Meninas Malvadas (2024) | Crítica: Nova versão faz o barro acontecer

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Engraçado já ter se passado quase 20 anos desde do lançamento de Meninas Malvadas e tanto o filme em si, como o time de produção, e até mesmo Hollywood, já conseguir olhar para atrás, refletir e trazer uma nova adaptação para essa história.

Talvez seja pela adaptação na Broadway, lá em 2018, que continuou a deixar o filme em evidência e ao longo dos anos atrair novos fãs para a obra ou até mesmo a popularização longa de Tina Fey nas redes sociais ao longo dos anos pelas pessoas que voltaram a revisitar a história com o advento do streaming e alavancou a importância cultural que de certa forma Meninas Malvadas ganhou.

Bebe Wood, Reneé Rapp e Avantika em cena de Meninas Malvadas.
Foto: JOJO WHILDEN/Jojo Whilden – © 2023 Paramount Pictures.

E agora logo no começo do ano, meio que de sopetão depois das greves em Hollywood terem acabado, a Paramount Pictures inicia 2024 com um novo Meninas Malvadas que serve com uma nova releitura do longa original de 2004 misturado com o musical da Broadway e algumas pequenas outras mudanças.

E confesso que mesmo com o trailer tendo escondido que o filme era um musical e tudo mais, eu entrei na sessão do filme meio: Hum o que será que vem aí? Mas, posso dizer que sim, o novo Meninas Malvadas faz o barro acontecer e entrega um filme divertido de se assistir.

E acho curioso que Fey tenha conseguido olhar para essa história mais uma vez e nos entregar, através de um novo prisma, uma história moldada da mesma história que fez sucesso lá em 2004 e que em 2024 esses mesmos temas continuam tão atuais.

Dos bordões, o famoso “barro” tão marcante da versão dublada, vindo do fetch do inglês, o “Entre no carro v*dia“, “No dia 6 de outubro e etc etc.”, “E nenhum para Gretchen Wieners. Tchau.“, para a história em si, tudo está lá nessa versão e fazem sentido estar lá, mas Fey os adapta para uma audiência mais moderna. 

Meninas Malvadas de 2024 atualiza a versão de 2004 e fez isso de uma forma completamente gostosa de se assistir. É como se você estivesse assistindo pela milésima vez o longa original com um grupo de amigos, que soubessem todas as falas, o que vai acontecer, e mesmo assim ficar surpreendido com as reviravoltas da trama que Fey apresentou lá atrás sobre uma jovem que estudou a vida toda em casa e que chega no colégio e precisa ter que lidar com as picuinhas, panelinhas, e adolescentes cheio de hormônios.

E de quebra o novo Meninas Malvadas tem espectáculos musicais coloridos, vibrantes e empolgantes. Melhor que isso? Só receber os doces de Natal no meio das aulas, arrasa Glenn Coco. As músicas são tão boas e combinam tanto com a forma como o filme tira sarro dele mesmo e também ri com ele.

E acho que talvez esse seja o principal acerto desse novo Meninas Malvadas. Em ser, e apresentar, um filme que não se leva nada a sério, e que não só homenageia o filme original, os filmes do gênero tão marcante dos anos 2000, mas também faz o espectador rir e lembrar com carinho da história e dos personagens tão icônicos. É quase como se o o novo Meninas Malvadas fosse uma grande paródia dele mesmo, mas uma paródia boa, quase como se fosse o filme original comentado com amigos sabe?

E o segundo dos acertos fica com a escolha do elenco. E aqui muito bem feito. Não tem como, Reneé Rapp (cantora e da série A Vida Sexual das Universitárias) é o grande destaque e emana um magnetismo em tela gigante. Da entrada da atriz como Regina George num número musical no meio da cafeteria para as peripécias que a líder do grupo das Plastics vive no longa, Rapp é show a parte do longa.

As expressões faciais, o tom debochado, e uma Regina George mais humanizada são o marco que Rapp coloca na personagem aqui nessa versão e que se distancia da tão marcante atuação de Rachel McAdams lá em 2004. É uma das poucas que consegue fazer isso no filme, onde fica claro que Rapp ressignifica a personagem para uma nova geração.

E não só ela está bem, o elenco inteiro se tá bem de certa forma. Da sempre ótima Auliʻi Cravalho, para o novato Jaquel Spivey, e passando por Bebe Wood, Avantika, Angourie Rice todos estão bem e confortáveis aqui e tem seus momentos.

Claro, alguns destacam mais, outros menos, mas mantém as essências dos personagens originais.

Cravalho e Spivey entregam ótimos novos Jennis e Damian e realmente seguram a trama, ao não só terem mais destaque do que esses personagens tiveram no longa de 2004, mas agora por assumirem a função de contarem a história eles mesmos. E Cravalho garante uma das melhores músicas do filme, lá pelos momentos finais.

 Jaquel Spivey, Angourie Rice e Auli’i Cravalho cena de Meninas Malvadas.
Foto: JOJO WHILDEN/Jojo Whilden – © 2023 Paramount Pictures.

Até mesmo Fey como a professora Sra. Norbury e Tim Meadows como o diretor Duvaal estão bem e são dois que retornam do filme original. Já Jenna Fischer como a mãe de Cady, Busy Philipps como a mãe de Regina, e Jon Hamm como o treinador Carr, estão ali para se divertirem em poucas cenas.

Rice mesmo que não tenha o mesmo estilo de Lindsey Lohan se garante muito bem, principalmente em cenas com Christopher Briney, o Aaron Samuels da vez que a segue a linha caladão e boa parte do filme entra mudo e sai calado.

Rice parece combinar mais quando está cercada do elenco e mesmo que desapareça ao lado de Spivey e Cravalho se garante nas cenas com Rapp, Wood (como uma Gretchen meio mal desenvolvida) e Avantika (como Karen que se apoia numa piada só) principalmente quando vemos Caddy entrar no mundinho das plastics. Em grupo, como falamos, todo mundo funciona, e as passagens são muito boas de ver se desenrolar.

Acho bacana a forma como o novo Meninas Malvadas lida com a questão de “obsessão” entre essas meninas, principalmente na relação Caddy e Regina, e principalmente já tendo se passado 20 anos do original e agora vemos o longa com uma nova perspectiva, uma pós Saltburn, por exemplo, e que está em evidência.

Mas Fey parece ter compreendido isso e a atualizado a narrativa para os anos 2020, com a geração tiktok, a cultura do cancelamento, e tudo mais. E a dupla de diretores novatos Samantha Jayne e Arturo Perez Jr. fazem de tudo para deixar o longa com um aspecto dinâmico, frenético, e usam um toque mais moderninho para capturar nossa atenção com jogadas de câmera vinda das redes sociais.  

E isso contribuí para que Meninas Malvadas seja um filme que não tem tempo de respiro, rápido, rápido, rápido, e que no final, fica claro que foi um longa feito para os fãs e apoiado na nostalgia que tem dominado Hollywood nos últimos tempos.

E para isso, os envolvidos garantem que por mais que o espectador já conheça a história vai passar bons momentos na sala de cinema. No final, faz uma aposta segura no meio de tantos conteúdos, seja na TV, no streaming, e até mesmo nos cinemas, mas uma aposta certa, assim como saber resolver uma equação e saber que o limite não existe. 

Nota:

Meninas Malvadas chega nos cinemas nacionais em 10 de janeiro em sessões de pré-estreia.

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