Asteroid City | Crítica: Milimetricamente bonito, milimetricamente conceitual

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A fama estética e visual de Wes Anderson definitivamente já é sua marca registrada e a forma como o diretor e roteirista é conhecido em Hollywood e o que a indústria, as pessoas que trabalham com ele, e o público esperam dele. E com Asteroid City (2023) não poderia ser diferente. Novamente temos um filme com os ângulos certinhos, a câmera posicionada de forma extremamente precisa, e com passagens que entregam cenas milimetricamente bonitas de se acompanhar e assistir.

E tudo isso está presente em Asteroid City. Assim como um elenco formado por estrelas e grandes nomes de Hollywood que circulam e declamam o texto do filme escrito por Anderson. E milimetricamente temos um novo filme mega conceitual do diretor. Alguns podem considerar o tipo de cinema que diretor/roteirsta faz, chato, maçante, e sonolento, outros a verdadeira face do cinema artístico, o cinema arte, aquele que entrega conceito e que provoca reflexões.

Particularmente, acho que sempre depende muito de o quanto os quesitos técnicos do projeto em questão de Anderson servem para mascarar a história e suas deficiências. Em A Crônica Francesa (2021), por exemplo, a coisa desandou um pouco, e particularmente acho que foi por conta do roteiro mesmo e das histórias não serem tão conectadas assim e em boa parte desinteressantes.

Mas já aviso que com Asteroid City, Anderson consegue amarrar tudo que deu errado no seu último projeto e volta para o caminho certo que seguia, onde aqui ele dá para ver ele se sobressair novamente com um bom filme, e fica claro que a parte estética não se sobrepõe a trama e o longa tem alguma coisa bacana para contar, além de só nos deslumbrar visualmente.

Jake Ryan, Jason Schwartzman e Tom Hanks em cena de Asteroid City.
Foto: Credit: Courtesy of Pop. 87 Productions/Focus Features

Sempre quando temos um filme de Wes Anderson a pergunta que fica é: será que os truques visuais que o diretor coloca, e que te conquistam logo no começo do filme, são o bastante para prender nossa atenção ao longo das outras horas que ainda temos pela frente? Anderson é sim um bom diretor, inventivo, criativo e que sabe conduzir o filme da melhor escolha possível, mas, às vezes, peca pelo excesso. Talvez seja por conta da mania de sempre apelar para o lúdico, para o fantasioso, e pela arte pela arte que talvez faça alguns espectadores torcerem o nariz para o tipo de filme que o diretor e roteirista apresenta.

Mas aqui Asteroid City deixa todos esses questionamentos de lado, afinal, ao fazer um olhar para as relações humanas mais uma vez, Anderson entrega um longa que capitaliza na curiosidade, nas diferenças entre esses personagens e suas personalidades, no estranho e no desconhecido para chamar a atenção. Ao colocar um grupo de adolescentes prodígios para participarem de uma feira de ciências em uma cidade (ficcional! mais sobre isso abaixo) no meio do deserto, com suas famílias, o governo de olho, e até mesmo com a presença de alienígenas, o diretor e roteirista brinca ao mesmo tempo com essa história, e com essas relações, e que exige do espectador uma certa paciência.

E não é só sobre isso que Asteroid City fala. A trama acaba por ser bem mais elaborada que isso, onde o que temos aqui é uma representação dessa história, contada por um apresentador, como se fosse uma história dentro desse filme, quase um The Twilight Zone, onde temos a representação de um cinema mais antigo, mais teatral, como pano de fundo.

E mesmo com um foco um pouco mais nos personagens que são os pais desses jovens estudantes, o longa acerta em entregar boas sub-tramas paralelas e que se costuram ao longo do filme. Temos um desses personagens aqui interpretado por um ótimo Jason Schwartzman como um cara que ficou viúvo há pouco tempo e leva os filhos para viajar, temos uma atriz interpretada por Scarlett Johansson como uma artista conhecida do público e com problemas em seus relacionamentos, uma outra mãe, uma parente helicóptero, interpretada por Hope Davis, e assim vai.

Entre outros personagens que tem histórias interessantes e que se destacam no longa, temos a atriz Maya Hawke como uma professora que precisa ensinar esses jovens inteligentes e Jeffrey Wright com um general do exército que precisa assumir o controle do lugar quando em um dos eventos, um ET surge na cidade, muda o destino de todos eles para sempre. 

Anderson navega por essas histórias, por cada um desses personagens, na medida que eles estão todos lá para a tal convenção e depois precisam lidar com as consequências dos eventos que acontecem na cidade. Com esse novo conto, o diretor faz um paralelo interessante para os eventos do mundo mais recentes, como a pandemia (por conta da quarentena), a forma como as notícias se alastram (a notícia da chegada dos visitantes do espaço), e até mesmo outros comportamentos da sociedade que mesmo aqui dessa pequena comunidade que surge, refletem para a nossa sociedade moderna atual. 

Scarlett Johansson em cena de Asteroid City.
Foto: Credit: Courtesy of Pop. 87 Productions/Focus Features

Os atores estão ali pelo artístico e isso fica claro quando vemos algumas passagens, extremamente teatrais, que acabam por serem parte das decisões estéticas que Anderson sempre escolhe.

Os atores jovens estão bem, com destaque para as duas atrizes mirins que interpretam gêmeas e que tem um comportamento excêntrico. O mesmo vale para Schwartzman que consegue se destacar no meio de grandes nomes, como os já citados acima, e ainda Steve Carrell como o dono do motel onde as pessoas se hospedam, Tom Hanks como o avô das crianças cheio de dinheiro e que não vai muito com a cara do genro, ou até mesmo de Bryan Cranston como o narrador desse programa fictício.

E claro, as figuras carimbadas de produções de Anderson como Tilda Swinton, Adrien Brody, entre outros. Uma das surpresas também fica com Margot Robbie como uma estrela do cinema que é dispensada da peça, e no filme efetivamente só tem, uma única cena. 

E assim, o que temos mais uma vez, é um desfile de atores, nomes, e personagens que mostra o poder e o calibre de Anderson na indústria, afinal, Asteroid City teve uma pré-estreia pomposa no Festival de Cannes e deveria ser o retorno do profissional para a temporada de premiações. Mas talvez esse asteroide passe um pouco longe do que ele e a produtora Focus Features gostaria que passasse.

E ao brincar com essas questões mais humanas em Asteroid City, Anderson tenta sair do gelado, e certinho, perfeito enquadramento para mostrar o calor das emoções numa história que se amarra direitinho depois que o terceiro ato se encaminha para sua conclusão. 

No final, entre cores claras, pastéis, figurinos de época dos anos 1950, e o ambiente mais teatral, Anderson tenta trazer um calor humano para Asteroid City que deixa sua obra mais perto de ser alguma coisa que emociona não só pelo deslumbre visual, mas pela mensagem aqui contada. Ainda dá para melhorar, mas com Asteroid City já é um bom começo. 

Avaliação: 3.5 de 5.

Onde assistir Asteroid City?

Asteroid City em cartaz nos cinemas nacionais.

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