Tár | Crítica: Cate Blanchett conduz longa com maestria 

Em Tár, Cate Blanchett conduz longa sobre mundo da música clássica e cultura do cancelamento com maestria.

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Quem é Lydia Tár? Para muitos uma das maiores compositoras, regentes e musicistas do século XX. Mas quem é a figura humana por trás desses feitos incríveis e uma das poucas pessoas EGOT, ou seja, que ganharam o Emmy, o Grammy, o Oscar e o Tony?

É isso que Tár (2022) conta em sua trama: a história por trás de um dos maiores nomes da História e quando essa personalidade se vê envolvida em um caso de “cancelamento”.

É possível no meio desse escândalo separar a figura genial, profissional, da figura humana e falha? É possível que no meio da grandeza, Lydia Tár seja apenas humana? E para isso, a atriz Cate Blanchett (duas vezes vencedora do Oscar e indicada pelo longa na edição 2023) conduz longa com maestria na medida que o texto de Todd Field, que também dirige o longa depois de anos afastado, brinca, e navega, por essa questões, num filme ao mesmo tempo intrigante e magistralmente bem orquestrado para fazer o espectador se perguntar sobre essas questões num paralelo delicioso, ácido, e provocador sobre os últimos acontecimentos em Hollywood que vão desde de Harvey Weinstein, Johnny Deep e até mesmo J.K. Rowling. 

Tár
Cate Blanchett em cena de Tár
Foto: Credit: Courtesy of Focus Features/ © 2022 Universal Pictures.

Mas você está se perguntando, mas quem diabos é Lydia Tár e por que tenho que ver um filme sobre essa maestra de música clássica? Deve ser chatão…. Aí que tá uma das graças de Tár. Além de termos a reafirmação que Cate Blanchett é uma das maiores atrizes da atualidade, Field cria essa persona fictícia para contar essa história que abraça um ar de modernidade e realidade tão grande, tão verossímil que nos faz questionar sobre quem foi a tal musicista.

Ao nos apresentar para o currículo invejável de Lydia Tár, Field nos faz simpatizar com essa figura grandiosa, na medida que vemos o seu dia-a-dia e uma espiada atrás da cortina de sua vida, por trás de todos os prêmios, os fatos marcantes e a importância da personagem para o mundo da música. Até que Field te faz não simpatizar mais com ela.

E para isso temos Blanchett que segura alguns dos monólogos apresentados no filme de uma forma intensamente precisa e cativante. Não tem como não assistir o texto ser declamado pela atriz, sem ficar vidrado na tela com a presença imponente, a voz rouca, e o olhar fixo que Blanchett nos entrega. Seja em uma entrevista para várias pessoas em um teatro lotado, dando aula numa prestigiada faculdade de música americana, ou conduzindo uma das orquestras mais importantes do mundo, a Orquestra Filarmônica de Berlim.

E por se passar no mundo da música clássica, o longa tem um trabalho sonoro incrivelmente bem feito e que consegue carregar o espectador para dentro da trama e conduzir o tipo de emoção que cada cena quer passar na medida que a narrativa pêndula para qual faceta de Tár que veremos naquele momento.

O texto de Field pinta Tár como uma figura sem medo de se impor, ela sabe que é a grande f*dona do mercado e não vai se desculpar sobre isso, ou fazer sua presença ser menos sentida. Já vimos milhares de figuras, principalmente masculinas, fazerem isso. Desde CEOs de grandes corporações, Presidentes e Chefes de Estado, e até mesmo figuras da mídia, e do mundo do entretenimento. Todos, em sua maioria, homens, todos eles em sua grande parcela, heterossexuais e brancos. O interessante é que Field coloca todas essas características de personalidade na figura de uma mulher, mesmo que Tár se apresente uma figura que quebra os padrões de gêneros.

E depois de levantar a bola de Tár por quase metade do filme, Field a derruba desse pedestal, onde ao longo do filme, desconstrói essa figura imponente para uma mulher como qualquer outra. Uma figura humana. Não frágil e indefesa, apenas uma pessoa que foi pega. Mesmo que as coisas fiquem mais no subjetivo.

Assim, quando Tár vê as consequências de suas ações a atingir tanto sua vida pessoal quanto profissional, a personagem começa a cair num espiral de más decisões e más escolhas que deixam o longa com um sentimento de tensão muito grande. O que vai acontecer com a personagem? Com a relação com esposa Sharon (Nina Hoss), que também trabalha na filarmônica, e a filha adotiva do casal Petra (Mila Bogojevic)? Com a colega de trabalho, assistente e também algo a mais, Francesca (Noémie Merlant)? Com o relacionamento de Tár com seu trabalho e seus rivais que estão loucos para ocupar seu espaço, e com a História em si? Será que ela será lembrada por todos os seus feitos grandiosos ou por apenas um evento ruim?

Isso só se escalona quando temos a chegada de uma nova profissional da filarmônica que vai ajudar o espectador a ver como Tár age, onde a trama coloca a jovem Olga (Sophie Kauer) em rota de colisão com a grande profissional na medida que uma antiga aluna comete suicídio e culpa a maestro de um relacionamento abusivo e predatório.

Ao confrontar Tár com a realidade de suas ações, Field faz um panorama que apenas coloca o espectador na parede e o deixa decidir se Tár merece tudo aquilo e se podemos afirmar que ela é ou não uma boa pessoa fora da sua persona profissional. 

Como falamos, os paralelos com várias histórias que pipocaram na mídia nos últimos anos e que geraram o movimento Me Too, a onda de cancelamentos on-line e tudo mais, deixam Tár entregar um filme extremamente reflexivo e que basicamente só dá certo pelo trabalho monumental que Blanchett entrega em todas as cenas. No final, Tár, entrega um filme fanTÁRstico de se assistir. 

Avaliação: 4.5 de 5.

Onde assistir Tár?

Tár entra no circuito nacional em 26 de janeiro.

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