The Morning Show – 3ª temporada | Crítica: Novos episódios tentam ser Succession, mas mantém novelão de sempre

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The Morning Show voltou com uma missão importante nesta terceira temporada: sair do estigma de ser a série sobre o #MeToo da Apple e tentar abraçar o lado mais Succession, mais Billions.

E nos novos episódios da atração estrelada, e produzida, por Jennifer Aniston e Reese Witherspoon a série consegue isso. Em partes. Talvez, não da forma certa. Ou que a atração gostaria. Afinal, The Morning Show até entrega essa mudança mesmo que também, ao mesmo tempo, mantenha o novelão de sempre e que foi tão a cara, principalmente, do segundo ano quando a série começou a se afastar do tema da primeira temporada.

The Morning Show então, tenta, mais uma vez, ser como um novo recomeço para a série em si e para esses personagens, depois dos eventos que levaram à demissão de Mitch Kessler (Steve Carrell) da bancada do programa matutino, e tudo que aconteceu logo depois com Hannah (Gugu Mbatha-Raw), a chegada de Bradley Jackson (Witherspoon) para movimentar a emissora e também a ascensão de Cory (Billy Crudup) para assumir o posto de CEO do conglomerado.

Reese Witherspoon e Billy Crudup em cena de The Morning Show.
Foto: Courtesy of Apple.

E assim o terceiro ano estreia com uma passagem de alguns anos depois que vimos esses personagens pela última vez. A série passa também por toda aquela trama de COVID que vimos no ano anterior, e agora entrega histórias que se assemelham muito com as que estamos por ver na Hollywood (real) no últimos tempos: as repercussões das estratégias focadas para o streaming, as disputas salariais, o combate notícias falsas e o cenário político cada vez mais acalorado. 

E assim, como falamos, ao focar nesses bastidores dessa grande emissora de TV, The Morning Show tenta apresentar novos conflitos e situações para esses personagens que precisam entregar um programa matinal toda manhã. E de uma maneira, ou outra, melhora o que tínhamos no segundo ano.

Sinto que a atração mais uma vez compensa um roteiro não tão bem elaborado com boas atuações. E novamente aqui não só de Aniston e Witherspoon, as âncoras do seriado desde da concepção inicial, mas também de Crudup que realmente se tornou, não só um dos protagonistas de The Morning Show, mas também um dos melhores personagens da TV (do streaming).

O ardiloso e estrategista Cory, interpretado brilhantemente por Crudup, é fundamental para a trama, e por fazer a trama acontecer mais uma vez no terceiro ano. E particularmente eu o acho tão importante quanto a Alex de Aniston e a Bradley de Witherspoon, onde diria até, que nessa temporada, o personagem parece ser muito mais fundamental do que as colegas.

Claro, o novo ano dá para Aniston mais uma missão para fazer Alex capitalizar com seu sucesso, de se tentar se manter relevante e com influência na UBA. E a atriz se garante nos monólogos, e está mais uma vez excelente, e no know how de mercado de entretenimento de sua personagem, na medida que fica claro que Alex tem 7 vidas corporativas e sempre parece sair por cima por mais caótica que seja a situação em que se mete.

Já Bradley, e também uma apagada Witherspoon, é deixada de canto um pouco, aqui no novo ano, e oscila dentro da própria narrativa basicamente focada na sub-trama com a  jornalista-amante-casinho-amoroso Laura (Julianna Margulies) que está de volta. Quando não é isso, a personagem está em cena em embates verbais com o chefe, onde ela sempre o lembra sobre o não-relacionamento deles. 

E fica claro então que o terceiro ano de The Morning Show não é sobre romance. É sobre puxadas de tapete, confusões das mais surreais, e claro, a velha e boa disputa por poder.

É uma pena que boa parte da dinâmica Alex e Bradley tenha perdido a força na medida que a rivalidade feminina entre as duas, felizmente, tenha ficado de lado para dar espaço para o sentimento de sororidade. E é aí que a série usa o personagem de Crudup para ser a figura polêmica da vez.

Jon Hamm, Jennifer Aniston, Mark Duplass e Tig Notaro em cena de The Morning Show.
Foto: Courtesy of Apple.

A entrada do carismático Jon Hamm como o Paul, um bilionário que tem o interesse em comprar o canal e tudo que vem com ele (os filmes, os programas, o serviço de streaming e os problemas) e que faz tentar fazer alianças com todos os personagens que conseguir, e da nova apresentadora Christina (Nicole Beharie), uma ex-atleta olímpica que assume a bancada e promete não abaixar a cabeça para as peripécias corporativas da UBA, dão um gás para as novas relações que já vimos anteriormente, mas sinto que o terceiro vive por apagar pequenos incêndios a cada episódio que são resolvidos ali mesmo, em questões de minutos que foram apresentados, sem muitas preocupações.

E no começo da temporada temos um monte deles. É o caso dessa dança que Paul e Cory dançam sobre essa venda bilionária, a ida ao espaço da empresa do ricaço como um seguimento do programa matutino, depois temos problemas com o conselho de administração da empresa liderado por Cybill (Holland Taylor), um ataque de hackers que sequestram todos os documentos, programas, senhas, e mails dos funcionários e cria o caos no canal com segredos expostos de todo mundo. A palavra é caos.

Mas o que seria momentos em que a trama se desenvolvesse de forma orgânica com calma, tudo é jogado rapidamente ao longo dos episódios, onde tudo se desenvolve numa velocidade muito grande. Assim, ao mostrar algum personagem em um conflito momentâneo que já é resolvido, e vida que segue, The Morning Show não leva tempo para se criar, trabalhar esses conflitos e a complexidade que alguns deles têm e exigem.

Por um outro lado, o novo ano dá a chance para novos personagens ganharem um pouco mais de destaque, por conta das alianças que são bem criativas e do sentimento instintivo de alguns deles em se manterem no jogo, seja da produtora Mia (Karen Pittman) que ganha muito mais tempo de tela na medida que as bombas vivem por explodir no seu colo, ou até mesmo da chefe de relações públicas Stella (Greta Lee) que mostra que não deve seguir o caminho do seu chefe neste cargo.

No final, fica claro que The Morning Show parece ter tantos nomes conhecidos no elenco para prestarmos atenção que nenhuma trama, ou arco é efetivamente bem desenvolvido no novo ano. Claro, a série continua viciante, deliciosamente maratonável, entrega um começo bem mais interessante de acompanhar do que a estreia do segundo ano, e é mais uma vez marcada por boas atuações. Mas cada vez sinto que The Morning Show se perdeu no que queria contar,  como queria contar essa história, e qual seria essa história. 

A 3ª temporada de The Morning Show chega com 2 episódios iniciais em 13 de setembro e depois exibe episódios semanais todas às quartas-feiras.

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