domingo, 06 julho, 2025

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F1 | Crítica: Quando o filme de propaganda não parece um filme de propaganda

Com F1 (2025), o filme de Fórmula 1 da Apple, fica claro, e agora mais do que nunca, que o diretor Joseph Kosinski é um dos novos nomes que consegue sim dirigir um filme que transpira, grita e diz cinema. Depois de entregar diversas e espectaculares cenas alguns anos atrás com Top Gun: Maverick, agora o diretor se supera com F1 e acelera para entregar um dos filmes mais empolgantes do ano. E também um dos mais bonitos de se assistir na telona e compartilhar a experiência coletiva que é ir ao cinema ver um trabalho como o que é entregue aqui com esse.

Damson Idris e Brad Pitt em cena de F1. Foto: Courtesy of Apple.

E basicamente, Kosinski consegue reunir diversos fatores para que tudo consiga correr de uma forma bastante orgânica que se completa para fazer F1 ser, acontecer, e entregar a experiência visual que acaba por ser. Da escalação de Brad Pitt para o papel principal, onde o ator é um dos poucos últimos grandes astros de cinema de Hollywood das antigas (ao lado de Tom Cruise que Kosinski trabalhou em Top Gun 2), para o restante do elenco de apoio que consegue entregar bons personagens coadjuvantes, e, até mesmo, para a trama do longa (créditos para Ehren Kruger que escreve o roteiro depois de ter trabalhado com Kosinski em Top Gun: Maverick) que foge em ser apenas um filme propaganda e entrega uma história que realmente vale a pena querer acompanhar na telona. 

Gravado em diversas corridas de Fórmula 1 ao longo dos últimos anos, F1 aproveita da recriação de um mundo igual ao nosso, coloca nesse tipo de universo paralelo fictício nomes conhecidos do público dentro do esporte, entre pilotos (Lewis Hamilton, Max Verstappen, Charles Leclerc), executivos (Stefano Domenicali, o CEO da Formula One Group e outros lideres das escuderias) e outras celebridades (os irmãos Hemsworth) que inundam os palcos durante a temporada de corridas, e faz parecer que estamos vendo um documentário e não um filme de ficção.

Mas não são somente esses easter-eggs, essas referências e piscadelas que fazem o longa acontecer e sim todos os outros fatores citados acima. F1 acaba por ser um longa onde cada peça se encaixa de uma forma muito interessante de se acompanhar na medida que vemos Sonny Hayes (Pitt, muito bem), um piloto das antigas ser recrutado para trabalhar novamente com Ruben Cervantes (Javier Bardem também muito bem, mesmo que com um visual e uma coloração de cabelo meio Silvio Santos), um ex colega dos seus tempos áureos de corrida e que agora, 30 anos depois, e algumas polêmicas envolvidas, retorna como o segundo piloto da escuderia que Cervantes agora é o chefão.

A chegada de Sonny no time ficcional da APXGP funciona como um tipo de carta na manga para tentar competir com nomes conhecidos do automobilismo como Ferrari, McLaren, Mercedes, e tentar ter algum destaque no restante da temporada, onde descobrimos que a escuderia está em último lugar e precisa muito de pelo menos uma vitória. E assim F1, coloca o personagem de Pitt para bater de frente com o jovem, e estrela em ascensão no esporte, Joshua Pearce (JP para os íntimos, aqui interpretado pelo novato Damson Idris).

O texto do filme então corre para diversas subtramas e apresenta os outros integrantes da equipe que vão fazer de tudo para a APXGP ganhar pelo menos uma corrida e não ser vendida no final da temporada. Esse o grande norte que F1 ruma do começo do filme para o final. É como se F1 pegasse uma página do textbook da série Ted Lasso (também da própria Apple) e aplicasse aqui em um outro esporte, mas que na sua essência segue a mesma linha narrativa: É a a introdução de novo membro do time, que assume um cargo de liderança, e precisa fazer com que o time se una para um objetivo em comum, onde eles vão bater cabeças, num primeiro momento, para depois se entenderem e verem que trabalhando juntos eles conseguem fazer com que a equipe conquiste aquilo que eles buscam e acabam por darem o melhor de si.

