The Buccaneers – 1ª temporada | Crítica: Bridgerton só que teen e com pegada mais feminista

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Logo nas primeiras cenas de The Buccaneers, uma das personagens diz que não quer ser a protagonista dessa história e que histórias assim terminam em romance ou tem tragédia.

The Buccaneers não deixa de ser uma história de romance. Mas não o romance tradicional e sim um outro tipo de amor. E por mais que a atração tenha uma pegada moderna e bastante feminista, não deixa de por percorrer todos esses temas, mesmo de uma forma diferente do que tem pipocado na TV nos últimos tempos.

Afinal, The Buccaneers acaba por focar sua atenção para outras tramas e é como se tivemos a série Bridgerton, que querendo ou não fez o gênero voltar a ter destaque na TV, só que se tivesse sido dirigida por Sofia Coppola (em alta novamente por conta do longa Priscila). E esse é basicamente o DNA da atração, já que em um dos episódios desse primeiro ano, uma outra personagem diz que é possível se interessar pelos conflitos do mundo e ainda se preocupar com qual vestido usar numa festa aqui na atração representado por baile dado por uma duquesa britânica.

Assim, é com a forma como a criadora da atração Katherine Jakeways resolve adaptar a história no livro inacabado de Edith Wharton que a atração se destaca das outras produções sobre o tema. Já tendo sido adaptada nos anos 90 como uma minissérie, a nova versão de The Buccaneers é mais teen, mais moderna, e não deixa de ter romance, ter reviravoltas, ter casais para torcemos e tudo isso no grande plano de fundo, e que acaba por ser o grande norte da atração: a amizade dessas jovens americanas que vão para a Inglaterra na época dos eventos sociais da temporada, ou seja, quando as jovens (e as mães das jovens) estão à procura de pretendentes.

Conheça então Nan St. George (Kristine Froseth), sua irmã Imogen (Imogen Waterhouse) e ainda as irmãs Elmsworth, Mabel (Josie Totah) e Lizzy (Aubri Ibrag), e também Conchita (Alisha Boe) que acaba de realizar o seu felizes para sempre quando, logo nas primeiras cenas do primeiro episódio, vemos a jovem se casar com o Lord inglês Richard Marable (Josh Dylan) em uma cerimônia cheia de flores, bebidas, bolos, e tudo mais.

Alisha Boe, Josie Totah, Kristine Frøseth, Aubri Ibrag e Imogen Waterhouse em cena de The Buccaneers.
Foto: Courtesy of Apple.

The Buccaneers então apresenta essa história, e essas personagens, com risadinhas, músicas pop (com a cantora teen Olivia Rodrigo na trilha do trailer) misturadas com os cenários de época, figurinos impecáveis, e tudo que faz parecer que a vida é cor de rosa para essas meninas. Mas estamos em 1870 e a realidade, e contexto social da época, faz com que essa bolha seja furada rapidamente, e temos as jovens jogadas em tramoias da alta sociedade, em disputas de classes que surgem, na medida que a Sra. St. George (Christina Hendricks) tenta incluir as filhas no baile da sociedade de Nova York. E as coisas mudam logo de cara quando Lord Marable, e sua recém esposa, convidam todas as jovens para uma visita para a Inglaterra. Então, estamos rumo ao antigo continente. 

O que parecia ser mais uma série sobre o choque de culturas entre dois países, se mostra uma história muito mais robusta e viciante de se acompanhar. Afinal, a chegada dessas jovens americanas na alta sociedade inglesa causa um certo choque, mas fica claro, que esse também não é foco da atração, mesmo que não deixe de ser divertido as poucas passagens que a trama aborda a questão. The Buccaneers parece pincelar tudo que já vimos por aí, mas ao fazer isso faz de uma maneira extremamente consciente de como quer incluir isso na trama para o desenvolvimento desses personagens.

É curioso como ao longo dos primeiros episódios da temporada (3 iniciais no dia 8 e depois o restante de forma semanal na plataforma da Apple) conseguem focar na história em Nan (Froseth em um trabalho encantador), a que menos ligava para os eventos sociais, encontrar um marido e tudo mais, para o terror da irmã Jenny, e nos dois rapazes que surgem em sua vida, em momentos diferentes, os jovens e melhores amigos Theo (Guy Remmers) e Guy (Matthew Broome). E também no triângulo amoroso que se estabelece e como as dinâmicas se estabelecem entre eles (aqui, sem spoilers). Alerta de climão e plot twist.

Mesmo que Nan ganhe bastante destaque, o seriado, ao mesmo tempo, é também extremamente focado nas relações dessas jovens e nos percalços que elas vivem durante a visita a Inglaterra e também em momentos que estão de volta para os EUA, em Nova York.

The Buccaneers é mais sobre esse grupo em si, do que qualquer outra coisa, na medida que essas jovens precisam navegar nas amarras da sociedade, ao mesmo tempo que precisam descobrir quem são elas, seja em relação a quem elas querem ser, suas sexualidades, e o que elas querem fazer com suas vidas. 

Alisha Boe, Josie Totah, Aubri Ibrag, Josie Totah, Imogen Waterhouse e Kristine Frøseth (de costas) em cena de The Buccaneers.
Foto: Courtesy of Apple.

Do grupo principal, em termos de atuação, Froseth se destaca entre as demais por conta que a história realmente acaba por ser contada pelo olhar de sua personagem, onde a jovem atriz (vinda da minissérie Quem é Você, Alasca?) nos apresenta para uma personagem mais complexa e humana. qui é como se com Nan tivéssemos a combinação de todas as princesas da Disney da época da Renascença (Ariel, Bela, Jasmine) unidas aqui.

Já a dupla formada por Boe (vinda da série 13 Reasons Why) e Dylan (mais conhecido por seu papel Mamma Mia! Lá Vamos Nós de Novo) também estão muito bem e fazem um trabalho com seus personagens extremamente interessante de se assistir em um tipo jogo de morde e assopra.  Afinal, os dois atores entregam um paralelo com uma história real, do Príncipe Harry e de Meghan Markle e os eventos dos últimos anos que não dá para fugir, principalmente quando a dupla está de volta na mansão dos pais do jovem em Londres. 

Outro destaque fica com a jovem Totah (vinda de Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta)  que tem um arco narrativo também muito interessante de se acompanhar pela forma como os relacionamentos entre duas mulheres são retratados com o contexto da época. A trama é apresentada de uma maneira sutil, mas não deixa de entregar momentos bonitos para esse casal em formação.

Entre o elenco adulto, Hendricks brilha em todo momento que está em tela e sua personagem ganha mais função na trama por conta de um segredo que se desenvolve ao longo da temporada. Outro destaque fica com a atriz veterana Amelia Bullmore como a Duquesa de Tintagel está excelente e canaliza Maggie Smith em Downtown Abbey, outra série de época, que tem uma legião de fãs por aí. 

No final, The Buccaneers consegue entregar uma atração de época sobre bailes da alta sociedade inglesa que não precisa se apoiar em cenas mais provocantes para capturar a atenção do espectador. A atração acerta em entregar uma série mais robusta por conta de seus personagens carismáticos, arcos narrativos bem escritos e que guiam a história dessas jovens mulheres em busca de viverem a vida como elas bem desejam e longe das imposições da época, e da sociedade. A pergunta que fica é: será que elas vão conseguir isso? 

The Buccaneers estreia com 3 episódios iniciais em 8 de novembro e exibe um novo episódio toda quarta-feira no AppleTV+. Serão 8 no total.

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