Um Lugar Bem Longe Daqui | Crítica: Carisma de Daisy Edgar-Jones salva adaptação truncada de livro

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Não precisa ir para um lugar bem longe daqui para sacar as razões na qual a adaptação do livro de mesmo nome Um Lugar Bem Longe Daqui (Where the Crawdads Sing, 2022) seria melhor adaptado para as telinhas do que para as telonas. Seja pelo tipo de história que quer contar, seja pela forma como essa história é contada, e principalmente com o elenco que temos nessa produção.

Com produção de Reese Whiterspoon que tem se dado bem em produções para TV e para o streaming, sinto que um passo a mais foi dado em relação ao que temos e o que Um Lugar Bem Longe Daqui oferece, afinal, num mercado tão competitivo em Hollywood, o longa não me soa tão cinematográfico como deveria ser. Mesmo que parece ser.

Daisy Edgar-Jones em cena de Um Lugar Bem Longe Daqui
Foto:  Courtesy of Sony Pictures/Michele K Short – © 2022 CTMG, Inc. All Rights Reserved.

Ao ver as duas horas de filmes, juro que o filme tem, fiquei com o sentimento que estava na frente da TV com a função “Assista o próximo” ligada no automático sabe?. Não que Um Lugar Bem Longe Daqui não seja bom, o filme até que se garante em algumas passagens e a atriz Daisy Edgar-Jones (do seriado Normal People) realmente tem um carisma que inunda a tela, mas o filme e sua história truncada por mais instigante que seja realmente demora para dar uma engrenada e bem se comportar como filme.

Realmente as partes mais empolgantes ficam com as cenas do tribunal que servem como um catalisador para desvendarmos a trama que o longa se desenvolve. O que temos com Um Lugar Bem Longe Daqui é um filme de tribunais misturado com um coming of age com um viés feminista gigante. Entendo o apelo cinematográfico que a produção despertou dentro da produtora de Whiterspoon para receber o sinal verde e tudo mais, mas dentre tudo que já saiu da Hello Sunshine, Um Lugar Bem Longe Daqui talvez seja a adaptação mais fraca até agora.


E já que temos um filme particularmente de tribunais, quem está no banco dos réus aqui é a jovem Kya (Daisy Edgar-Jones, puro carisma) que vive numa casa no meio do pântano na região Sul dos EUA. Ignorada pelos moradores locais, Kya é conhecida como a Menina do Brejo. O caso? Ela é acusada de matar Chase Andrews (Harris Dickinson), o garoto sensação da cidade, ex-jogador do time do colégio e tudo mais. 

Mas antes de chegar na parte do julgamento e tudo mais, Um Lugar Bem Longe Daqui faz um começo, via flashbacks, onde nos apresenta para a ré e como diz seu advogado (David Strathairn), “eles precisam te conhecer, sem ser a Menina do Brejo”.

E então o longa se aprofunda na história da jovem garota, com sua família, seu passado atribulado depois que a mãe (Ahna O’Reilly) deixou a família, logo em seguida dos irmãos, e depois do seu pai alcoólatra (Garret Dillahunt) também a deixou. Desde de cedo Kya se viu sozinha no mundo, era ela e o pântano, durante muito tempo. A atriz mirim Jojo Regina que interpreta Kya quando criança tem um mix de doçura e espontaneidade muito grande e realmente nos cativa ao apresentar a figura da protagonista, seus os percalços, suas as dificuldades e os medos que ela tem e vive durante a infância. A transição de Regina para Jones é uma que serve como uma mudança muito brusca, por isso dá ainda mais a sensação episódica Um Lugar Bem Longe Daqui oferece. 

Taylor John Smith e Daisy Edgar-Jones em cena de Um Lugar Bem Longe Daqui
Foto: Michele K Short/Michele K Short – © 2021 CTMG, Inc. All rights reserved.

Mudam-se os tempos, as ameaças também. E mesmo com a ajuda do casal Mabel (Michael Hyatt) e Jumpin (Sterling Macer, Jr.), Kya cresce sozinha e de forma bastante independente. E agora já mais velha Kya e basicamente seu único amigo, o jovem Tate (Taylor John Smith na versão adulta) começam a serem mais que amigos. Assim, a jovem começa a viver uma vida mais adulta, aprende a ler, a escrever, e começa uma relacionamento com Tate. Até que tudo dá errado  e Kya vive um 4 de julho inesquecível em todos os sentidos.

A parte mais Nicholas Sparks de Um Lugar Bem Longe Daqui se contrasta tão forte com a parte das cenas de tribunal que parece por alguns momentos que estamos assistindo dois filmes diferentes e que foram apenas costurados de uma maneira estranha. Jones segura bem as pontas, e o filme nos agrada enquanto disfarça seus problemas com as belíssimas paisagens que o filme se passa, onde as cenas ao pôr do sol alaranjado, ajudam Um Lugar Bem Longe Daqui ter um charme mesmo que entregue uma grande montanha russa narrativa.

 Sim, o filme tem suas passagens emocionantes, o final é super bonito, e Jones garante que os diversos momentos ruins (as decepções amorosas, a relação tumultuosa com e tóxica com Chase) de Kya sejam entregues na mesma intensidade que os momentos bons (o prazer com a pintura, o primeiro cheque por conta do livro, a relação com Tate, e tudo mais), mas é tudo muito cercado de altos e baixos.

Talvez não seja sobre realmente descobrirmos se Kya é inocente ou não sim e vermos a sua jornada de como ela sobreviveu ao longo dos anos, e seus altos e baixos. Coisa que no final, vejo que no filme, como na vida da protagonista, os altos são muito altos e os baixos são baixos.

Imagino que Um Lugar Bem Longe Daqui não quis deixar de lado o estilo de narrativa um pouco similar dos livros para não desagradar os fãs, mas acaba por prejudicar a história para aqueles que não lerem a obra de Delia Owens.

Avaliação: 2.5 de 5.

Um Lugar Bem Longe Daqui chega em 1º de setembro nos cinemas nacionais.

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