Rebel Moon | Crítica: Um longa com a assinatura Zack Snyder para o bem ou para o mal

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Depois de basicamente lançar o Universo da DC nos cinemas e sair no meio do caminho, o diretor Zack Snyder foi para um estúdio onde deve ter pedido total liberdade e controle criativo. E isso é sentido em como Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo (Rebel Moon – Part One: A Child of Fire, 2023) se apresenta ao longo de mais de 2 horas de duração.

O longa que foi exibido pela primeira vez na CCXP 23 no começo de Dezembro chega agora na Netflix como um dos grandes destaques do final do ano da plataforma. A galera vai assistir? É o que a plataforma espera pela divulgação e pelo marketing gigante que o filme teve. Os fãs de Snyder vão.. agora resta saber se o filme vai sair da bolha, afinal, Rebel Moon seja pelo bem, seja pelo mal é um dos filmes que mais gritam Zack Snyder e é todinho a assinatura do diretor.

Charlie Hunnam, Michiel Huisman, Sofia Boutella, Staz Nair e Djimon Hounsou em cena de Rebel Moon. Foto: Cr. Netflix ©2023/ Courtesy of Netflix

Mesmo que cinematograficamente impecável em termos de visuais e de identidade (as cenas em câmera lenta, o sentimento de escala gigante), Rebel Moon parece sofrer também ao beber de todas as fontes de filmes de gênero, mesmo que depois consiga encontrar sua identidade por conta desses personagens. 

O que Snyder entrega aqui é um filme de criação de equipe na forma mais tradicional e narrativamente simples possível. . É a história clássica dos mocinhos vs os vilões, o bem e o mal, David Vs Golias que cerca e marcou o cinema de gênero durante anos. Rebel Moon pega tudo que deu certo (Star Wars! Duna! Game Of Thrones! Avatar!) e coloca em sua trama para tentar fazer alguma coisa acontecer.

As coisas acontecem? Sim. É da melhor forma que poderia? Talvez não. E isso acaba por ser uma faca que corta para os dois lados, ou um blaster gigantesco que os personagens usam, que acaba por dar um grande tiro no pé tanto do diretor quanto do filme.

Afinal, muito da trama parece grandiosa para ser apresentada em um primeiro filme, com muitos personagens para serem desenvolvidos, e uma história que já vimos muito por aí. Mas não deixa de ser muito bonito de assistir. 

Essa “space opera” que Snyder quer contar (o diretor também assina o roteiro com Kurt Johnstad e Shay Hatten) impacta pelos visuais que talvez estejam ali para disfarçar as imperfeições dessa lua cheia de buracos que acaba por ser Rebel Moon.

Claro, boa parte do elenco está bem, de Sofia Boutella como a nossa protagonista meio Rey, meio Sarah Connor e Djimon Hounsou (figurinha carimbada nos projetos de herói) para um ótimo Charlie Hunnam e um detestável Ed Skrein que dá vida para o vilão imperial que a história do filme tem. Mas, ao mesmo tempo, falta alguma coisa, uma liga (que não é da Justiça), uma faísca que faça tudo empolgar efetivamente para nós queremos nos preocupar com essa história, esses personagens e essa mitologia. 

Os personagens são bons, os atores mesmo não sendo tão conhecidos do público também, mas talvez a forma como Snyder os usa em Rebel Moon tenha sido o problema. Afinal, eles são muitos e são introduzidos na medida que a jornada de Kora (Boutella) é apresentada, juntamente com os fragmentos do passado da personagem.

O longa é sobre Kora, e sua história de origem, mas as informações sobre a personagem e suas motivações acabam por serem jogadas de uma forma que atrapalham a narrativa do filme que tem ninguém mais ninguém menos que Anthony Hopkins em sua narração.

Ed Skrein em cena de Rebel Moon em cena de Rebel Moon. Foto: Cr. Netflix ©2023/ Courtesy of Netflix

Durante várias passagens do filme Rebel Moon funciona como uma coisa mais ou menos assim, nossa que legal agora a trama vai engrenar… não, lá vem mais um flashback longuíssimo. E isso atrapalha um pouco a construção do mundo do filme que é uma coisa que Snyder sempre foi bom, mas aqui parece que temos muitos brinquedos (aka personagens) para o diretor brincar. 

Parece que faltou alguém, seja um produtor associado, um executivo da Netflix, alguém de fora, ou até mesmo a esposa Deborah Snyder (produtora aqui do filme também) para parar, analizar o contexto como um todo, e falar: Zack que tal se pararmos isso? Ou editarmos aquilo? E foi como o diretor tivesse respondido: “É simples. Eu quero tudo.” igual os personagens do filme fazem.

Na medida que Kora vai em busca de Han Solo, digo do sagaz mercenário Kai (Hunnam, finalmente assumindo o lado menos herói e mais anti-herói) e começa a reunir diversos “rebeldes” para tentar derrubar a ameaça do general Noble (Skrein ameaçadoramente bem) e salvar o planeta agrícola que ela agora chama de lar, Rebel Moon faz diversas passagens por esse novo universo galáctico (chamado de Motherworld) que Snyder cria e que realmente dá vontade de passar mais tempo nele. 

Afinal, temos personagens interessantes como a guerreira samurai Nemesis (Doona Bae), o guerreiro Darrian Bloodaxe (Ray Fisher) com sua arma gigante a tira colo (seria um agrado do diretor para compensar o fato que o ator nunca conseguiu fazer isso com o Ciborgue?) e a irmã Devra (Cleopatra Coleman). Mas são muitos e boa parte deles estão ali por estarem ali e por representar arquétipos de personagens que já vimos antes.  

E até mesmo a parte que Kora chega para recrutar o cabeludo descamisado que parece ter saído de 300, Tarak (Staz Nair), Snyder usa todos os efeitos especiais disponíveis (numa cena que lembra e parece querer homenagear Harry Potter com a criatura alada que lembra um grande hipogrifo) para tentar dar um toque mais grandioso para o longa.

Assim, Snyder consegue mostrar um pouco que consegue contar boas história, mesmo que com Rebel Moon segue por flertar com diversas outras produções na medida que reúne essa tropa na tentativa de salvarem o planeta e a galáxia das forças do Império. E até mesmo essa parte do Império, com a mitologia apresentada, é bem construída, mas como falamos tudo soa como um grande lugar comum em termos de apresentação desse universo em relação ao que já foi visto, onde, no final, não temos nada de novo.

A conclusão que fica é que Rebel Moon tenta ser um novo universo para a Netflix, mas Snyder apenas faz o que sabe fazer de sempre. E para a criação de uma nova franquia tão grandiosa é preciso ver os dois lados da lua e entregar alguma coisa que realmente empolgue logo de cara, não confiando que as pessoas vão assistir essa e depois, com sorte, acharem que o público no meio desse mar de conteúdo que tem saído vão ficar empolgados para uma parte 2 já confirmada e que tá tudo certo.

Nota:

Rebel Moon – Parte 1: A Menina do Fogo chega em 22 de dezembro na Netflix.

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