Instinto Materno | Crítica: 2 atrizes Oscarizadas, 1 mistério

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Não há como negar que a grande força de Instinto Materno (Mothers’ Instinct, 2024) acaba por ficar com as suas duas protagonistas e a atrizes que as interpretam.

O longa vem da produtora de Jessica Chastain logo após a atriz ter levado o Oscar por Os Olhos de Tammy Faye (2021) e aqui ela se junta com outra atriz vencedora do Oscar, e que também produz o longa, a novamente em alta em Hollywood, Anne Hathaway, onde as duas estrelam este drama com pitadas de suspense e paranóia. E olha que Chastain e Hathaway entregam mais do que sonhamos com o longa que surpreende.

É como falaram em um comentário na página do filme no app dos cinéfilos, o Letterboxd, Instinto Materno é como Saltburn, só que em vez da obsessão ser a propriedade, acaba por ser os filhos. E realmente, era preciso duas atrizes Oscarizadas e com o talento de Chastain e Hathaway para fazer o longa dar certo. E realmente dá por conta delas. É o terceiro projeto juntas depois de Interestelar (2014) e Armageddon Time (2022), mas realmente é um que as duas estão ali cena a cena contracenando basicamente juntas o tempo todo. 

Jessica Chastain em cena de Instinto Materno. Foto: Studio Canal/Imagem FIlmes. All Rights Reserved.

Afinal, grande parte de Instinto Materno se apoia nesse jogo de sombras, de dualidade, e de mistério, sobre o que realmente está acontecendo e quem no final das contas está por falar a verdade. Assim, quanto mais Instinto Materno caminha por essa linha tênue do que é verdade, o que é paranóia, e o que é puro instinto de sobrevivência, mais que o longo entrega os seus melhores momentos e passagens. E claro, ter duas atrizes do calibre de Chastain e Hathaway ajuda e muito. É um filme que daria uma nova estatueta para ambas? Claro, que não, mas como elas estão BEM aqui.

Instinto Materno é um longa que claramente abusa de suas protagonistas em tela e as usa da melhor maneira possível. O que começa com uma amizade sincera entre vizinhas, mesmo que com personalidades diferentes, passa por eventos traumáticos em que uma ajuda a outra, e depois tudo desmorona e caímos em um jogo de gato e rato extremamente envolvente, de ficar na ponta da cadeira no cinema, e que leva a narrativa para lugares que beiram o doido e inacreditável. 

Em Instinto Materno conhecemos as vizinhas Celine (Hathaway) e Alice (Chastain) que vivem suas vidinhas perfeitas, no subúrbio, nos anos 60 com seus maridos e famílias. Mas mesmo com essa apresentação perfeita dessas personagens, logo de cara também vemos que no meio de figurinos perfeitamente bem desenhados, costurados e montados com chapéus, luvas, e jóias, existem, claro, rachaduras nesses espelhos que refletem esse mundinho idílico que as duas vivem. Das relações com os maridos, as discussões dos casais à porta fechada sobre temas do cotidiano, para os sorrisos amarelos, e drinks nas mãos em eventos públicos e nas festinhas das vizinhanças. E como Instinto Materno acaba por ser um filme bonito e ao mesmo tempo extremamente melancólico de se assistir. No meio da beleza da época, dos figurinos impecáveis dessas vizinhas, e dessas atrizes, o diretor Benoît Delhomme acerta no tom visual de Instinto Materno, sua estreia no cargo, depois de quase 70 projetos como diretor de fotografia. 

Anne Hathaway em cena de Instinto Materno. Foto: Studio Canal/Imagem FIlmes. All Rights Reserved.

Forte no visual, é como se estivéssemos assistindo um jogo de sombras e luz gigantesco na medida que vemos essa amizade ruir e se despedaçar quando Max (Baylen D. Bielitz) sofre um acidente e faz uma enlutada Celine se isolar de tudo e de todos, principalmente do marido (Josh Charles) e da melhor amiga e vizinha. Esse é o ponto de virada de Instinto Materno na medida que a trama acompanha esses personagens depois do que acontece e quando Celine retorna para casa depois de um tempo em uma instituição mental. Não vou dizer que o texto de Sarah Conradt (baseado no romance de Barbara Abel) seja muito rebuscado, mas também não é simples, e não entrega uma trama simples, ou que apela para caminhos simples.

Por que afinal, logo depois que Celine volta para casa, Instinto Materno então começa a apresentar diversas situações e cenários que levam Alice a suspeitar das intenções da vizinha. Para seu marido (Anders Danielsen Lie), a esposa está revisitando um quadro de instabilidade mental de quando o filho deles, Theo (Eamon Patrick O’Connell) nasceu. Mas para ela, alguma coisa lá dentro a diz que alguma coisa está bastante errada, principalmente pela forma como o seu filho e a vizinha compartilham o luto de ter perdido, ele o melhor amigo, e ela o filho.

Assim, Instinto Materno vai por costurar a trama e brinca com esse jogo de adivinhações e surfa na paranoia que é instaurada no longa. E como falamos, o visual do filme muda (graças ao toque de Delhomme), e se torna mais escuro, mais fechado, mais claustrofóbico e que faz com o espectador se envolva nessa história, nas atuações de Chastain e Hathaway que a cada momento estão em uma luta que só cresce com olhares e atuações corporais que dão um toque de intensidade bastante curioso.

Talvez, o longa peque um pouco quando apresenta suas resoluções e dá respostas concretas para tudo que está acontecendo lá nos seus momentos finais? Talvez. Eu particularmente acho que quando as peças do quebra-cabeça caem em seus lugares, nos fazem revisitar tudo que vimos, e que tivemos que prestar atenção nas últimas horas é que realmente faz tudo finalizar de uma forma bem interessante.

No final, mesmo que definitivamente fique claro que temos um filme ideal pra se ver no streaming, Instinto Materno acaba por ser um que exige atenção, para deixar o celular de lado, e também faz uma boa opção em ser visto nos cinemas por conta do trabalho de Chastain e Hathaway que aqui é fenomenal de se assistir, sem dúvidas. E também digo que existe a chance de Instinto Materno se tornar um clássico nos próximos anos, e principalmente no film twitter. 

Nota:

Instinto Materno chega em 28 de março nos cinemas nacionais.

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