Desejos S.A. | Crítica: Reviravoltas com gostinho brasileiro

Nova série nacional do STAR+ segue a linha de produções de M. Night Shyamalan e entrega reviravoltas com gostinho brasileiro.

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A premissa da nova atração nacional do Star+ chamada Desejos S.A. é uma bem simples: acompanha personagens que têm a possibilidade de realizarem os seus desejos mais íntimos através de uma ligação para uma empresa que eles encontraram em um folheto perdido por aí. 

E bem no tom de Black Mirror, nos episódios menos focados em tecnologia e mais nos personagens, misturado com uma coisa que vemos nos filmes mais recentes do diretor M. Night Shyamalan, Desejos S.A. surpreende e empolga. Talvez seja pelo bom roteiro, talvez pelas boas atuações do elenco cheio de nomes conhecidos da TV e do cinema brasileiro, ou por que pegou um formato mais serial e colocou um temperinho brasileiro nessa história.

E falando história, dos 6 episódios da atração, a trama mostra histórias isoladas e que se conectam, seja com eventos, personagens, ou reviravoltas, uma com as outras. E talvez, esse seja o grande triunfo de Desejos S.A.. Por ter episódios curtinhos, é fácil maratonar a temporada 1 de uma vez. É como vermos um grande filme interconectado, mas com histórias com começo, meio e fim. 

Alejandro Claveaux em cena da série Desejos S.A. Foto: Walt Disney Company Brasil/Star+. All Rights Reserved.

Claro, temos alguns episódios mais interessantes que outros, episódios com reviravoltas mais cabeludas que outras, episódios com atores mais conhecidos e que ajudam a contar essa história, mas no final, sinto que Desejos S.A. é um grande e bacana trabalho colaborativo. Do roteiro, da direção, dos atores, da edição e tudo mais. Falando do roteiro, a atração é escrita por Horarcio Convertini, Martín Bustos, e ainda com a colaboração de André Brandt e Gui Cintra, onde os episódios mais interessantes de Desejos S.A. definitivamente ficam com o 1º, onde vemos Josué (Alejandro Claveaux) estar obcecado por Valéria (Pâmela Tomé) que por acaso é sua cunhada, ou melhor a noiva do seu irmão. O timing cômico da situação que o personagem de Claveaux, muito bem por sinal, se mete, conduz o episódio, mesmo que a narrativa flerta com possíveis tramas que poderiam soar problemáticas. Mas, pelo menos nesse episódio, os roteiristas não vão por esse caminho e deixam os atores serem os verdadeiros destaques do episódio.

Afinal, toda a parte que já envolve o personagem no hotel, depois que a organização Desejos S.A. concedeu o desejo que o analista financeiro queria é, ao mesmo tempo, pitoresca e também tensa de se acompanhar pelo fator da imprevisibilidade que é apresentado aqui. Talvez seja o uso da máscara que o personagem usa que ajuda a compor esse tom mais amalucado e mais intrigante de se acompanhar.

E que no final, faz o 1×01 – O que Você Quiser, Quando Quiser meio que ditar o tom da atração de maneira geral. Mas também quando chegamos em 1×02 – O Testamento é como se estivéssemos vendo outra série. O contraste do primeiro para o segundo é gigante, mas isso só mostra o poder de uma série antológica, ou aqui no caso semi-antológica, e o elenco envolvido que segura bem essas mudanças bruscas entre os episódios. A segunda história, a da empregada Lucimar (Gilda Nomacce) com o patrão ex-militar (Luciano Chirolli) é um pouco mais intimista, mais puxada para uma realidade nossa, e sem muitas firulas, cores, e momentos mais descontraídos do que o episódio anterior. Mas, claro, tem um propósito de estar ali, e estar ali, logo no começo da temporada. 

Daniel Rocha e Carol Castro em cena da série Desejos S.A. Foto: Walt Disney Company Brasil/Star+. All Rights Reserved.

Desejos S.A. então parte parte o episódio 3, e que talvez, seja o mais polêmico da temporada, o 1×03 – A Senha que é liderado pela fenomenal Carol Castro e que acompanha uma advogada que quer uma coisa aparentemente simples: a senha do celular do marido (interpretado por Daniel Rocha que também está excelente). As reviravoltas desse capítulo foram as que mais me chamaram atenção, seja resolução da trama espinhosa e que poderia ir para caminhos bem duvidosos, narrativamente, falando, seja pela mensagem que o episódio quer passar. Claro, a opção para a resolução da história, ainda me preocupa um pouco e soa um pouco sem um cuidado e acaba por banalizar toda uma comunidade online e estou curioso para ver a recepção on-line do episódio quando as pessoas chegarem nele.

Mas, pelo menos, o capítulo serve para amarrar, pela primeira vez, as tramas do seriado, afinal, o que começou lá no 1º, termina aqui no 3º. E assim, o espectador começa a entender a estrutura que é apresentada para Desejos S.A. e quando você vê, você já está envolvido, viciado, e pronto para dar play, o mais rápido possível nos 3 próximos episódios para quais são as histórias e como vão se conectar com tudo que já vimos.  Acho que o 1×06 – O Ídolo e 1×05 – A Porta ao Lado fazem um bom combo e tem não só o retorno de atores e personagens que vimos na primeira leva, mas também temos excelentes atuações de Fábio Herford como um motorista de van que vê a vida ganhar novos ares quando um vizinho (Marcos Pasquim) muda para o seu prédio e também de Patrícia Gasppar como Suzette uma beata, crente fervorosa e que por acaso é fã (a maior fã!) de um cantor pop interpretado por Diogo Nogueira.

No final, Desejos S.A. faz uma grata surpresa, numa série que prende atenção, leva bons questionamentos e que é marcada por boas atuações. Com os serviços de streaming apostando em produções nacionais que tentam fugir de reality show de gostos duvidosos, Desejos S.A. definitivamente estreia com ares de megaprodução e que coloca outras séries internacionais no chinelo. E de chinelo Havaianas, claro, porque aqui é o Brasil (do Brasil!)

Desejos S.A. está disponível no Star+.

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