E chegamos ao segundo ano de Manhãs de Setembro depois de uma boa travessia e alguns prêmios para Liniker. A série retorna para o seu 2º ano ainda mais madura, com um pouco mais de humor, mas sem deixar o drama e temas importantes de lado, ainda mais o fato de termos a comunidade LGBTQIA+ tão lindamente representada.
Solto a voz nas estradas
Já não quero parar
Meu caminho é de pedra
Como posso sonhar?
Primeiro vamos a parte musical, as músicas de Vanusa abrilhantaram o episódio, mas o tema da temporada ficou com a forte “Travessia“, que teve uma versão em sua voz, mas é uma canção de Milton Nascimento. Liniker colocou a alma nessa versão e a interpretou lindamente.
Sonho feito de brisa
Vento, vem terminar
Vou fechar o meu pranto
Vou querer me matar
E essa 2ª temporada foi sobre isso, entender os sonhos, ou o que os move, e Manhãs de Setembro precisou levar os sentimentos de Cassandra como brisa, para que ela pudesse reconstruí-los com tijolos ainda mais fortes. Descobrir que a mãe não era tão fã de Vanusa, e que seu conhecimento sobre isso era muito superficial, a fez reavaliar os próprios sentimentos pela música da cantora, fazendo até a consciência dela sumir um tempo, para então se apaixonar novamente por sua história, seus sentimentos por Vanusa e não a ideia do que sua mãe sentia.
A entrada do pai de Cassandra após um problema na volta de Curitiba, mostra muito do drama vivido por ela quando ainda morava na pequena cidade, e uma saída ao lado de Leide (Karine Telles, perfeita) mostra o sofrimento dela naquele lugar. Mesmo que seu pai Lourenço e sua madrasta Ruth (Seu Jorge e Samantha Schmütz) estejam mais tranquilos, tudo ali lembra o sofrimento que ela passou, a mãe que fugiu… E novamente ela precisou fazer isso para sufocar esses sentimentos.
Gersinho (Gustavo Coelho) é um elo lindo para mostrar o quanto ele ama essa nova mãe e como ele faz as pessoas abrirem o olho para como ela é incrível. Ele passa por omentos difíceis, como ter descontado nele os problemas de Cassandra, mas ela, com boas sacudidas de Leide, acaba vendo o que faz. Os momentos deles vão ficando cada vez mais delicados e gostoso de ver, até mesmo nas falhas de Cassandra, ele acaba apontando caminhos bons para ela.
Gosto demais da forma como Roberta (Clodd Dias) e as meninas fecham uma irmandade e se apoiam em todos os sentidos, seja na hora de arrumar trabalho, ou na hora de festejar pequenas conquistas. Roberta é uma liga muito interessante nessa vida delas e Cassandra homenageando-a no show foi bem legal.
Decio (Gero Camilo) e Aristides tiveram (Paulo Miklos) tiveram uma trama interessante sobre envelhecer e como isso afeta as pessoas da comunidade. Não aceitar que está com algumas coisas é muito comum e ter alguém ao lado neste momento, onde envelhecer é difícil para os LGBTQIA+, é muito bom ser mostrado neste carinho.
O drama de Ivaldo (Thomas Aquino) foi mais em cima de se conhecer, se entender solteiro e ter a certeza de seus sentimentos por Cassandra, além do fato de lidar com uma filha que espera um pai mais liberal e assim abusar da hospitalidade dele fazendo festas e ele não dando limites. Momento que poderiam ter aprofundado mais as coisas foi quando seus amigos o confrontaram por ele estar namorando uma travesti.
Manhãs de Setembro é muito leve nesses quesitos, mostra a realidade das pessoas trans de forma mais dura na batalha pelo seu ganha pão, e não foca no preconceito e dores deles, mas isso não quer dizer que não mostre o quão difícil é viver e sobreviver.
Essa temporada encerra de forma linda mostrando Cassandra indo atrás de sua mãe, mas como será que ela irá lidar com tudo isso?
Manhãs de Setembro é sobre as diversas Cassandras que precisam peitar o mundo e viver seus sonhos, e a série mostra o turbilhão de emoções que percorre a todas. Os dramas de seus personagens são bons, intensos, mesmo que ainda ache que faltou entrar mais no da mãe de Grazy.
Vale, como sempre, ressaltar a evolução de Leide e como Telles entrega momentos tão incríveis, assim como Miklos e Gero.
Manhãs de Setembro | Crítica 1ª Temporada: Trazendo esperança, série apresenta vida de mulher trans descobrindo amor e aceitação
Manhãs de Setembro tem suas duas temporadas disponíveis no Prime Video.
PS: Tentei ao máximo colocar meus sentimentos sobre a série, como faço com todas as que eu posto aqui no Arroba Nerd, mas sei que este não é meu lugar de fala, por mais que seja gay, sou branco e cis.
