The White Lotus – 2ª Temporada | Crítica: Relações de casais marcam a estadia dos hóspedes

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Uhu-Uhu-Uhu Ooooo. Que The White Lotus é um fenômeno, e com um dos seriados com maiores engajamentos on-line dos últimos tempos, não dá para negar. A primeira temporada pegou o público de surpresa, em ritmo pandêmico, ao entregar uma amalucada sátira para um grupo de milionários hospedados em um hotel de luxo. E claro, tínhamos também um assassinato, e uma trama de descobrir quem morreu.

Mas diferente de outras produções, quem matou? The White Lotus nunca quis que a série fosse sobre isso, e sim para as relações entre os hóspede e os funcionários. E se o primeiro ano era muito mais focado nas relações de poder, entre quem tinha dinheiro e quem não, o segundo ano foi para um lado mais emotivo, e carnal, onde o tema principal era o sexo, a exploração entre os corpos, desejo e como essa busca viciante pode afetar a vida das pessoas. Afinal, estamos na Sicilia, em pleno verão europeu, onde gelatos, calor e praias paradisíacas são a combinação dessa nova leva.

A mudança brusca no tom, no que difere as duas temporadas, é o que deixa o segundo ano um pouco mais aquém do primeiro em termos de arcos narrativos, mas o grande motivo para darmos check-in novamente em The White Lotus são os novos personagens que são magistralmente criados por Mike White, mais uma vez. E claro, interpretados pelos seus respectivos atores e aqui escolhidos a dedo.

O maior trunfo de The White Lotus segue com sua exibição semanal, que dá tempo para o espectador se afeiçoar pelos personagens, suas tramas, e seus dilemas. Particularmente eu no começo detestei a figura da gerente da filial da Sicília, a controladora Valentina (Sabrina Impacciatore), mas acho que na medida que sua história é desenvolvida e graças a atuação corporal incrível de Impacciatore, o espectador consegue se conectar com tudo que a personagem passa e seu medo colossal sobre sua sexualidade. É interessante você pensar que para cada um desses novos hóspedes e funcionários, existe um momento de virada de chavinha onde eles passam de ser irritantes para serem personagens complexos e interessantes que empolgam com suas histórias. E é ai que esteja o fator principal que a série tem se dado bem nas redes sociais, onde cada vez mais pessoas descobriam os novos hóspedes do The White Lotus da Sicília a cada semana.

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Simona Tabasco e Beatrice Granno em cena de The White Lotus temporada 2
Foto: Fabio Lovino/HBO

E talvez esse a grande sacada de The White Lotus com essa temporada mais calorosa, mais animalesca e que se apoia no verão italiano para cercar esses personagens com todas essas tentações que essa semana vai entregar para eles. Claro, o destaque fica com a dupla de garotas italianas, Mia (Beatrice Grannò) e Lucia (Simona Tabasco, incrível), que galgam e impõe sua presença no hotel contra o gosto de Valentina e são garotas com um plano: seduzir clientes e faturar um bom dinheiro. Claro, que The White Lotus mostra que existe mais para elas do que apenas isso, afinal, Mia ainda querer descolar um trabalho na indústria musical e vai usar todas as suas armas disponíveis para isso, e Lucia vai se envolver com boa parte dos hóspedes e ao longo da temporada, e se mostra uma personagem com motivações extremamente ambíguas e que são reveladas apenas nas cenas finais da temporada. Fiquem de olho.

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Will Sharpe, Aubrey Plaza, Meghann Fahy e Theo James em cena de The White Lotus temporada 2
Foto: Courtesy of HBO

A dupla de casais, formada por Daphne (Meghann Fahy) e Cameron (Theo James) e Harper (Aubrey Plaza, ótima) e Ethan (Will Sharper) garante os momentos mais calorosos do segundo ano, com discussões interessantes, e arcos complexos, sobre os relacionamentos deles, e pra todos eles. Manter o mistério da relação é o tema central para Daphne e Cameron e e ter um relacionamento sem segredos é tema para Harper e Ethan. O grupo garante as discussões mais polêmicas do novo ano, quando a dinâmica entre eles, e entre eles, como um grupo de amigos, são esmiuçadas e debatidas em todo episódio. O quarteto se garante em diversas cenas, e a relação curiosa entre Plaza e James é um dos pontos mais altos do segundo ano.

Já os homens DiGrasso também tem sua cota de discussões importantes ao longo da temporada onde Bert (F. Murray Abraham), o patriarca que serve mais como um alívio cômico por conta de sua visão ultrapassada, e Dominic (Michael Imperioli) com suas reflexões de meia idade e seu relacionamento com sua esposa., entregam uma boa dinâmica sobre refletir sobre envelhecer. O jovem “woke” Albie representa o ideal do homem ideal e Adam DiMarco cria uma figura inocente e charmosa desde do começo e garante boas passagens que as mulheres do hotel. Principalmente quando começa a flertar com Portia (Haley Lu Richardson) a assistente de Tanya (Jennifer Coolidge) que sim, está de volta para novas frases de efeito, e dias cercados de bebidas e bajulação, ao lado do marido Greg (Jon Gries) e todas as paranoias marcadas pela personagem lá do primeiro ano.

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Jennifer Coolidge, Haley Lu Richardson em cena de The White Lotus temporada 2.
Foto: Courtesy of HBO

Assim, ao colocar esses personagens nesse hotel, The White Lotus brinca mais uma vez com as situações piradas e surreais que podem acontecer quando esses hóspedes cheios de dinheiro se vêem acuados em suas próprias relações e usam essa viagem como uma escapatória de suas vidas. Mas será que esse tempo fora do cotidiano vai mudar alguma coisa para eles? E The White Lotus garante que sim, na medida que muitos segredos são revelados, de cada um deles, muitos que nos deixaram alucinados entre os episódios liberados todos os domingos. Mas é na ambiguidade dessas relações, os olhares, as palavras não ditas e as atitudes marcam muito mais o segundo ano do que o primeiro.

A entrada de um grupo de homens mais velhos, gays e da aristocracia, liderados por Quentin (Tom Hollander, ótimo) e Jack (Leo Woodall), a trama de Tanya e Portia, na medida que os outros núcleos precisam lidar com suas próprias confusões nesse período curto que estão no hotel de férias. 

O segundo ano de The White Lotus é marcado por um ritmo mais ousado, mais visual e impactante e graças aos personagens carismáticos e despudorados que garantem que a nossa hospedagem (ao assistir a série e ter um compromisso semanal) valha a pena para quem acompanhou por 7 semanas os episódios do segundo ano. Assim, o sentimento de estranheza em relação ao primeiro é um para se deixar de lado, afinal, a série realmente entrega seus melhores episódios nos seus momentos finais, onde os primeiros acabam por ser uma grande e lenta ambientação para nos fazer cair de amores por esses personagens e suas amalucadas histórias e visões de mundo, aos poucos.

A segunda temporada de The White Lotus disponível na HBO Max.

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