown – 4ª temporada | Crítica:
Foto: Netflix

O chamado conto de fadas moderno, aos poucos passa de um sonho, para ser tornar um pesadelo, veremos mais disso na 5ª temporada, mas pelo menos nesses poucos momentos da nova temporada, a chegada da nova Princesa movimentou a monarquia britânica que lutava e sofria para se adaptar aos novos tempos e ainda se manter relevante no cenário social, político e econômico nos anos que seriado se passa nessa 4ª temporada.

Junto com a chegada de Diana, temos a própria Inglaterra, e os outros países que compunham o Reino Unido, também vivendo grandes mudanças tanto sociais, quanto políticas, no período (1979 a 1990) que foram comandados pelas mãos da Primeira Ministra Margaret Thatcher que aqui governou com mãos de ferro o país, e era conhecida como pelo título de A Dama de Ferro por suas políticas duras e ambições para reformular a economia inglesa.

Assim, o quarto ano foca nos 10 anos na qual a Primeira Ministra ficou no governo e lidou com as ameaças separatistas da Irlanda (com os ataques terroristas do IRA) e de outros países da chamada Commonwealth, a organização que reúne os países que faziam parte do Império Britânico. O episódio de retorno, o 4×01 – Gold Stick, mostra a primeira reunião de Thatcher com a Rainha, onde a política assumiu o Reino Unido lá no final dos anos 1979 e se tornou a primeira mulher a assumir o cargo. A escolha de Gillian Anderson, super talentosa e realmente ousada para o papel, foi vista com empolgação, mas confesso que demorei cenas e episódios para me acostumar com composição que ela e equipe de produção escolherem para trazer a Primeira Ministra para a telinha.

The Crown – 4ª temporada | Crítica:
Foto: Netflix

Por conta do grande penteado, parecia que Anderson tinha uma certa dificuldade de se manter com a cabeça ereta e tentava ao tempo todo impersonificar a política em vez de trazer uma atuação mais natural e livremente inspirada como outros atores. No final, para mim, Anderson esteve boa parte do tempo caricata e sua composição de personagem me tirava a atenção de momentos importantes que exigiam dela como atriz, como a busca da personagem pelo filho desaparecido em 4×04 – Favorites ou ainda o 4×08 – 48:1 sobre a discussão da posição do Reino Unido contra o regime de segregação racial conhecido como Apartheid na África do Sul. 

E realmente a nova temporada de The Crown tem um destaque para as mulheres que moldaram o país e influenciaram, cada uma em um determinado lado, seja a cultura, a política e tudo mais. Olivia Colman retorna para interpretar a Rainha Elizabeth II, na sua última temporada como a monarca, e realmente não há palavras para descrever o quão bom trabalho que a atriz entrega. Colman em todas as cenas passa um sentimento de dureza e impenetrabilidade gigante, mas ao mesmo tempo vemos rachaduras cada vez maiores da humanidade reprimida da monarca depois de anos no poder.

The Crown sempre foi responsável por nos trazer esse sentimento fazer com que nós, o público, conseguisse simpatizar com a jovem monarca nos primeiros anos, e ao longo das temporadas posteriores, conseguiu nos fazer entender as diversas situações e situações que a Rainha era colocada, mas aqui, no novo ano, o produtor e roteirista chefe, Peter Morgan parece realmente desconstruir toda a agradabilidade que Claire Foy e a própria Colman, construíram para a Rainha ao colocarem a monarca no meio do furacão de simpatia e espontaneidade que Diana Spencer (Emma Corrin) trouxe para a família Real no que como falamos parecia ser o início de um conto de fadas.

Colman absolutamente rouba todas as atenções para si, e faz episódios incríveis como 4×04 – Favourites aquele que a Rainha examina e tenta descobrir qual dos filhos é seu favorito e ainda o 4×05 – Fagan na qual vemos um homem invadir o Palácio de Buckingham e que Colman absolutamente está, mais uma vez, sensacional. E ela parece dividir as atenções, assim como foi com a Rainha com Diana, com Corrin que faz um trabalho monumental de construir a personalidade frágil e inocente que Diana se apresenta para o público. E o trabalho da atriz é incrível, afinal, ao longo da temporada a composição da Diana de Corrin é drasticamente afetada quando a jovem é jogada no covil dos leões que é a Família Real.

Diana começa a temporada sozinha e termina esse arco de episódios ainda mais sozinha como vemos na poderosa cena que fecha a temporada 4×10 – War. E Corrin segura as pontas ao contracenar com atores veteranos e faz do 4×02 – The Balmoral Test um dos melhores episódios do novo ano ao mostrar a jovem pronta para enfrentar sua primeira visita na casa de campo Balmoral e passar em todos os pequenos testes que a Família Real cria para avaliar se a pessoa é digna ou não de fazer parte do círculo íntimo. Pois é né? Coisa de gente rica sem ter o que fazer. Mas realmente Corrin fará por merecer suas futuras indicações em futuras premiações no intenso 4×06 – Terra Nullius onde vemos a Princesa e o marido Charles em turnê pela Austrália, onde a coroa contava com dois para acalmar os ânimos na região.

The Crown
The Crown – 4ª temporada | Crítica:
Foto: Netflix

E Corrin e Josh O’ Connor (também ótimo e ao mesmo tempo detestável) transbordam uma química invejável em tela, tanto nas cenas onde vemos um pouco do romance dos dois explodir em tela, mas também nas discussões e nos ressentimentos que Charles e Diana cultivaram desde de sempre e carregaram com eles durante anos, aliados com a sombra de Camila Parker Bowles (Emerald Fennell), da Família Real, e diversos outros amantes de ambos os lados.

A quarta temporada roda quase que exclusivamente em torno do relacionamento dos dois e isso trás para o seriado um gás incrível. Ao longo dos episódios vemos que a dupla lutava contra esse tipo de casamento quase que arranjado, onde a Família Real fazia aquilo que desde do começo mostrou: acenar e aceitar sua posição dentro da hierarquia e do governo.

No novo ano de The Crown, as figuras centrais oscilam com suas tramas, mas sem perder a chance de tocar em assuntos espinhosos como o fato de Diana ter bulimia, ou que ainda as tramas paralelas dos outros filhos como o Príncipe Andrew (Tom Byrne) esteve envolvido em polêmicas, Princesa Anne (Erin Doherty) e seus casos extraconjugais, ou ainda as peripécias da Princesa Margaret (Helena Bonham Carter, apagada), e o fato da Rainha ter expressado suas opiniões em público sobre um Premier que causou uma verdadeira crise constitucional.

Como falamos lá no primeiro ano, The Crown se coroa, mais uma vez, como a jóia da coroa das produções da Netflix com um cuidado excepcional de figurinos, onde todas as recriações dos vestidos de Diana foram um trabalho primoroso da equipe de produção, e claro, até mesmo na composição de ambientes dos diversos palácios e residência que a família Real tem.

The Crown parece encaminhar para os anos mais sombrios da Família Real na próxima temporada com a chegada dos anos 90 que irão causar um debate mais fervoroso nas redes sociais por conta da morte de Diana e todas as teorias de conspiração envolvida. Mas, no final, The Crown novamente faz um trabalho primoroso e deslumbrante, onde a 4ª temporada faz uma temporada de despedida para muito dos atores, sem deixar de digna ao tamanho da série, e claro dos personagens envolvidos, que aqui claro, continuam a serem pessoas reais mesmo que membros da realeza.

The Crown disponível na Netflix.

Você pode ler as críticas dos primeiros anos também disponíveis no serviço de streaming aqui (1ª temporada), aqui (2ª temporada) e aqui (3ª temporada).

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