É inegável que M3GAN fez um grande sucesso quando saiu lá em 2022. O longa da boneca/robô assassina que faz tudo para proteger uma garotinha entrou sim para a cultura pop, para o imaginário popular e com isso uma sequência era inevitável de acontecer por conta do sucesso do primeiro filme que chegou a arrecadar mais de US$ 180 milhões em bilheteria em todo mundo.
M3GAN também veio num momento específico em Hollywood, um pós pandemia, onde a máquina de gerar conteúdo e a busca por transformar tudo em franquia, apostar em sequências, reboots, revivals e tudo mais, só crescia. Claro, o longa não deixa de ter sido uma aposta da Blumhouse em uma história original, mas, também, convenhamos é uma que bebeu de diversos fatores que se juntaram e moldaram a narrativa dessa trama que misturou terror, tecnologia, relações familiares e bonecos assassinos. Na época, M3GAN apresentou uma coisa antiga, com carinha de novo, e que há anos já era contado no gênero, tanto que até se tornou mesmo um subgênero do terror.

E agora temos a sequência, onde parece que M3GAN 2.0 (2025) ao falar sobre IA criou um novo filme que poderia ter saído muito bem ter saído de um roteiro feito por uma IA mesmo. Chat GPT me cria uma trama para uma sequência de M3GAN que amplie a história? *esperar análise*. No novo filme, de certa forma M3GAN está de volta e a história se passa anos depois dos eventos do primeiro filme, onde sequência traz de volta todos os outros personagens de volta, entre humanos e robôs e entrega uma trama com mais comédia, menos terror, e mais ação.
As frases de efeito também retornam, mas acho que a trama tenta ser mais do que precisava, tenta entregar uma complexidade maior do que deveria ter, e aí M3GAN 2.0 se embola um pouco e acaba por ser vítima do próprio sucesso. E indago aqui: será que M3GAN foi um sucesso só? Que deu certo por uma combinação de fatores única, viral, e que caiu na graça do público por ser lançado num momento e época bastante específico? O quão difícil é replicar uma coisa que deu certo no passado? Ainda mais numa Era onde tudo vem em ondas e coisas, assuntos, e tópicos mudam de uma forma muito rápida e lutam para não serem engolidos pelo o próximo?
Ouso dizer que essa bonequinha perdeu o charme. Acho que muito da diversão em M3GAN era que a história não se levava a sério, e agora, anos depois, o filme 2 se leva em alguns momentos na medida que o escopo da narrativa também aumenta e M3GAN 2.0 deixa de ser somente a história de uma engenheira que criou uma boneca amiga para a sobrinha lidar com o luto da morte dos pais para ser algo a mais. Mas será que precisava fugir tanto disso?
M3GAN 2.0 coloca os personagens em situações maiores, contextos muito maiores, do que os vistos no primeiro filme na medida que somos introduzidos por um outro projeto de inteligência artificial que agora tem fins militares chamada AMELIA (interpretada aqui por Ivanna Sakhno). E na medida que AMELIA em si também ganha uma certa consciência, trazer M3GAN de volta se torna cada vez mais inevitável para Gemma (Allison Williams) e Cady (Violet McGraw) que agora tentam seguir suas vidas sem a presença da bonequinha que mudou a vida delas. Mas como vimos no filme, será que M3GAN realmente tinha mesmo ido embora?
Acho que talvez a grande diferença de tom entre o primeiro e segundo filme se dá pela troca de roteiristas. O primeiro tinha roteiro de Akela Cooper (que trabalhou também com James Wan em Maligno e A Freira 2), onde aqui para M3GAN 2.0, o diretor Gerard Johnstone retorna para assumir as funções do primeiro filme e também cuida do roteiro da sequência.
Em M3GAN 2.0 ainda temos momentos e cenas, onde a relação M3GAN, Gemma e Cady tem o foco na trama, e o filme mostra ainda como a vida dessa família mudou com a chegada da boneca e depois como a sua destruição no final do primeiro filme mudou tudo mais uma vez. Mas ao colocar o projeto de M3GAN por aí, com o envolvimento do governo, e transformar tudo isso num comentário sobre a indústria armamentista, M3GAN 2.0 se torna um filme de ação propriamente dito com a bonequinha de volta sim, com upgrades, cortes de cabelo estilosos e até armaduras brilhantes, mas que foge um pouco do que deu certo no primeiro filme.

Nova M3GAN, novas ameaças. Se antes a ideia era impedir a tecnologia de se sobressair dos humanos, agora, no segundo filme, o que está em jogo é como a sociedade pode coexistir com essa tecnologia e o que fazer quando ela é atualizada e segue a ter pensamento próprio. M3GAN retorna a ter um corpo para tentar impedir a outra robô com seus planos secretos de trazer o caos e destruição da humanidade. E essa mudança é sentida no filme. Já que faltou muito pouco para M3GAN não sair gritando: “Eu voltarei.” como fazia Arnold Schwarzenegger em O Exterminador do Futuro.
Mas também fica claro que em M3GAN 2.0 só existe espaço para uma boneca bocuda e debochada. Já que pelo menos o humor da personagem continua o mesmo e os olhares fulminantes também estão de volta. “Segurem suas pepecas” diz M3GAN em uma das cenas logo depois que ela está volta em total glória, mesmo que antes, no corpo do um robôzinho sem graça, também conseguiu entregar bons momentos.
Mas como falamos tudo que sai da dinâmica M3GAN, Cady e Gemma soa fraco e desinteressante. Quando elas precisam encontrar a excêntrica figura dentro do mundo da tecnologia chamada Alton Appleton (Jemaine Clement) e as duas robôs bolam planos diferentes para seduzir o bilionário com carinha de vilão de Austin Powers, ou até mesmo, o novo parceiro de Gemma, o ativista de IA Christian – é ChrisTIAN – (Aristotle Athani) e também o retorno dos colegas de laboratório de Gemma, a dupla Cole (Brian Jordan Alvarez) e Tess (Jen Van Epps). Nada disso funciona bem na sequência e parece que todos eles são sátiras e alívios cômicos.
Nem mesmo quando M3GAN 2.0 ensaia algum tipo de reviravolta na trama, ou quando a trama coloca M3GAN em um chip dentro da mente de Gemma, ou até mesmo quando M3GAN e AMELIA finalmente se enfrentam de boneca para boneca. É como se o código de M3GAN tivesse sido alterado e alguém esqueceu de fazer o backup do original que tinha o mapa de como tentar atingir o sucesso do primeiro filme. E com o final indicando que, talvez, M3GAN vai continuar a matar, dançar e falar barbaridades, nada mais justo que alguém lá na Blumhouse/Atomic Monster vá atrás desse backup por que essa franquia não vai se sustentar sozinha no carisma e no poder viral de M3GAN por muito mais tempo não.
E boa sorte para o spin-off do universo que chega nos próximos meses e para um futuro M3GAN 3.0 porque a bateria dessa bonequinha tá acabando e ela vai ficar sem passos de dança para garantir a atenção do público.
M3GAN 2.0 chega nos cinemas nacionais em 26 de junho.