O Último Duelo | Crítica: Versões da mesma história são contadas com intensas atuações de seus protagonistas

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Quantas versões de uma mesma história podemos ter? Aqui em O Último Duelo (The Last Duel, 2021) temos pelo menos três delas. Mas fica claro pela visão do diretor, o veterano de Hollywood Ridley Scott, só uma realmente importa, a versão da mulher que esteve no centro de uma história que pode ter passado nos tempos antigos, lá na longínqua França Medieval, mas que aqui ecoa fortemente com os tempos atuais e com os acontecimentos mais recentes impulsionados pelo movimento #MeToo, por exemplo.

Jodie Comer em cena de O Último Duelo
Foto: 20th Century Studios

O que realmente importa aqui é o que a jovem Marguerite de Carrouges, interpretada por uma impressionante Jodie Comer e talvez a melhor coisa do longa, sem dúvidas, queria dizer. Mas o filme faz isso, e mostra a complexa trama, em uma época onde mulheres eram tratadas como propriedade de seus pais e depois de seus maridos. Então a pergunta que fica é: Como fazer essa história ser contada pelas lentes dos tempos modernos?  Assim, o que temos é uma história com uma forma curiosa que é contada aqui em O Último Duelo. As escolhas que o roteiro que Nicole Holofcener, Ben Affleck e Matt Damon foi escrito e a forma como a trama é apresentada faz com que O Último Duelo consiga entregar um grande quebra cabeça para entendermos o que se passou nesse período da França Medieval e com essa história cheia de intrigas e disse me disse.

Holofcener, Affleck e Damon, os dois últimos também em papéis de atuação no longa, conseguem entregar em O Último Duelo, a mesma história dividida em três grandes partes, três grandes atos, que introduzem a trama pela visão de Sir Jean de Carrouges (Damon) onde vemos que ele mesmo sendo um nobre na corte francesa tinha seus deveres como Cavaleiro e precisava desesperadamente de dinheiro, começou a cortejar a jovem Marguerite (Comer), filha de um outro senhor de terras abastado mas não muito bem visto na corte do Rei Carlos VI  (Alex Lawther).

Jean e Marguerite se casam, mas a relação de Jean com o colega cavaleiro Jacques Le Gris (Adam Driver, muito bem como o habitual) se deteriora na medida que Le Gris começa a trabalhar com o nobre Pierre d’Alençon (Affleck). Uma visita inesperada de Le Gris para o castelo de Carrouges nos leva para a trama central do filme: o cavaleiro abusou da jovem Marguerite enquanto o amigo Jean estava em uma missão?

Assim, logo depois dessa grande introdução, dos personagens, suas relações, e motivações e tudo mais, o diretor Ridley Scott pressiona um pause na trama e volta a fita para contar as mesmas coisas que vimos nos últimos minutos, novamente, só que pela visão de outro personagem. É a mesma linha do tempo, os mesmos personagens, e o filme para no mesmo momento que a primeira parte: no julgamento de Le Gris perante ao Rei.

Matt Damon em cena de O Último Duelo
Foto: 20th Century Studios

Em resumo é como O Último Duelo fosse o filme do Caso Caso Richthofen só que com a história contada em um único filme. Mas aqui O Último Duelo é filmado com uma grande pompa em locações incríveis e que nos capturam para dentro do longa e da ambientação de época,  onde com o filme realmente o que temos, como falamos, montar um quebra-cabeça medieval e notar as diferenças entre as atitudes e os comportamentos e como a história muda de versão em versão. Na versão que temos Jean contando, ele é um cavaleiro destemido, honrado e que se sente perseguido pelo conde Pierre e tudo mais. Já na versão de Le Gris, o amigo é uma pessoa completamente diferente e sua esposa é uma que lhe dá mais atenção do que deveria. Essas são algumas poucas, das grandes diferenças que a primeira hora do filme se apresenta.

E então Scott nos faz simpatizar com esses personagens e com suas trajetórias até aqui e com a ajuda do roteiro, e das atuações desses talentosos atores, vemos a história ser completamente desconstruída pela visão de Marguerite, onde o longa ganha novos ares e nuances que não são vistas nas outras primeiras partes.. Claro, o sentimento de cansaço ao vermos a história se repetir mais duas vezes, o que faz o longa ser um filme extremamente longo em duração, são mais de 2h30, é gigante, mas de alguma forma me senti completamente fascinado por aqueles personagens e suas histórias e os paralelos que conseguimos tecer em termos de como essas diferentes atuações querem ajudar a conta essa história.

Comer realmente se destaca no meio de seus colegas masculinos, e em todas as três partes, entrega uma atuação diferente, mesmo que em todas uma é muito impressionante de se acompanhar na medida que a trama se desenvolve. Damon e Driver se escondem um pouco sem atuações mais extravagantes nos dois primeiros momentos, mas fica claro que são versões floreadas de seus personagens por conta deles mesmo estarem contando suas visões para a mesma história. 

Adam Driver em cena de O Último Duelo
Foto: 20th Century Studios

As três versões de unem na mesma trama, quando efetivamente temos Le Gris e Jean em combate, o último duelo que foi registrado na história da França, e que realmente deixa O Último Duelo com um ar épico ah lá Game of Thrones, ou até mesmo Gladiator um dos grandes destaques da carreira de Scott, muito interessante. O desenrolar da história acaba com que o filme termina uma nota mais agridoce e que nos choca em como as coisas funcionavam naquela época e como seriam diferentes (ou não!) dos tempos atuais.

Com um produção técnica caprichada e solidamente apoiada em boas atuações, O Último Duelo faz um longa que realmente prende atenção para contar essa história interessante e que chama a atenção.

Avaliação: 3 de 5.

O Último Duelo disponível exclusivamente nos cinemas nacionais.

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