My Policeman | Crítica: Zigzag narrativo prejudica romance contado através de décadas

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Um drama de época, um amor que se passa por anos afio, e boas atuações. É isso que você leitor pode esperar de My Policeman (2022), um dos maiores lançamentos do Prime Video no ano e que fez o circuito de festivais para tentar mirar uma chance na temporada de premiações. 

Uma história bonita, uma atriz em ascensão e um pop-star que galga uma carreira nos cinemas também, e é o que chama atenção para My Policeman. Mas será que isso é o bastante? Para esse longa, para o que é apresentado aqui, a resposta é clara: Não. Então quer dizer que My Policeman é ruim? Não é. Poderia ser melhor? Claramente.

My Policeman
Gina McKee e Rupert Everett em cena de My Policeman
Foto: PARISA TAGHIZADEH | © AMAZON CONTENT SERVICES LLC

O roteiro de Ron Nyswaner para o filme My Policeman tenta honrar ao máximo o livro de Bethan Roberts com o mesmo nome, mas a estrutura narrativa que o longa se apresenta, com um zigzag narrativo, que talvez funcione com o livro, não dá muito certo em sua adaptação cinematográfica, ou “streaminggráfica” (essa palavra não existe), e talvez, o longa deixe um pouco a desejar.

Talvez pelo fato que a narrativa focada nos três personagens principais oscila muito ao ir e voltar no passado, e às vezes, ao assistir My Policeman estamos tão entretidos com o trio no passado que não dá para aproveitar o trio no presente e vice-versa. Mesmo que fique claro quando terminamos o filme de que por que isso foi feito. Mas mesmo assim acho que o longa poderia ter escolhido outra forma de contar essa história.

Logo no começo conhecemos o casal Marion (Gina McKee, a melhor atuação do elenco, sem dúvidas) e Tom (Linus Roache) que recebem em sua casa Patrick (Rupert Everett) que está doente e precisa de cuidados e repouso. O diretor Michael Grandage usa de uma certa forma a câmera como se fosse para nos dar um ar de intimismo e de aconchego para esses personagens. E My Policeman já nos joga para essa dinâmica curiosa na medida que Tom se recusa a ver o novo hóspede e fica claro que a relação dele com Marion não está lá grandes coisas.

Para entendermos como esse trio funciona e a bagagem que eles têm, e que não é apresentada para nós logo de cara, é preciso voltarmos no passado e conhecermos como tudo começou entre eles. Assim, vemos como o galante policial Tom (agora Harry Styles) conhece a jovem simples professora Marion (agora Emma Corrin) e como eles começam a viver um tipo de relacionamento por mais que Tom seja o mais respeitoso possível com a jovem, e para uma frustração dela, as coisas não avançam muito em outros departamentos.

My Policeman então nos apresenta para esse quase conto de fadas, numa idílica Inglaterra nos anos 50, onde finalmente Marion conhece seu príncipe encantado. Mas ao visitar um museu e conhecer o jovem funcionário do local, o culto Patrick (David Dawson), as coisas mudam, afinal, parece que o seu príncipe também encontrou um príncipe. Mas Marion não se toca disso. Claro, as coisas são muito sutis, e Marion demora para perceber as pistas, ou talvez, não queria enxergar logo de cara, e o longa fica nesse clima de mistério na medida que Patrick e Tom começam uma amizade fora do trio.

My Policeman
David Dawson, Emma Corrin e Harry Styles em cena de My Policeman
Foto: PARISA TAGHIZADEH | © AMAZON CONTENT SERVICES LLC

My Policeman tem sua narrativa focada nesses personagens e a cada momento foca um pouco em cada um deles, e suas visões dessa história, e de como tudo aconteceu na medida que Marion já mais velha encontra o diário de Tom.

Assim, as cenas no presente mostram a dureza ter que lidar com escolhas e as do passado a leveza da descoberta de sentimentos. E o filme fica nessa de ir e voltar entre as linhas do tempo e nunca dá tempo para realmente aproveitarmos efetivamente nenhuma das versões desses personagens.

Corrin realmente está muito bem aqui, com uma mistura de ingenuidade e doçura, muito parecida com a Diana que ela apresentou em The Crown. Mas ao mesmo tempo entrega e estaciona em um lugar comum, onde a atriz parece ficar presa nessa fórmula desses dois personagens. Já Dawson se garante ao lado dos colegas, e com Styles, eles tem uma química muito interessante juntos e realmente vendem esse amor proibido de uma forma extremamente convincente, seja nos olhares, nos toques, e nos momentos mais dramáticos e intensos. Afirmo, sem dúvidas, que a atuação de Styles aqui é muito mais interessante do que em Não Se Preocupe Querida, mesmo que ainda seja difícil desassociar o ator com sua persona musical, coisa que em My Policeman, Styles ainda enfrenta para superar essa barreira.

Mas de maneira geral, o trio do passado chega a empolgar um pouco mais do que o trio do presente, mesmo que McKee ganhe um destaque maior ao longo do filme por conta de algumas revelações que a trama apresenta. My Policeman entrega suas cenas de uma forma extremamente leve, e até mesmo um pouco mais romanceada, seja ao mostrar o quanto Marion sabia de seu namorado policial e do seu amigo do museu, e até mesmo de como os dois rapazes começaram a se envolver tanto amorosamente quanto sexualmente, seja no noivado de Tom e Marion ou com os dois já casados. 

My Policeman consegue então ao longo das décadas contar como esse trio se conheceu e se afastou de uma forma narrativamente falando interessante, cheia de pequenas reviravoltas, e mostrar que nem tudo é preto no branco, e tudo mais. Os atores conseguem dar uma complexidade para esses personagens, e suas atitudes, de uma forma bem bacana. Mesmo que estruturalmente isso prejudique o filme, afinal, são três personagens interpretados por atores diferentes em duas etapas completamente distintas de suas vidas.

No final, toda a ambientação convidativa de época, e o contexto social que esses personagens viviam, deixam My Policeman com um charme único e que entrega um filme bonito e sensível sobre amor e descobertas. Uma pena que acaba por oscilar entre algumas boas cenas e outras que apenas estão ali para ocupar um certo tempo do filme. Não dá para ter tudo e Marion é a prova que isso é verdade.

Avaliação: 3 de 5.

My Policeman chega no Prime Video em 4 de novembro.

Filme visto no Festival do Rio 2022.

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