O Pior Vizinho do Mundo | Crítica: Mal humorado Tom Hanks garante que filme navegue bem entre comédia e drama

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Logo de cara já dá para afirmar que O Pior Vizinho do Mundo (A Man Called Otto, 2022) se apoia no carisma de Tom Hanks para dar certo. Isso é fato, só de você ver o material de divulgação, procurar saber sobre a premissa do filme e tudo mais. Até mesmo no trailer (veja abaixo se quiser antes de ler esse texto) isso fica mais que claro.

Mas, talvez, seja por conta de outros atores carismáticos que servem para o veterano Hanks ter com quem trocar em tela que o longa te abraça de uma forma muito calorosa para entregar uma história que navega bem entre ser uma boa comédia e um bom drama. Fica claro, que salvas exceções, uma pessoa só não faz um filme, e isso serve de lição até mesmo para a mensagem que O Pior Vizinho do Mundo quer passar.

O Pior Vizinho do Mundo
Tom Hanks em cena de O Pior Vizinho do Mundo.
Foto: Niko Tavernise/ Sony Pictures All Rights Reserved.

Remake americano da versão sueca, e ambos baseados no livro de mesmo nome, em O Pior Vizinho do Mundo, Hanks personifica esse senhor aposentado de uma forma que poucos atores hoje em dia conseguiram. O papel de Otto é um que exige uma sutileza gigante para interpretar essa figura ranzinza e rabugenta em que somos apresentados em O Pior Vizinho do Mundo que Hanks (no seu terceiro filme no ano) tira de letra. 

Para quem não sabe nada da trama, deve ser muito bom acompanhar as pequenas reviravoltas com um olhar fresco, saborear como a história se desenrola e como Hanks navega com maestria pelo tom cômico e dramático por essa amalucada jornada de Otto, o tal chamado pior vizinho do mundo. Mas será que ele é mesmo?

Das partes onde Otto só é um senhor excêntrico, um maluco por controle, e que quer fazer tudo certinho na vila onde mora e acorda cedo para fazer suas vistorias, até mesmo pela relação com os vizinhos, onde para ele todos eles são idiotas completos, o diretor Marc Forster pinta Otto como essa figura detestável, mas divertida de se assistir. É o famoso meme “homem idoso gritando para as nuvens”, onde Hanks cria uma figura para Otto mais “ele ladra mas não morde” do que alguém que efetivamente é uma pessoa amarga (diferente do personagem no longa original).

Assim, o diretor, logo nas primeiras cenas, isso faz, e como falamos, garanta que O Pior Vizinho do Mundo mostra que é um filme com uma camada para toda essa história toda, quando por fim, temos os pedaços do quebra-cabeça sobre o que realmente acontece com Otto, e os motivos que o levam, a se comportar daquele jeito, desenvolvidos pela trama.

O longa continua o lado mais divertidinho, cômico, na medida que um casal se muda para a casa na frente de Otto. Marisol (Mariana Trevino, ótima, uma revelação de fato para um público mais amplo, mesmo já sendo uma conhecida atriz mexicana) e Tommy (Manuel Garcia-Rulfo), esperam mais um bebê e já são pais de outras crianças e querem se encaixar no bairro.

Até que eles conhecem Otto que já brada as regras do local e ele mesmo estaciona o carro de mudanças e tudo mais. A relação entre essa família e seu vizinho de porta, se desenrola com situações triviais, mas sempre marcadas por uma excelente troca entre eles, principalmente entre os ótimos Trevino e Hanks. É como se Trevino fosse Enid Sinclair e Hanks fosse Wandinha, para puxar a lembrança para uma dupla completamente oposta um pouco mais recente na memória, mas que o cinema tem diversos outros exemplos, e sempre se esbalda quando essa dinâmica dá certo e a química entre os envolvidos transborda em tela. É o que acontece aqui em O Pior Vizinho do Mundo.

A dinâmica entre eles é o que move o longa, é o que dá aquele um gás para vermos O Pior Vizinho do Mundo desenrolar as maiores peripécias possíveis na medida que Otto entra na rotina da família e descobrimos queo casal vive por interromper as tentativas de suicídio que o personagem planeja.

Esse lado mais dramático, onde Otto não quer mais viver sua vida, sem a presença de sua falecida esposa, é o que deixa O Pior Vizinho do Mundo com esse ar mais triste e melancólico que contrasta e muito com a narrativa mais para cima que o filme também tem. Aqui não é sobre as reviravoltas da trama em si, se são ou não previsíveis, e sim, como cada ação é uma reação para os eventos acontecidos, e que mudam nossa percepção sobre esses personagens e suas atitudes ao longo do filme, na medida que Otto relembra com carinho, e um tiquinho de tristeza, os eventos que marcaram a vida dele e de Sonya (Rachel Keller).

Seja como eles se conheceram, onde na versão mais jovem Otto é interpretado por Truman Hanks, o filho do ator, e como a vida deles, assim como a de todo mundo, foi marcada por altos e baixos.

O Pior Vizinho do Mundo
Mariana Treviño e Tom Hanks em cena de O Pior Vizinho do Mundo.
Foto: Niko Tavernise/ Sony Pictures All Rights Reserved.

Assim, depois que o texto de David Magee para O Pior Vizinho do Mundo estabelece todas essas conexões e informações, e bem, vemos Otto decidir que não deixar esse mundo, e esse Grinch é contaminado pelo espírito do Natal (mesmo que o filme não se passe na época do Natal, mas aceitem a referência) vemos o personagem e a família da casa da frente lidar agora, como uma comunidade, igual lá no passado, que vemos nos flashbacks, quando Sonya estava viva, em que ela e Otto, trabalhavam ao lado dos vizinhos para melhorar a vida de todos em conjunto, onde todos eles precisam se unir contra um perigo que pode acabar com essa onda de harmonia.

Acho interessante que o arco da construtora querendo comprar a casa soe bem mais grave na versão americana, e também ajude a colocar algumas modernidades interessantes e que dão para o diretor Marc Forster, a oportunidade de brincar um pouco com essas questões mais atuais, seja com o personagem de um jovem trans (Mack Bayda) que tem um arco dramático muito interessante, ou até mesmo Otto se tornar uma história viral depois de um acontecimento em uma plataforma de trem que o vídeo aparece on-line e o personagem se torna uma celebridade momentânea. 

No final, O Pior Vizinho do Mundo entrega uma produção agradável, e que se garante em entregar momentos que vão te fazer chorar ao mesmo tempo que vão te fazer dar uma risada. Onde o filme se mostra que é como a vida, às vezes, temos momentos felizes, outros tristes, e que você não precisa ser o pior vizinho do mundo, e sim, apenas uma pessoa humana.

Avaliação: 3 de 5.

Onde assistir O Pior Vizinho do Mundo?

O Pior Vizinho do Mundo está em cartaz nos cinemas nacionais.

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