Garra de Ferro | Crítica: Socos emocionais e perucas ruins

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O mais curioso de Garra de Ferro (The Iron Claw, 2023), talvez, fique com a mistureba de gêneros que lutam entre si nesse longa. A parte do ser “um filme de esporte” até garante boas cenas de lutas, mesmo que não converse com a temática mais camp dos anos 80 em que vemos esses lutadores de luta livre viverem, e definitivamente não combina com o drama, e com os socos emocionais que a história dá, ao contar os altos e baixos da família Von Erich que foi marcado por diversas tragédias ao longo dos anos.

É curioso também ver também que por mais que tente o diretor Sean Durkin não consiga navegar pelos gêneros dessa história, afinal, temos momentos que Garra de Ferro se leva extremamente a sério, outros em que fica claro que estamos vendo algum tipo de sátira, e em outros que o longa realmente se comporta e entrega um dramalhão familiar daqueles e bastante dos novelesco.

Zac Efron em cena de Garra de Ferro. Foto: A24/California Filmes. All Rights Reserved.

Assim, Garra de Ferro acaba por ser uma grande mistura disso ao querer contar essa história. Se dá certo, não dá para dizer, afinal, tudo parece muito mais over do que deveria ser, muito mais camp e galhofa do queria ser, e quando precisa ser sério, para tratar dos temas um pouco mais sérios, nunca parece que Durkin acerta, seja na direção, quanto no roteiro, para fazer essa virada. E talvez, isso seja o fator mais decepcionante do longa, em nunca conseguir ser tudo que ele poderia ser. Mas tem seus fãs por ai sim. E tá tudo certo.

Outro problema que Garra de Ferro também sofre, é que o longa nunca consegue ser sutil como deveria ser, e parece ser um grande soco de luta livre que vem e te tira do ringue quando precisa mudar de cena e do tom que a história quer contar.

E é uma pena, porque o elenco escolhido, com bons nomes e boa parte deles em alta em Hollywood, nunca consegue se sobressair e fazer milagres,  onde parece também que esse grupo de atores nunca conseguem fazer juz para essa história que é contada aqui e para esses personagens. Esse sentimento fica cada vez mais gritante ao assistirmos o longa, onde fica claro que Garra de Ferro parece mesmo ser mais um filme para TV do que um filme para se ver na telona.

Pode ter o selo A24, nomes conhecidos do grande público, mas, no final, para mim, é sim o que chamamos de uma produção Oscar Bait. Foi feito para mostrar seus atores em cenas dramáticas pontuais e “clipavéis”, embalado por uma uma boa música, e boas atuações, sem dúvidas. E se pescar um votante ali, pescou. Mas pelo visto, não pescou muitos deles, porque no final, mesmo com expectativas, Garra de Ferro passou batido na temporada 2023, 2024. 

E seria uma forçação demais, e principalmente num ano extremamente competitivo como foi esse e com diversas outras boas atuações deixadas de fora. Por mais que Zac Efron, Jeremy Allen White, Stanley Simons e Harris Dickinson estejam bem, como os 4 filhos Von Erich, com corpos sarados, e prontos para darem o seus melhores, mesmo com perucas horrorosas, parece que falta algo a mais para fazer Garra de Ferro engrenar.

Quem se destaca mesmo em Garra de Ferro e está excelente, é Holt McCallany como Fritz Von Erich. McCallany realmente é a melhor coisa do longa ao interpretar um ex-lutador, pai abusivo e grosseirão que reflete seus sonhos e esperanças nos filhos e é a única constante boa do longa e realmente está bem por estar detestável. 

A sempre ótima Maura Tierney, tendo feito bastante TV nos últimos tempos, em Garra de Ferro dá vida para a matriarca Von Erich, Doris, uma típica dona de casa sulista que nunca tem culhões para enfrentar o marido, e infelizmente, decepciona. Já Lily James quando pareceu engrenar depois de sua atuação como Pamela Anderson na série Pam & Tommy, alguns anos atrás, aqui também, acaba por entregar um dos elos mais fracos do filme.

No papel de Pam, uma jovem tiete dos irmãos lutadores e que acaba por casar com Kevin (Efron, bastante diferente do galã teen que foi), a atriz perde todos os pontos aqui, com uma personagem fraca, mal desenvolvida e que realmente é tão opaca quanto as cores dos calções batidos dos irmãos lutadores.

Talvez, esse também seja um, entre os diversos, problemas com Garra de Ferro: dar papéis cinematográficos para atores de TV que ainda não conseguem fazer a transição para a telona. Seja de James, que está mais do mesmo, para o queridinho de Hollywood do momento, o “chefe” Jeremy Allen White e até mesmo para Dickinson, que está nos cinemas há algum tempo e talvez seja o pior do grupo.

Maura Tierney, Holt McCallany, Stanley Simons, Zac Efron, Harris Dickinson em cena de Garra de Ferro. Foto: A24/California Filmes. All Rights Reserved.

E colocando assim, parece que Garra de Ferro é tudo ruim, mas o filme tem partes que chega a empolgas sim, da parte que recria esse EUA do interior, religioso, nos anos 80, para principalmente as cenas de combate que se desenrolam enquanto vemos Fritz forçar os filhos a competirem para ver quem vai ser o preferido, e favorito do pai, ganhar destaque nas lutas e tentarem garantir o título de campeão de luta livre.

Mas na medida que as tragédias acontecem, Garra de Ferro vai perdendo seu brilho, seu tom mais camp, e se torna mais dramático, mas não de uma boa forma. E na mudança de tom que o filme entrega, que acaba por ser muito brusca, muito 8 e 80, que falta sutileza, falta um trabalho de construção de história e de desenvolvimento de personagens. Tudo é muito rápido em Garra de Ferro, igual o golpe que leva o nome do filme, marca registrada dos Von Erich e que consiste em dar uma mãozada na cara do oponente, e que no final apenas desperdiça o elenco e o que poderia ser uma boa história a ser transportada para a tela grande.

Infelizmente, o que poderia ser um retrato de uma dinastia esportiva se torna apenas um compilado de poucas boas cenas, algumas frases de efeitos, corpos sarados e cabelos em perucas ruins para recriar os penteados das épocas. No final das contas, com Garra de Ferro é preciso ter garra para chegar até o final do filme, o que deveria ser o oposto com esse tipo de história. 

Nota:

Garra de Ferro está em cartaz nos cinemas.

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