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Como Treinar O Seu Dragão | Crítica: Quando o copia e cola funciona

Quando o copia e cola da animação para live-action funciona. Nossa crítica de Como Treinar O Seu Dragão.

É curioso pensar que a Universal Pictures tenha surgido como a grande concorrente para a Disney em termos de briga de cachorro grande de estúdios em Hollywood, onde o live-action de Como Treinar O Seu Dragão (How To Train Your Dragon, 2025) é mais uma página neste livro de receitas que a outra gigante da mídia do mercado tem seguido.

Afinal, o primeiro Como Treinar O Seu Dragão, a animação, foi lançado em 2010 e agora nem 20 anos depois já ganha tratamento em live-action. E aqui, foge um pouco do que a rival tem feito, e entrega um copia e cola espectacular e visualmente de tirar o folêgo. E se Como Treinar O Seu Dragão capricha em fazer uma excelente transposição de animação para o mundo real e entrega aquilo que queríamos ver (muitos dragões), a versão em live-action se garante também na narrativa, afinal, se o roteiro da animação já era bom, já era redondinho e pouco precisava de ajustes para contar essa história de amadurecimento, pertencimento e amizade, na versão em live-action essa foi a menor preocupação do time de produção. 

Cena de Como Treinar O Seu Dragão. Photo Credit: Universal Pictures – © 2024 Universal Studios. All Rights Reserved.

Já que é como se o filme fosse um grande conto de fadas, ou de fantasia, focado na relação pai e filho, em uma narrativa um pouco mais distante, e menos explorada, assim por dizer, do que os filmes em live-action feitos lá no outro estúdio. Mas por que o copia e cola funciona tão bem aqui em Como Treinar O Seu Dragão? Talvez, seja pelo retorno do diretor e roteirista Dean DeBlois no comando do projeto (a animação foi co-dirigida por ele e Chris Sanders que lançou semanas atrás o live-action de Lilo & Stitch), onde fica claro que DeBlois é a mente que arquiteta tudo e sabe a força, e o que poderia ser ajustado, na versão em live-action.

DeBlois entende que no fundo, no cerne, de Como Treinar O Seu Dragão está nos personagens humanos, mais do que apenas nos seres voadores que permeiam e estão no título do longa. E ao entender isso, DeBlois passou para o primeiro desafio desse projeto: a escolha do elenco.

E escolher nomes certos foi primordial para isso e acaba por ser mais um dos acertos, talvez, o maior acerto do live-action. A começar pelo jovem Mason Thames (em alta aqui e depois no final do ano com O Telefone Preto 2 também da Universal Pictures) que agora realmente se firma como uma nova estrela em ascensão do time novos atores em Hollywood. Thames está muito bem e faz um Soluço divertido, atrapalhado e desengonçado, replicando bastante aquilo que vimos na animação anos atrás. E é muito bom vermos um ator com o mesmo porte físico que Tom Holland e que não seja o Tom Holland. É bom mudar e variar, mesmo que o cabelo do personagem tenha me irritado em diversas cenas. 

O mesmo vale para a jovem atriz Nico Parker que rouba todas as cenas como a guerreira em treinamento Astrid numa das melhores escolhas possíveis para a franquia. Se for chorar, melhor ir dormir, haters, porque Parker toda vez que está em tela emana uma presença extremamente convidativa para o espectador querer acompanhar a personagem ao longo do filme. E faz um contra ponto muito bacana de se assistir com Thames.

O mesmo vale para o grupinho de guerreiros que anda com a dupla no longa (Gabriel Howell, Julian Dennison, Bronwyn James e Harry Trevaldwyn) e que dá um ar mais jovial e teen para o longa e ajuda a dar um sentimento de longa de fantasia dos anos 2000, onde diversas franquias se deram bem como Harry Potter, Jogos Vorazes e Percy Jackson (sendo que todos voltaram anos depois para os holofotes).

Cena de Como Treinar o Seu Dragão. Photo by Helen Sloan/Universal Pictures – © Helen Sloan/Universal Pictures

E o elenco adulto em Como Treinar O Seu Dragão também se destaca. A ideia de trazer Gerard Butler de volta como o Stoick depois do ator ter dado voz para o personagem na animação apenas exemplifica como foi bom deixar DeBlois a frente da versão em live-action. E o mesmo vale para o divertidíssimo Nick Frost como Gobber que realmente tem bons momentos e que trazem um humor bastante condizente para a forma como longa quer contar essa história.

E é como se Como Treinar O Seu Dragão fosse uma máquina de acertos, um atrás do outro, afinal, se os visuais são incríveis e o elenco tem caracterizações perfeitas, os efeitos visuais dos dragões são 1000x vezes melhores e usados aqui a rodo do que qualquer bom episódio de Game Of Thrones. E isso transpira em tela em Como Treinar O Seu Dragão, do momento que o dragão preto surge nos céus de Berk, e a trama vai construindo o mistério do seu visual aos poucos na medida que o jovem Soluço encontra com a criatura, já abatida, no meio da floresta. 

Mas quando os olhos verdes, os dentes afiados e a coloração escura e cheia de camadas (e que são visíveis em tela) tomam conta da telona e a trilha sonora entra no talo, é impossível não se emocionar (principalmente se você for fã da animação igual muitos que estavam na minha sessão). É o ápice dos efeitos visuais para criaturas mágicas. E se era atual lá nos anos 2010, a trama de Como Treinar O Seu Dragão continua ainda mais relevante em termos de segregação de povos, perseguições e pré-conceitos e julgamentos e sinto que o time de roteiristas do live-action apenas soube amplificar ainda mais as questões, ainda mais no contexto social e político que o mundo vive, e acertam, principalmente, ao retratar a população da cidadezinha viking que a trama se passa e que vive um conflito com os dragões na região.

Assim, na medida que vemos Soluço encontrar formas de não só ajudar o dragão Banguela a se recuperar, o personagem usa as lições valiosas que aprendeu com a criatura para se destacar na escola de treinamento, uma espécie de Hogwarts de dragão, antes que as coisas vão de mal a pior e uma guerra entre os vikings e os dragões acontece. 

Acho que a grandiosidade mostrada nos momentos finais de Como Treinar O Seu Dragão são mesmo feitas para impressionar, dos momentos da revelação do grande vilão do filme, para batalha homem vs dragão, até mesmo para o clímax narrativo do filme com Soluço e Banguela em que é impossível não soluçar, e precisar secar as lágrimas, com os personagens e o desenvolver da história.

No final, Como Treinar O Seu Dragão entrega uma versão realista, mais madura e visualmente belíssima, para uma história que deve ser novamente a porta de entrada de muitos jovens para o mundo da fantasia. E para os mais velhos, da geração animação, o live-action acaba por ser um prato cheio de nostalgia, feito para reviver uma aventura para lá de divertida.

Afinal, a Universal Pictures vai capitalizar e muito com esse, com a sequência, com os produtos que vão ser vendidos do live-action, com animação que volta a estar em alta, anos depois que a trilogia acabou, e ainda poderá usar o live-action como parte nos parques do estúdio. Como Treinar O Seu Dragão acaba por ser a sinergia perfeita de como treinar o público para abraçar uma nova (antiga) propriedade intelectual lucrativa. 

Avaliação: 3.5 de 5.

Como Treinar O Seu Dragão já está em cartaz em sessões antecipadas e amplia o circuito em 13 de junho.

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Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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