Flamin’ Hot | Crítica: Uma comédia deliciosa de se assistir mesmo que não apimente as coisas

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“Arde, mas arde bom?” Temos que admitir que uma coisa que Flamin’ Hot: O Sabor Que Mudou A História (Flamin’ Hot, 2023) acerta é na representação da comunidade latina sobre os eventos contados aqui. Bem mais do que ser uma biopic tradicional, Flamin’ Hot acerta em contar de uma forma divertida e espirituosa a história de um faxineiro que teve a ideia de criar o Flamin’ Hot Cheetos e assim conquistar o mercado latino dos EUA.

Jesse Garcia em cena de Flamin’ Hot: O Sabor Que Mudou A História.
Foto: Crédito Photo by Emily Aragones. Courtesy of Searchlight Pictures. © 2023 20th Century Studios All Rights Reserved.

Poderia parecer simples assim, certo? Claro, o roteiro Lewis Colick e Linda Yvette Chávez dá uma suavizada em algumas situações, não apimenta algumas passagens como deveriam, e tudo mais, mas no final, é por conta do carisma que o elenco oferece para contar essa história de superação e de um underdog americano que dá o sabor para o longa, faz de Flamin’Hot ser uma deliciosa comédia e uma aposta segura para se gastar umas 2 horas no streaming.

E um ótimo Jesse Garcia como Richard Montañez é o grande chamariz aqui. Eu não descartaria a presença do ator em premiações como um Globo de Ouro, por exemplo. E Flamin’ Hot ainda tem a presença de Tony Shalhoub como Roger Enrico, que também rouba a cena toda vez que aparece. Assim, ambos estão realmente muito bem e realmente dão o tom mais cômico para o longa, sem dúvidas. Seja quando vemos Richard contar essa história, e que, às vezes, ele pode não ser o narrador mais confiável possível, e até mesmo alguns momentos mais espontâneos (ou que se passam de espontâneos) são o que ajudam a deixar essa trama fluir de forma bastante interessante de se assistir. 

Como falamos, talvez, o passado de Richard tenha sido suavizado, desde da infância cheia de abusos, com o pai Vacho (Emilio Rivera) na sua cola,  ou o envolvimento do crime com o colega Tony (Bobby Soto), mas Flamin’Hot se apoia na mudança brusca que esse descendente de mexicanos teve e que ao se apoiar em suas raízes viu sua vida mudar para sempre. Fica claro que o longa mostra Richard como um ser humano complexo, mas que não se aprofunde muito em ir em todos os ângulos desse prisma.

O mais interessante é que Flamin’Hot compreende que as coisas não caíram no colo de Richard de uma hora para outra, e realmente tenta focar mais no aspecto positivo dessa história do que na parte mais dramática, seja na busca por empregos, nas consequências que algumas políticas da administração Reagan causaram na comunidade latina, e claro no preconceito que parte da população sofria no final dos anos 80 e início dos anos 90.

Tony Shalhoub em cena de Flamin’ Hot: O Sabor Que Mudou A História.
Foto: Photo by Anna Kooris. Courtesy of Searchlight Pictures. © 2023 20th Century Studios All Rights Reserved.

E então Flamin’ Hot coloca um temperinho aí e mostra o lado mais família, super importantes para nós latinos, de comunidade, de acolhimento, de ajudar uns aos outros, e também se meter na vida um do outro.  

E a direção de Eva Longoria, consegue capturar bem esses sentimentos na medida que vemos Richard, a esposa Judy (Annie Gonzalez, também muito bem) e os filhos na busca pela criação do molho especial para a criação do salgadinho que mudou a vida dessa família. as isso é só para a metade do longa, e até lá temos uma contextualização contada por Richard de como ele foi parar naquela fábrica, e como ele conseguiu o emprego, precisou lidar com o chefe meio sem noção (um ótimo Matt Walsh de Veep), e que conseguiu manter durante quase 10 anos, e aprendeu todos os macetes da fabricação dos salgadinhos com o colega Clarence (Dennis Haysbert), o único engenheiro negro do local. 

E como falamos a direção de Longoria consegue capturar bem essa essência acolhedora, falante, que os latinos tem. Principalmente quando vemos a apresentação de quem é quem na fábrica, onde temos como se fosse uma cena de filme de colégio, onde cada um está em uma mesa, e a câmera de Longoria, se movimenta para apresentar cada um no melhor estilo Meninas Malvadas (2004).

Brice Gonzalez, Annie Gonzalez, Jesse Garcia e Hunter Jones em cena de Flamin’ Hot: O Sabor Que Mudou A História.
Foto: Crédito Photo by Emily Aragones. Courtesy of Searchlight Pictures. © 2023 20th Century Studios All Rights Reserved.

Assim, Flamin’Hot tem um pouco de contar essa história de uma forma mais fabulesca, e um pouco mais exagerada, principalmente quando Richard nos conta como foram as reuniões dos executivos da área corporativa em que ele narra com a sua própria voz, assim como Luís (Michael Peña) faz nos filmes do Homem-Formiga, o que não deixa de ser extremamente divertido.

Afinal, é isso, que no final que acaba por dar um sabor maior para Flamin’Hot e não o deixar com carinha de documentário, sabe? Demora para o nosso paladar acostumado com as biopic tradicionais e dramáticas, compreender o que Flamin’Hot, Longoria e o elenco quer apresentar, e a forma como quer contar essa história. No final, é como o salgadinho que vemos no filme, arde, te pega desprevenido, mas depois você percebe que é bom e não quer parar de comer, aqui, no caso, assistir.

Avaliação: 3 de 5.

Flamin’ Hot: O Sabor Que Mudou A História está disponível no Star+

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