Javier Bardem e Brad Pitt em cena de F1. Foto: Courtesy of Apple.

F1 faz um bom trabalho em apresentar seus personagens, suas motivações, suas funções no time, seja a diretora técnica Kate (Kerry Condon), o diretor geral Kaspar (Kim Bodnia), ou, até mesmo, os mecânicos do time Dodge (Abdul Salis) e Jodie (Callie Cooke) e como eles se encaixam na trama. Juntamente com os personagens de Pitt e Bardem, o longa junta todos eles com as tais corridas que faltam para a temporada finalizar que são performadas de uma forma visualmente muito bacana de assistirmos.

Afinal, F1, mesmo que tenha cara de filme propaganda, consegue entregar um que não soe tão descarado igual foi com Gran Turismo: De Jogador a Corredor (2023). Afinal, é por conta da narrativa que Kosinski consegue nos fazer sentir que estamos lá com os personagens, tanto quem pilota, quanto quem tá no grid, nos boxes, e nos camarotes dos executivos que são representados pela figura de Peter (Tobias Menzies) que faz parte do Conselho Administrativo do time.

Assim, fica claro que as cenas de corrida são parte crucial e fundamental da trama e que se desenvolvem de uma maneira que agitam e movimentam a história para frente. É como se estivéssemos em um musical e vemos a história acelerar ao longo das trocas de embreagem, das finas linhas de tintas que os carros tiram um dos outros, dos acidentes, e da forma como Sonny Hayes burla as regras do campeonato para fazer com que a APXGP ganhe alguns pontinhos na reta final da temporada. 

Ao mesmo tempo que o longa foca bastante nas corridas, e tem passagens de corridas bem longas, a trama também usa bastante tempo para apresentar momentos e narrativas que envolvam as formas como esses personagens vão trabalhar em suas relações depois da chegada de Sonny, onde agora eles precisam decidir como vão trabalhar juntos, apesar de suas diferença, onde é claro que F1 também leva um tempo para intercalar a vida pessoal e a profissional desses personagens que se embolam aqui igual quando o safety car aparece na pista.

Pitt está ótimo, o mesmo vale para Bardem e para Condon, mas talvez fique no ator quase novato Damson Idris, a chance de mostrar para que veio. Idris usa a seu favor a forma como Pearce é apresentado no filme, a relação com o esporte, a relação com a mãe (Sarah Niles vinda de Ted Lasso) e com o empresário/agente (Samson Kayo), e se aproveita dessa camada narrativa e entregar mais do apenas um jovem millennial que quer crescer na carreira de uma forma muito rápida.

Como falamos, a narrativa desenvolvida é crucial para entendermos onde esses personagens começam (no ponto A) e para onde eles vão parar (no ponto C) enquanto passam por diversas situações (que vamos chamar de ponto B) e que F1 consegue contar juntamente com as corridas cheias de emoção que permeiam a trama na medida que esses personagens encontram o ponto de apoio entre si.

E no meio de algumas reviravoltas na narrativa (traições, espionagem industrial, pessoas deixando as pistas depois de acidentes), algumas surpresas, e até mesmo alguns outros momentos que podem soar um pouco mais manjados, F1 vai costurando sua história na medida que vemos as últimas corridas da temporada moldarem o destino não só da equipe da APXGP, mas também de quem faz a APXGP ser o que ela é: seus funcionários. Sejam eles os corredores, os executivos, ou quem trabalha nos bastidores.

No final, F1 tem cenas de realmente tirar o fôlego, que são apresentadas em tela da maneira mais grandiosa possível, num ótimo uso de como uma boa trilha sonora faz totalmente a diferença e aqui entrega, sem dúvidas, uma das coisas mais legais do ano.

Avaliação: 4 de 5.

F1 chega em cartaz nos cinemas nacionais em 26 de junho.

Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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