Fale Comigo | Crítica: Uma experiência aterrorizantemente boa de assistir

Um do destaques do ano, Fale Comigo faz uma experiência aterrorizante boa de assistir.

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De tempos em tempos temos um terror que se destaca por conseguir unir diversos aspectos que ajudam o espectador a ter uma boa experiência dentro de uma sala de cinema com o gênero. Foi assim com corra! (2017), Hereditário (2018) e no ano passado com Não! Não Olhe!. E agora em 2023 é com um longa australiano, sem muitos grandes nomes no elenco, e com uma história aparentemente simples que temos uma das melhores experiências quando se trata de assistir um filme de terror em uma grande sala de cinema: Fale Comigo (Talk To Me, 2023).

E Fale Comigo faz um filme que realmente fala com o expectador e pega na mão dos fãs do gênero para impactar, contar antes de tudo uma boa história e depois uma que te dá susto, te causa aflição, e te faz querer tapar o rosto para não conseguir ver, mesmo querendo ver, o que vai acontecer em cena, com esses personagens, e em determinadas situações.

 Credit: COURTESY OF A24

Fale Comigo é simples, mas entrega um filme robusto, cheio de camadas e discussões e que sim também entrega bons sustos. E não são só sustinhos, ou jump scares, que estão ali para te fazer passar aquela vergonha no cinema, ou aqueles momentos que se prolongam, na antecipação de criar uma ambientação de susto e que nunca efetivamente se concretiza, e sim, aqueles sustos certeiros, totalmente dentro do contexto, que chocam e espantam em como eles tiveram a coragem de fazer isso, e mostrar ao longo do filme.

Tem pelo menos umas duas, três cenas em Fale Comigo que são completamente angustiantes de se ver e que combinam exatamente com esse ritmo alucinante que a dupla Danny e Michael Philippou fazem com o longa.

Vindos do mundo digital, por conta de anos no YouTube, os irmãos Philippou trazem essa jovialidade e esse ar moderno para o terror, onde ao mesmo tempo que focam em adolescentes para contarem essa história, abraçam questões e temas por trás da temática do terror muito mais complexos do se esperava de um projeto do gênero.

Ao lidar com o luto e as diversas etapas que esse esse estado emocional gera na medida que a protagonista, a jovem Mia (Sophie Wilde, ótima) enfrenta durante um certo momento de sua vida, Fale Comigo se torna muito mais interessante do que ser apenas um filme de possessão. Ao focar na dor, e a forma como a personagem precisa navegar por todos os momentos enquanto convive com essa perda, Fale Comigo coloca não só a jovem, mas também seus amigos, em contato direto com o sobrenatural.

E como bem sabemos nem sempre existem coisas boas presas na escuridão e basta alguém acender uma vela, tirar uma mão embalsamada e dizer “Fale comigo” para as coisas irem de mal a pior. E ao transformar esse ritual numa trend do TikTok, o longa capitaliza com esse mundo jovem, millenial, e descompromissado para abrir as portas para o imprevisível e o assustador.

E nossa como Fale Comigo, e seus atores, fazem bem isso. De Wilde que está fantástica no papel e é realmente uma das melhores atuações do ano, para Zoe Terakes como Hayley, que faz parte do grupinho cool kids do bairro onde esses personagens moram, todos esses jovens, e promissores novos atores, estão extremamente confortáveis nesses papéis.

Assim, quando vemos que Hayley e Joss (Chris Alonso) servem como agitadores para as festas com a mão do mal, onde as regras precisam ser cumpridas à risca, vemos a típica questão adolescente: o sentimento de pertencimento aflorar, onde tudo mundo quer estar, e fazer parte, da festa.

E em uma dessas festas, Mia, a melhor amiga Jade (Alexandra Jensen), o namorado dela Daniel (Otis Dhanji) e o irmão menor Riley (Joe Bird) acabam por descobrirem como 90 segundos podem mudar suas vidas para o terror da mãe deles (Miranda Otto).

E nada de cantarem, e performarem Chandelier dentro do carro, no meio do trânsito, vai ajudar esse grupo a enfrentar o que vem pela frente. Em uma das melhores passagens do longa, os Philippou mostram como o contato desse grupo de jovens com o sobrenatural funciona como uma droga, do momento que eles veem as entidades que a mão convoca, os olhos escuros, e o sentimento de sair do corpo e deixar um espírito se apossar dele. E tudo parece divertido, e tudo mais, e a câmera corre para mostrar a maior parte de coisas, numa quantidade mínima de tempo, mas Fale Comigo também vai por desacelerar um pouco na medida que as coisas se complicam, as possessões rolam solta, e temos alguma coisa vinda do outro lado ficando presa na nossa realidade. Afinal, ela foi convidada né?

Como um filme enxuto sinto que os diretores não se preocupam muito em dar explicações além do que as mais básicas, e o que podem soar como uma coisa um pouco preguiçosa em termos de roteiro, mas que se mostram um teste para saber se audiência vai pegar na mão desses personagens, desse conceito e embarcar com eles por essa jornada, afinal, o que Fale Comigo apresenta é muito sedutor em termos de mitologia a ser explorada, sequências a serem desenvolvidas, e questões que podem surgir na cabeça dos fãs enquanto vemos esses jovens “brincarem” por diversas noites.

 Credit: COURTESY OF A24

Como falamos, os temas tratados aqui são muito bem desenvolvidos na temática de terror que Fale Comigo se embrulha. Os estágios de luto são passados e percorridos principalmente por Mia que realmente se mostra uma figura complexa e interessante de se acompanhar, mesmo que em boa parte do filme se apresenta uma protagonista nada confiável ou agradável de estar perto e até mesmo torcer.

Enquanto faz esse passeio por momentos bem difíceis da vida dessa personagem, Fale Comigo se apoia em cenas gráficas e extremamente chocantes para fazer valer a pena acompanharmos essa nova empreitada no terror e que se garante em entregar um dos mais bacanas longas do gênero nos últimos tempos.

E que no final, entrega um filme que vai ficar falando com você durante alguns dias. Te garanto. 

Avaliação: 3.5 de 5.

Onde assistir Fale Comigo?

Fale Comigo chega nos cinemas nacionais em 17 de agosto.

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