Festival do Rio 2023 | Atiraram no Pianista | Resenha

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Atiraram no Pianista (Dispararon Al Pianista, 2023) abriu a edição 2023 do Festival do Rio.
Direção: Fernando Trueba e Javier Mariscal.

Sinopse: Um jornalista musical de Nova York embarca numa jornada em busca da verdade por trás do misterioso desaparecimento do virtuoso pianista brasileiro Tenório Jr. Uma história de origem comemorativa do movimento musical mundialmente famoso chamado Bossa Nova.

O filme retrata um período fugaz, repleto de liberdade criativa, em um ponto de virada da história latino-americana nos anos 1960 e 1970, pouco antes do continente ser engolido por regimes totalitários.

Foto: Sony Pictures Brasil. Courtesy of Festival do Rio.

O que achamos: Poderia ser melhor!

Por mais bonita que seja a animação, e por mais interessante que seja a temática, Atiraram no Pianista poderia ser muito bem um curta. Iria ser perfeito! Mas aqui precisamos trabalhar com o que temos e os diretores espanhóis Fernando Trueba e Javier Mariscal (vindos de Chico & Rita) nos entregam um longa-metragem. Sendo animado, ficcional e documental, a dupla resolve brincar um pouco com esse formato ao colocarem os depoimentos de diversas pessoas que se relacionam com o pianista brasileiro Francisco Tenório Jr. antes do seu desaparecimento nos anos 70 e que são contados então, de forma animada e dentro de uma história fictícia.

É uma combinação curiosa, ao mesmo tempo que falha em sua execução. Para quem não sabe, o músico Tenório Jr. estava em turnê pela Argentina, com Vinícius de Moraes e Toquinho, e desapareceu ao deixar o seu hotel em uma noite, bem no momento em que o país vizinho estava em golpe militar e iria sofrer anos terríveis de ditadura.

Como muitos, desapareceu e nunca mais foi encontrado. Um dos horrores de tempos sombrios que Mariscal e Trueba pontuam aqui juntamente com a celebração da música e da cultura popular. Afinal, o  que poderia ser só uma envolvente, e pesada, trama sobre um dos capítulos mais sombrios da História da América Latina, Atiraram no Pianista fica preso, e é refém, na sua  forma de contar essa história.

O texto, marcado por um zig-zag infinito e por idas e vindas narrativas, introduções de pessoas, e relatos extensos são apresentados na medida que um jornalista musical (voz de Jeff Goldblum) americano nos dias atuais começa a buscar informações do que aconteceu músico, naquela época, no Brasil, e na América Latina daquela época, com a ajuda do amigo brasileiro João (voz de Tony Ramos).

A recriação do Rio de Janeiro atual, ou até mesmo o Rio de Janeiro dos anos 60, 70, é belíssima e compensa a trama em zig-zig que trabalha em sempre jogar mais um depoimento, mais uma pessoa para a história e chega a cansar com a quantidade de informações que são apresentadas ao longo das pouco mais de 2h.

Com cores frias, que oscilam entre o escuro para contar as partes pesadas, e as claras para mostrar o caloroso e receptivo Rio de Janeiro, Atiraram no Pianista acaba por trabalhar com esses opostos, que ao mesmo tempo, estão ali para celebrar e alertar. 

A homenagem para a cultura brasileira, a reflexão para esse momento histórico e a lembrança dessa história como um aviso para nunca mais repetirmos o que aconteceu, tanto na Argentina quanto no Brasil, são o maior legado que Atiraram No Pianista entrega, mesmo que não entregue um filme fácil de se seguir com ele.

Sem dúvidas, é muito divertido ver diversos nomes da música brasileira como Caetano Veloso, Gilberto Gil, e outros animados, mas sinto que por conta da importância do tema, e a história que é contada Atiraram no Pianista poderia trabalhar melhor a forma como tudo isso é apresentado.

Principalmente para pessoas que não conheciam ou eram familiarizados com essa história. Talvez, o caminho a ser seguido seria focar no lado mais ficcional, e menos documental, afinal, ser animado é o menor dos problemas de Atiraram no Pianista e eu diria que é o que dá realmente o destaque para o longa e entrega um charme único para o projeto. 

Nota:

Estreia no circuito comercial em 26 de outubro.

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