Babilônia | Crítica: Homenagem de Damien Chazelle para Hollywood navega entre extremos

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Depois do diretor Damien Chazelle colocar Hollywood para dançar e cantar com La La Land lá em 2016, ele estava com crédito na praça e fez outros projetos. Mas é com Babilônia (Babylon, 2022) que ele ensaia seu grande retorno para contar uma história sobre Hollywood, a Hollywood antiga dos filmes mudos…. mas, aqui, em vez de acertar com o tema, o diretor navega entre extremos. 

Chazelle parece ter recebido carta branca da Paramount Pictures, onde fica claro que o estúdio confiou 100% no instinto do diretor para contar essa história. Mas será que isso era o ideal? Por que é aí que fica o calcanhar de Aquiles de Babilônia. O Luke do Darth Vader, o Tom do Jerry, o Harry Potter de Voldemort. Quando é que sabemos quando é o momento de parar? Quando que devemos ouvir aquela voz (da consciência) que nos fala: acho que passou um pouco do limite?

Babilônia
Margot Robbie e Diego Calva em cena de Babilônia
Foto: © 2022 Paramount Pictures. All Rights Reserved.

Afinal, voz & Babilônia estão intrinsecamente conectados. Como falamos o longa se passa na época que Hollywood criava estrelas do cinema mudo e acompanha seus personagens durante essa transição para o cinema falado e como tudo mudou na cidade das estrelas e nas relações pessoais, de trabalho, e de poder entre seus moradores.

No fundo, essa é a ideia central de Babilônia, quando tiramos todos os cacarecos que envolvem e embrulham o filme. E o que temos aqui é um olhar para essa Hollywood pelos olhos de duas pessoas fora dela, o faz-tudo imigrante Manuel “Manny” Torres (Diego Calva, relativamente novo em Hollywood visto em Narcos) e uma jovem sem nenhum refinamento chamada Nellie (Margot Robbie, extremamente carismática) que quer se transformar em atriz.

E durante seus momentos iniciais, Chazelle já garante que Babilônia seja definida por ser um filme de extremos. Seja na duração, as excruciantes mais de 3 horas de duração, nas figuras completamente amalucadas, e nas excentricidades vistas em tela pelo roteiro (também de Chazelle). Tudo isso é apresentado com uma caótica representação visual de personagens sem roupas, substâncias ilegais, e uma festa homérica, onde o filme estabelece quem é quem nessa história.

E Babilônia, seja no paralelo com a história bíblica, ou da própria Hollywood da vida real, se apoia nesses momentos hiper alucinados para nos dar um contexto para chegarmos na ideia central que Chazelle quer contar: O uso da voz como uma nova arma de Hollywood e não mais da beleza, ou dos visuais. É a chegada do moderno, é o progresso pronto para acabar com status quo e que aqui é representado por essa gama de personagens que misturam figuras reais com figuras fictícias, todos eles falando sua própria língua, e indo atrás daquilo que os satisfaz.

O longa tem cenas que são boas, onde definitivamente você fica maravilhado com o que é apresentado, e que brincam ao contar os bastidores dessa Hollywood que não existe mais, mas que ainda é muito parecida com a que existe atualmente: as bajulações, os egos inflados, os seletos círculos de amizade, e o dinheiro que circula de monte. Mas ao mesmo tempo, quando Babilônia entrega suas cenas mais estapafúrdias, sabemos que são seus pontos baixos, que são muito baixos. Seja quando temos elefantes em festas de produtores, ou até mesmo visitas pelo submundo noturno paralelo e perigoso, e nos personagens caricatos. 

Babilônia quando é bom é ótimo, mas quando é ruim é horrível. E isso oscila  demais a percepção para essa história que Chazelle quer contar. Temos personagens demais, histórias paralelas demais, e uma falta de foco, e um trabalho de edição, que não podam os floreios que Chazelle quer contar. A jornada da atriz novata Nellie LaRoy (Robbie) que ganha destaques no filmes por seu visual matador e que se torna nova it-girl de Hollywood (baseada na atriz Clara Bow que existiu de verdade e meio que criou-se o termo conhecido hoje em dia) e do funcionário Manny (Calva jogado no meio de artistas conhecidos que tem pouco espaço mas que pipocam em tela a todo momento) que avança em posições em Hollywood nas produções de filme, se mesclam com as outras histórias de outros arquétipos de Hollywood. Seja os arcos narrativos que mostram a queda de popularidade do ator queridinho da bilheteria do cinema mudo, Jack Conrad (Brad Pitt), da jornalista de fofocas Elinor St. John (Jean Smart, carismática), do cantor de jazz Sidney Palmer (Jovan Adepo) e também da atriz e cantora Fay Zhu (Li Jun Li uma representação de Anna May Wong, uma atriz que também existiu em Hollywood).

Babilônia
Brad Pitt e Diego Calva em cena de Babilônia
Foto: © 2022 Paramount Pictures. All Rights Reserved.

Chazelle então aposta na visceralidade para contar as trajetórias desses personagens, onde todos eles tentam se sair por cima em uma sociedade que vive já de altos e baixos. e como eles veem  suas vidas serem mudadas na medida que as coisas mudam, novas pessoas começam a perceber que existem novas formas de ganhar dinheiro com os filmes, e tudo mais. E quando chega, quando finalmente o espectador entende o que Chazelle quer mostrar, e a homenagem que o diretor quer fazer, parece que o longa derrapa e só entrega passagens que não precisavam estar ali e só são como uma chuva no nosso desfile.

Por mais momentos que poderiam muito bem serem cortados na ilha de edição, Robbie realmente se mostra, mais uma vez, uma  das  mais talentosas atrizes que temos. Em um dos momentos, Chazelle gasta mais de 20 minutos com a personagem que erra suas marcas na medida que microfones são instalados nos sets de filmagem, e descobrimos que a voz de Nellie não é compatível com os novos tempos. Já o outro grande nome do filme, Brad Pitt, entrega seu charme habitual e realmente está muito bem, mas seu personagem acaba por ser eclipsado pelos arcos narrativos dos outros, na medida que sua história se torna cíclica com o vai e vem de parceiras amorosas para Jack.

Outros atores tem seus momentos, o desfile de nomes conhecidos é gigante, como uma caixinha de surpresa, a cada cena, mas muita coisa é desperdiçada e apenas deixam Babilônia ser um longa cansativo e com um potencial desperdiçado.

No final, Babilônia tem momentos, mas eles são tão poucos, e tão eclipsados pelas partes completamente descartáveis que o sentimento que fica é como se Chazelle deixasse o espectador cantando na chuva, sem guarda-chuva, e sem nenhum momento glorioso para se lembrar. Quando o filme termina, você está cansado, e ninguém está feliz novamente. 

Avaliação: 3 de 5.

Onde assistir Babilônia?

Babilônia chega nos cinemas nacionais em 19 de janeiro.

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