Dois Tempos | Crítica: Produção nacional apresenta viagem no tempo com tom feminista

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Troca de corpos, um pouco de magia e fantasia, e duas épocas completamente diferentes, mas que mostram as mesmas dificuldades enfrentadas por duas personagens também com personalidades completamente diferentes. Esse é o tema da série nacional Dois Tempos que chega no Star+ marcada por boas atuações, e um trabalho de construções de épocas, muito bem feito.

Mesmo com um gostinho de “já vi isso antes”, a atração entrega uma história adaptada para a realidade nacional, onde Dois Tempos consegue entregar com uma brasilidade gigante, uma trama em que acompanhamos duas jovens, que por mais que vivem em momentos diferentes, querem a mesma coisa: viverem suas vidas livremente.

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Sol Menezzes em cena de Dois Tempos.
Foto: Walt Disney Company Brasil. Star+ Originals. All Rights Reserved.

Assim, num belo dia, Paz (Sol Menezzes) e Cecília (Mari Oliveira, ótima) acordam uma no corpo da outra, em épocas diferentes, e com problemas diferentes que tinham na noite anterior, mas que agora uma tem que lidar com o problema da outra, e claro, o problema maior de que elas, bem, estão literalmente no corpo de outra pessoa. Nada demais. Certo?

Assim vemos que a influencier Paz acabou de ser cancelada, é a “mais odiada no Twitter”, e perdeu contratos a rodo tudo na mesma noite, depois de uma live que deu muito errado no melhor estilo Gossip Girl. Já Cecília, uma jovem secretamente lésbica, acabou de casar com Pedro (Nicolas Ahnert, mais conhecido pelo filme Lulli da Netflix e bem melhor aqui) e que tem a sogra/madrinha má Mia (Martha Nowill), o sogro Maurício (Paulo Rocha) e a professora de etiqueta Anésia (Isabella Mariotto) em sua cola.

O time de roteiristas, formado por Mariana Tesch, Otavio Chamorr,  Caroline Margoni, Tainá Muhringer e Ariana Saiegh, trabalham para apresentar essas protagonistas, os problemas que elas vivem, as questões que as afligem, logo tudo no primeiro capítulo de Dois Tempos que é marcado por uma engessada introdução de personagens.

São muitas informações jogadas para o espectador nesse começo que é difícil entender quem é quem nesse começo. Mas, nem tudo é desastre, afinal, a produção parece dar um jeito na edição, e de fazer com que em Dois Tempos tudo fique bem dinâmico e divertidinho de acompanhar por conta de letreiros que pulam na tela.

E é com o decorrer da história que vamos por ligar os pontos, unidos por um colar misterioso, uma jovem e uma senhora também misteriosas que compartilham a mesma roupa, e também cair de cabeças nessas tramas contadas de forma isolada. Assim Dois Tempos se divide em dois e mostra momentos que passam no casarão que Cecília vive em 1922, e também no futuro, em 2022, onde anos depois, Paz se mudou com sua mãe Luiza (Dadá Coelho), o marido Gui (Breno Ferreira), e o assistente Thiago (Leonardo Bianchi, muito bem), agora que ela, forçada pela empresária/mãe, fechou um contrato com uma empresa de uma cidade no interior para desenvolver um ateliê de criação de novos influencers.

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Isabella Mariotto e Mari Oliveira em cena de Dois Tempos.
Foto: Walt Disney Company Brasil. Star+ Originals. All Rights Reserved.

Com episódios de 30 minutos, a série, claro, empolga ao apresentar essa trama de vermos como cada personagem vai se comportar em outra época, onde se beneficia com as excelentes atuações dessas protagonistas. Aqui, em Dois Tempos, Menezes e Oliveira estão muito bem em seus papéis e comandam esse show. Os contrastes dessas personagens dá a possibilidade para as duas atrizes brincarem com os novos trejeitos, falas e atitudes que tanto Paz (agora como Cecília) e Cecília (agora como Paz) ganham.

Oliveira que vem do longa Medusa deixa sua marca aqui na atração, afinal, o regrado mundinho dos anos 1922, e a personagem, uma espécie de Cinderela atormentada pela madrinha malvada, ganha novos ares na medida que a desbocada e moderna Paz assume seu corpo e bate de frente com as questões sobre as mulheres naquela época viviam, e conflitos que essa personagem apresenta que fica muito mais interessante depois da troca.

Menezzes entrega uma certa doçura para “a nova” Paz bem diferente do que vimos no primeiro capítulo, e realmente acerta, no tom de descoberta, não só de uma nova época, mas também de uma época sedutora para Cecília em busca de sua identidade como mulher, e mulher lésbica. Já Nowill parece se divertir de montão, abraça o lado vilanesco, no melhor estilo, novela das seis, como Mia, e realmente tem boas cenas, principalmente quando a família recebe a visita do Padre da cidade logo quando Cecilia e Paz trocam de corpos.

Em termos de produção, Dois Tempos exagera um pouco no tom na parte moderna com visuais mais espalhafatos e modernos e que realmente soam muito específicos, e parecem ter sido tirados de uma ida pela noite na Rua Augusta em São Paulo e que realmente pouco condiz com a realidade brasileira, mas que se encaixam com o tom mais fantasioso que a atração oferece.

Talvez tenha sido uma opção estética para o seriado? Já as passagens no passado são dignas de uma produção global e realmente chamam a atenção pela dedicação nos cenários, nos detalhes, e pelos figurinos que são um destaque a parte e lembram uma estética ah lá Wes Anderson.

No final, o começo de Dois Tempos é divertido para uma produção do gênero, e que graças ao carisma do elenco é uma produção que em dois tempos, piscou, perdeu, cativa o espectador para continuar a assistir seus episódios para saber o que vai acontecer com essas jovens tão diferentes, mas ao mesmo tempo, tão iguais.

Dois Tempos chega com 10 episódios no Star+ no dia 10 de maio.

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