Os Rejeitados | Crítica: Um aluno rebelde, um professor e uma cozinheira entram num bar….

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Um aluno rebelde, um professor que cheira a peixe e uma cozinheira em luto entram num bar…. poderia até ser um o começo de uma piada, mas é o plot principal de Os Rejeitados (The Holdovers, 2023).

O novo filme de Alexander Payne é o que podemos chamar de um filme que confia no seu taco. Estreou no festival de Telluride, que é importante claro na temporada, não é um Festival de Toronto (até que tenha passado por lá também) ou de Nova York, quando pensamos em festivais importantes para se dar o começo de uma campanha para os filmes nas premiações.

Mas pelo visto isso não foi um dos problemas para o filme que é excelente e se garante no boca-a-boca.

Dominic Sessa, Da’Vine Joy Randolph e Paul Giamatti em cena de Os Rejeitados.
Foto: Credit: Seacia Pavao / © 2023 FOCUS FEATURES LLC..

Tocante e engraçado, Os Rejeitados se apoia no elenco e realmente faz um daqueles filmes de estudo de personagens incrivelmente bem feito e executado. Muito se dá ao tom do longa com um aspecto de filme antigo e do roteiro de David Hemingson (que vem de séries como The Catch, Apartment 23 entre outros) que dá para o filme uma sensação serializada, afinal, conhecemos o trio de protagonistas para depois, ao longo das mais de 2 horas que o filme possui vamos por destrinchar tudo que aconteceu com eles.

E também conhecer mais sobre suas histórias, seus passados, e os motivos que levaram o jovem Angus (Dominic Sassa), o professor Paul (Paul Giamatti) e a cozinheira Mary (Da’Vine Joy Randolph) a passarem a noite de Natal sozinhos, quer dizer somente com a companhia um do outro, numa escola interna no meio do estado de New England. 

Assim, Os Rejeitados entrega um conto de natal que vai diretamente para a temporada de premiação, definitivamente, faz por merecer. Marcado por excelentes atuações, o longa surpreende pela forma como trata assuntos difíceis com um humor ácido e que realmente tem no seu ótimo texto um triunfo narrativo. E o diretor Alexander Payne em uma nova parceria com o ator Paul Giamatti (e de volta aos cinemas depois de anos no streaming com a série Billions) depois de terem trabalhado juntos em Sideways – Entre Umas e Outras (2004) consegue nos fazer estar dentro desse colégio e acompanhar tudo de perto com esses personagens. 

E as escolhas estéticas deixam o visual do filme como se realmente estivéssemos vendo um filme antigo, dos anos 70, e Payne toma excelentes decisões para vermos e nos aproximarmos desses personagens e suas histórias.

São um sucessão de pequenos erros, de momentos engraçados (mas não aqueles de nos fazer gargalhar, mas sim, ok isso foi engraçado) que escalonam de uma forma bem divertida e que compõem o mosaico de Os Rejeitados na medida que conhecemos mais sobre esses personagens, e em uma determinada parte do filme vemos eles deixarem os muros do colégio e partirem para uma aventura na cidade grande. 

Dominic Sessa e Paul Giamatti em cena de Os Rejeitados.
Foto: Credit: Seacia Pavao / © 2023 FOCUS FEATURES LLC..

A dinâmica entre Angus e Paul carrega o filme, e Sassi e Giamatti estão excelentes, onde o praticamente novato e o veterano carregam o filme todo com diálogos super interessantes e uma picuinha gigante. E é realmente essa relação professor e estudante que dita o tom do filme, e isso fica claro em diversas cenas, principalmente uma que em vemos o professor correr pelos corredores atrás do aluno.

O mesmo vale para Randolph que está absolutamente divina no papel. Suas cenas navegam entre as caras e bocas, os olhares de desaprovação para diversas coisas, e o contexto que sua personagem se encontra (depois de ter perdido o filho) apenas deixam o longa mais robusto em termos de narrativa, onde o passado, presente e futuro desses personagens se conectam na medida que eles passam as festas de final de ano juntos.

Quando deixamos o confim gelado da escola e o trio parte para as comemorações na casa de outra colega de escola, a sorridente Lydia (Carrie Preston, num papel pequeno mas extremamente memorável), as coisas vão se escalonando na medida que o passado, principalmente de Paul, é apresentado e vamos por ter um maior contexto da vida que ele teve depois que teve problemas na universidade que frequentou ele mesmo quando jovem. 

E até mesmo conhecemos mais do jovem Angus e de onde vem a rebeldia que ele se apresenta para o horror do padrasto linha dura que o quer colocar num colégio militar. Assim, por mais diferentes que esses dois personagens sejam, eles vão descobrir similaridades entre si e criam uma relação de amizade assim por dizer. 

Entre braços quebrados, flertes que não dão certo, e mentiras contadas para ex-colegas no meio das ruas de Boston, Os Rejeitados ganha ares mais dramáticos, onde fica claro que todos os personagens acabam por aprender um pouco mais sobre os outros, mas sem deixar o humor de lado na medida que a vida segue, depois dessa pausa momentânea que o final do ano paira sobre todos nós, o novo ano começa e algumas coisas mudam e outras continuam na mesma.

Mas o que fica claro no filme é que esses personagens vão precisar enfim lidar com os assuntos que eles andaram evitando ao longo das festas. Assim, esse recorte das vidas desse grupo parece ganhar novas camadas, onde, no final, todos eles saem mudados desses dias juntos e quem sabe para melhor certo? O final meio melancólico e triste de Os Rejeitados deixa a porta aberta inúmeras possibilidades e faz com que definitivamente gostaríamos de passar mais tempo com esses personagens e saber como vidas continuaram depois desse final de ano memorável que eles passaram juntos. 

Nota:

Os Rejeitados em cartaz nos cinemas nacionais.

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