Blonde | Crítica: Ana De Armas triunfa ao mostrar atormentada mente de Marilyn Monroe

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Definitivamente Marilyn Monroe é uma das maiores ícones de Hollywood e com Blonde (2022), o status de celebridade da atriz é celebrado, seja pelo lado positivo, quanto pelo negativo. Pode-se dizer que Monroe foi uma das primeiras it girl da cultura pop, a primeira grande atriz que definiu o culto para celebridades, uma influenciadora antes mesmo do termo ser existido. Mas atrás de Marilyn tínhamos Norma.

E sinto que pegar um assunto tão debatido, uma figura de fascínio por tantos anos, e por diversas gerações, é um trabalho complicado, onde o diretor Andrew Dominik tinha um árduo trabalho a caminho e uma missão em duas frentes: a primeira escalar uma atriz que poderia encarar o desafio de interpretar, e acertar no tom, Marilyn Monroe mais um vez e a segunda em como contar essa história. 

E com Blonde, Dominik acerta em pelo menos uma dessas coisas.

É com a escolha de Ana De Armas, cuja a carreira da cubana-americana tem disparado de forma meteórica em Hollywood, para interpretar a lendária atriz. Ela é o grande chamariz e o que chama a atenção para o filme. Um trabalho impecável e que você não consegue tirar os olhos dela durante as quase 3 horas de filme. O trabalho de Armas em Blonde é o que segura esse longa apresentado de forma irregular e que ao mesmo tempo entrega passagens belíssimas de se ver e acompanhar, algumas por mais incômodas e polêmicas que possam ser.

Assim, não espere uma biografia tradicional para a atriz. Baseado no livro de Joyce Carol Oates, o roteiro de Dominik para Blonde apela para um lado mais artístico, visualmente pirado (onde oscila entre cenas em preto e branco e coloridas) e em partes extremamente pesadas, para contar a história Marilyn Monroe, onde o diretor nos entrega um filme cheio de altos e baixos, fortemente sexualizado e que navega por momentos chaves da vida da atriz, sem muitas correlações entre elas.

Não dá para negar que Blonde tem um estilo visual incrível, mas o que tem mais de sedutor mesmo aqui é a presença de Armas como a atriz. A trajetória de como a jovem Norma deixou um lar traumático, com uma mãe com problemas mentais (uma ótima Julianne Nicholson), a falta de um pai, nunca revelado, e foi para Hollywood trabalhar como modelo é o gás desse começo do filme, afinal, estamos na espera de Norma chegar na vida adulta e a figura de Marilyn Monroe surgir.

Mas em Blonde é a história de Norma que se sobrepõe a da persona da grande estrela de Hollywood. Dominik não deixa as passagens mais polêmicas da vida de Norma de lado, vai a fundo nas questões que afligiam Norma, seja as cenas de abuso sexual (bem mais diluídas do que o diretor bradou na imprensa antes do filme estrear no Festival de Veneza), as de uso de substância ilegais, ou até mesmo as de abortos que a atriz realizou.

E fica claro que a ideia de Dominik não era passear por datas, ou filmes que Monroe estrelou, e sim, trabalhar a figura por trás das câmeras e mostrar como Norma vivia fora do mundo de Hollywood. É como se Armas trabalhasse com duas personagens ao longo do filme, da mesma forma que existia a figura de Norma e de Marilyn. E Armas triunfa quando navega por essas duas personas e pelas escolhas (muitas delas tomadas por terceiros) que a atriz viveu. Seja pelos diretores, pelos produtores de seus filmes, ou por seus diversos casos amorosos, e maridos, com destaque para Bobby Cannavale como Joe DiMaggio.

Como uma estrela no céu, como vista na cena entre a atriz e os companheiros de início de carreira e filhos de lendas de Hollywood, Cass (Xavier Samuels) e Eddie (Evan Williams), a trajetória solitária de Norma e Marilyn em Blonde acompanha a atriz desde do momento que seu brilho está no auge, até mesmo o seu declínio regado de paranóias, pílulas e injeções.

Blonde consegue recriar muito bem, tanto visualmente enquanto em figurinos e ambientação, diversas dessas passagens, seja a icônica cena do vestido em movimento no metrô em O Pecado Mora ao Lado (1955), uma das marcas registradas da atriz, diversas cenas de seus maiores sucessos como Os Homens Preferem as Loiras (1953) “Eu sou a loira em Os Homens Preferem as Loiras ” brada a personagem em um momento do filme. E ainda passagens da vida pessoal e privada seja durante os breves meses casada com o ex-jogador DiMaggio ou até mesmo as escapadinhas para visitar o Presidente Americano John F. Kennedy já nos anos 60, onde temos a cena realmente mais pesada que o longa oferece e deverá deixar muita gente incomodada.

Assim a narrativa quebradiça, quase episódica que Blonde tem para contar essa história fica um passo atrás e que só valem a pena assistir por conta da atuação de Armas que está deslumbrante em basicamente todas as cenas que aparece. Claro, Dominik entrega bons momentos, como por exemplo, quando precisa mostrar o quanto os remédios atrapalhavam a vida de Norma, com a cena do avião misturada com a de uma pré-estreia que uma muito bem executada, mas no final parece que temos são um monte de pequenos trechos colados uns nos outros. Momentos isolados belíssimos mas que pouco se conversam entre si para nos dar um panorama geral de história da atriz.

No final, o que temos é um filme ousado, bem gráfico em diversas cenas e com uma certa objetificação gigante ao corpo de Marilyn e de Armas, onde Blonde acaba por ser um longa para fazer Armas brilhar com seu olhar e sua atuação, mesmo que seja instável e irregular de se assistir assim como era a vida da lendária atriz, aqui mais uma vez, com a história fascinante contada.


Avaliação: 3 de 5.

Blonde disponível na Netflix.

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