Oppenheimer | Crítica: Nolan debate questões morais através de um grande momento histórico

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O diretor Christopher Nolan sempre foi um que prezou pela qualidade técnica de seus filmes antes de mais nada. E longa, após longa, Nolan se supera e realmente acerta em cheio quando se trata de toda a parte técnica. E claro, em reunir um elenco de nomes conhecidos em Hollywood. De A Origem (2010), para Interestelar (2014) e até mesmo Tenet (2020).

Mas acho que o diretor nunca apresentou nada igual Oppenheimer (2023).

E Oppenheimer realmente pega tudo isso que o diretor sabe fazer e cozinha de uma forma espectacular de se assistir. O longa faz um grande desfile de atores conhecidos do grande público para realmente contar essa história super densa sobre J. Robert Oppenheimer e seu maior legado para a História: o desenvolvimento da bomba atômica.

E para isso, Nolan adapta a história vista no livro American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer em um impactante longa de 3 horas e que realmente sabe ir numa crescente explosiva na medida que o diretor debate todas as questões morais, através do olhar do protagonista e interpretado por um excelente Cillian Murphy.

Emily Blunt e Cillian Murphy em cena de Oppenheimer.
Foto: © Universal Pictures. All Rights Reserved.

Só que Nolan, mais uma vez, não faz um filme fácil de se assistir e digerir. Mesmo que visualmente belíssimo, bastante imersivo (vimos o longa em uma sessão em IMAX e o som realmente se destaca) e que realmente prende o espectador do começo em que o logo da Universal Pictures começa, até, 3 horas depois, quando vemos a tela preta e os letreiros “Escrito e Dirigido Por Christopher Nolan” subirem, Oppenheimer exige muito do espectador.

Exige conhecimento prévio, de História, política, funcionamento do governo americano, e claro, um tiquinho de física. Oppenheimer talvez não seja um filme que é preciso fazer uma lição de casa antes ou depois, para entender, mas é bom preparado para realmente ter uma experiência completa, e cair de cabeça em um longa cheio de personagens que são apresentados a rodo (onde uma nova carinha conhecida surge, entre vencedores do Oscar, atores que participaram de grandes franquias e blockbusters), numa história em zig-zag e que apresenta diversos conceitos e questões a todo mundo.

A escolha narrativa de Oppenheimer, em contar partes da história em preto e branco e partes de forma colorida, de certa forma, ajudam a deixar o longa com um charme único, mesmo que Nolan não consiga deixar claro para o público efetivamente o motivo dessa decisão. E assim, corre com a introdução dos personagens, de quem é, quem é, e as motivações que levaram não só J. Robert Oppenheimer (Murphy, ótimo, e talvez o melhor papel da carreira do ator) para cuidar do Projeto Manhattan, mas também de todos os outros personagens que circularam a operação militar que marcou, e definiu a Segunda Guerra Mundial.

“Quem se aproxima muito do sol…. ” E assim, leva um tempo para Nolan apresentar o rol de personagens que circulam pelo longa e isso infla Oppenheimer para ter as 3 horas de duração e que poderiam muita bem serem enxugadas. Dos colegas de Oppenheimer em Universidades, de físicos conhecidos como Albert Einstein, para nomes do exército, e da política americana, Oppenheimer vai por apresentar essa teia de pessoas, lugares, e fatos de uma forma que Nolan aos poucos amarra tudo isso, entre cenas do passado do protagonista, com cenas do presente, onde o Admiral Lewis Strauss (Robert Downey, Jr. extremamente bem) depõe para uma comissão do senado americano sobre  Oppenheimer. 

Assim, Nolan apresenta não só Oppenheimer, a figura humana, complexa, inteligentíssima, com ambições enormes, seu relacionamento conturbado com sua esposa Kitty (uma ótima Emily Blunt, com poucas, mais poderosas cenas),  mas também todas as engenhocas por trás da criação, de manter, e se manter o projeto Manhattan, liderados pelo General Leslie Groves Jr., (Matt Damon) e com todo o contexto do final da segunda guerra e a “ameaça comunista” que pairava no governo americano da época. 

Murphy realmente é o grande imã que une todos os personagens juntos, em suas tramas, e contextos, e todos os atores sabem jogar com o ator de uma forma muito interessante. Seja a sempre ótima Florence Pugh como a amante de Oppenheimer, a jovem Jean Tatlock com algumas cenas extremamente desnecessárias, Benny Safdie como o físico Edward Teller, Dane DeHaan como o General Kenneth Nichols e Jason Clarke como Roger Robb, o procurador que comanda as investigações contra Oppenheimer.

Robert Downey Jr. em cena de Oppenheimer.
Foto: © Universal Studios. All Rights Reserved.

Todos eles batem bola com Murphy, mas é quando Nolan resolve contar a história pelos olhos do ator, e consequentemente de Oppenheimer que Oppenheimer ganha uma certa camada muito mais interessante. Enquanto Nolan usa todo o talento de Murphy em tela e que realmente consegue segurar as pontas ao longo das 3 horas de filme, a história aqui contada precisaria ser melhor revisitada, mesmo que é agilmente contada e dinamicamente desenvolvida.

Mesmo que talvez faça isso de uma forma muito rápida ao apresentar e caminhar com as questões que apresenta, os pontos de vista do governo e do físico sobre a bomba e o que fazer com ela quando pronta, e claro a forma de como tudo se encaminhou e culminou naquele fatídico dia de Agosto de 1945. 

Claro, a expectativa para chegarmos, e vermos retratos em tela os momentos chaves, principalmente quando os testes para a bomba são realizados na cidade desértica de Los Alamos, onde todos os personagens ficam apreensivos se o dinheiro gasto (mais de 2 bilhões de dólares), o tempo gasto (2 anos para enriquecer o Urânio), e as ameaças da radiação, deixam o longa com um ar de suspense, bem interessante, e que se mesclam, com as cenas na audiência do Senado, e também com o interrogatório do próprio Oppenheimer, anos depois, enquanto o governo americano estudava se tiraria suas credenciais de segurança na medida que os EUA já tinham vencido a guerra e a grande preocupação era com a rival Rússia e os soviéticos que disputavam tudo, desde do espaço até armamento com o país.

Assim, Oppenheimer mostra a figura por trás de sua maior criação, a forma como o físico lidava com esse projeto tão grandioso e as consequências que trouxe para o mundo, e principalmente para as duas cidadezinhas japonesas. Por conta do tipo de história, a quantidade de atores conhecidos, e a duração, Oppenheimer poderia ter sido muito uma das maiores, mais interessantes, e caras minisséries já feitas na história, mas aqui Nolan aposta no cinematográfico, no poder se ver uma história como essa sendo contada na telona, para colocar uma luz em uma figura que realmente mudou os rumos da História para sempre. 

Avaliação: 4 de 5.

Onde assistir Oppenheimer?

Oppenheimer chega nos cinemas nacionais em 20 de julho.

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