Indiana Jones e a Relíquia Do Destino | Crítica: Passado e futuro colocam o chapéu e olham para a câmera

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É curioso notar que ao decidir retornar com diversos papéis que marcaram sua carreia, Harrison Ford se firmou como um dos principais nomes desse chamado boom de nostalgia que tem marcado Hollywood nos últimos anos. Quase 10 anos atrás, Ford reviveu um de seus personagens mais marcantes em Star Wars: O Despertar da Força (2015), logo depois, outro em Blade Runner 2049 (2017), e agora finaliza essa turnê do comeback com o retorno de Indiana Jones em um novo filme da franquia do herói de chapéu e chicote.

Harrison Ford em cena de Indiana Jones e a Relíquia do Destino
Foto:. ©2023 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.

E com Indiana Jones e a Relíquia Do Destino (Indiana Jones and the Dial of Destiny, 2023), Ford e a LucasFilm tentam capitalizar com o sentimento de nostalgia, com o carisma de Ford em tela, e com esse personagem querido e marcado na história do cinema. Eles conseguem? Essa é uma pergunta difícil de se responder, e talvez a resposta precise vir em termos de dinheiro arrecadado.

Afinal, ao mesmo tempo que Indiana Jones parece um personagem datado, fruto de uma época distante onde o faroeste era um dos gêneros mais celebrados e diversos personagens pipocaram nos cinemas como figuras marcantes e que conseguiam enfrentar uma legião de vilões (principalmente nazistas) sozinhos, de outro lado, ainda parece que existe espaço para contarmos essas histórias.

E nossa como Indiana Jones marcou esse período do cinema lá no começo dos anos 80 né? E depois nas inúmeras reprises na TV ao longo dos anos. Tínhamos a figura do arqueológico, dos artefatos antigos escondidos, dos vilões com planos malignos, e das aventuras das mais épicas, onde o personagem era munido de carisma, inteligência e um pouco de sagacidade e sorte. 

E nessa onda de super-heróis, personagens com dons sobrenaturais, de atualmente, fica claro que Indiana Jones e a Relíquia Do Destino vai na contra mão disso tudo e tenta pegar tudo isso que foi a essência da franquia ao longo dos anos para colocar nesse cinema hollywoodiano moderno e cheio de pirotecnias.

E Indiana Jones e a Relíquia Do Destino então foca no passado, na nostalgia em trazer de volta Indy para uma nova missão, contra nazistas, em busca de um artefato perdido, e coloca Ford de volta como o icônico personagem mais uma vez, e agora, ao lado de uma nova personagem que representa o futuro, onde temos a multitalentosa Phoebe Waller-Bridge em uma nova e divertida aventura Indiana Jones. 

Phoebe Waller-Bridge em cena de Indiana Jones e a Relíquia do Destino.
Foto: ©2023 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.

Claro, a presença de Ford é o que move, e o que deixa Indiana Jones e a Relíquia Do Destino com cara de uma aventura Indiana Jones. E o texto de Jez Butterworth, John-Henry Butterworth, James Mangold e David Koepp consegue fazer o espectador embarcar nessa história logo de cara quando um rejuvenescido digitalmente Indiana Jones (Ford) invade um acampamento nazista no final da Segunda Guerra Mundial, ao lado do parceiro de aventuras Basil Shaw (Toby Jones), onde ao longo dos primeiros 20 minutos resgata aquele sentimento aventuresco que sempre foi a cara da franquia.

O ar arrogante do personagem e o texto que se esforça para mostrar que Jones é o cara mais esperto da sala, os pequenos truques para se livrar das encrencas, a música tema, e as cenas de perseguição de ação adoidadas e com efeitos especiais um pouco duvidosos, deixam Indiana Jones e a Relíquia Do Destino com esse sentimento de conforto que nada mudou.

O longa se aproveita disso tudo para fazer com que Indiana Jones e a Relíquia Do Destino comece de forma acelerada e sem pisar no freio. E que fica claro que Indy está de volta. Até que não.

Rapidamente vemos que o artefato que o personagem busca, os inimigos que ele vence, e os aliados de missão, ficam para trás e agora vemos um Indy já mais velho, e vivendo em um tempo que talvez não seja um tempo que aprecie suas qualidades. Ele está para se aposentar na Universidade que dá aulas, vive as turras com o vizinho jovem, está para se divorciar da esposa, e parece que não consegue mais conquistar a atenção da sala de aula como antes.

Até que Helena (Bridge, extremamente carismática), uma figura do passado, chega para mudar as coisas. E a aventura de Indiana Jones e a Relíquia Do Destino realmente começa.

O longa então abraça seus arquétipos estruturais e de personagens, apresenta o vilão da vez (nazista, claro) na figura do ameaçador Dr. Voller (um ótimo Mads Mikkelsen), o objeto cobiçado da vez, um tipo de relógio antigo grego que foi criado por Arquimedes lá muito tempo, que foi quebrado em duas partes e que tem o poder de criar uma fenda no espaço-tempo, e que o time precisa encontrar e pesquisar localizações em diversos cantos do mundo para onde estaria escondido.

Mads Mikkelsen em cena de Indiana Jones e a Relíquia do Destino.
Foto: ©2023 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.

Então, Indiana Jones e a Relíquia Do Destino então coloca esses personagens nessa espécie de corrida maluca em busca disso. Mas sem deixar o lado um pouco mais místico e sobrenatural, e o humor, muito presente nas personalidades completamente opostas das figuras de Helena e de Jones, e que se chocam na medida que eles têm visões diferentes do que querem fazer, e como fazer, para impedir que o artefato caia nas mãos do vilão, com mais cara de vilão de Bond que a franquia teve. 

Bridge e Jones então criam aquela dinâmica clássica de personagens opostos e que deu tanto certo para o ator em diversos outros filmes. Bridge consegue deixar Fleabag de lado e realmente comandar uma incrível presença de tela, onde realmente mostra que se o futuro da franquia está em suas mãos, não poderia estar em melhores mãos. E ela nem precisou olhar para a câmera, quando Helena e Jones fogem de bandidos pelas ruas do Marrocos, em um carro teque teque e com a presença do jovem Teddy (Ethann Isidore). 

A direção de James Mangold (depois do ótimo Logan) se aproveita da temática aventureira para criar diversas boas cenas de ação, e de perseguição ao longo do filme. Seja em um trem em movimento, pelas ruas movimentadas de uma cidade antiga, ou até mesmo em uma caverna cheia de labirintos, Mangold compreende e entende o que a franquia precisa e o que esse filme precisa para estar dentro dela.

Na medida em que a tal relíquia do destino os leva para diversos cantos do mundo,  Indiana Jones e a Relíquia Do Destino apresenta a mitologia por trás do objeto, do poder que emana, e as consequências que nos aguardam, quando alguém conseguir colocar as mãos, nas duas peças, e as juntar, primeiro. Na medida que o longa gasta um tempo gigante para fazer os personagens desvendarem as pistas deixadas por Arquimedes junto com o espectador, o longa parece se encaminhar para selar o destino de mais um personagem de Ford.

Mas no final, fica claro que Indiana Jones e a Relíquia Do Destino parece querer traçar seu próprio caminho na medida que tira o gosto ruim do último longa (Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal), e faz esse novo retorno do chapéu e do chicote empolgar pelo que parece ser, e agora de verdade, pela última vez.

Avaliação: 3.5 de 5.

Onde assistir Indiana Jones e a Relíquia Do Destino?

Indiana Jones e a Relíquia Do Destino em cartaz nos cinemas.

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