Bob Marley: One Love | Crítica: Biopic tradicional é deixada de lado para celebrar cantor

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O boom dos filmes biográficos de nomes conhecidos da música mundial segue firme e forte em Hollywood como um gênero bastante explorado por novas produções. E depois de artistas serem indicados, e alguns até ganharem Oscars nas categorias de atuação por esses projetos, parece que muita gente ainda quer ter a chance de interpretar alguém que levou multidões para shows e que marcaram gerações.

Seja lá qual for o ritmo, ou gênero musical, as biopics de artistas vieram para ficar. E esse é o caso aqui do filme sobre o cantor Bob Marley que marcou os anos 60 e 70. Mas diferente de quem quer contar a história, Bob Marley: One Love (2024) não inova ou revoluciona em nada, em termos de produto cinematográfico, mas conta a história que quer contar, da forma que conta, e vida que segue.

Dono de uma filosofia de vida mais paz e amor (a Rastafári), Marley ficou conhecido em todo mundo por ser um contra ponto para a situação caótica que a Jamaica vivia cheia de conflitos e violência. E assim, esse projeto sobre a vida do cantor entrega, e se sai melhor não por ser ser uma biopic tradicional, e sim por focar num recorte da vida do cantor. O longa mostra não só a importância do cantor para a rápida mudança no cenário musical mundial, mas também para a situação política e social do seu país natal.

E assim, meio que de certa forma, também serve para homenagear o legado que o cantor deixou para o mundo, através dos seus filhos que produzem o filme, depois de ter descoberto um câncer com pouco mais de 30 anos e ter falecido no começo dos anos 80 aos 36 anos.

Kingsley Ben-Adir em cena de Bob Marley: One Leve. Foto: Chiabella James/Chiabella James – © 2023 Paramount Pictures. All Rights Reserved.

E assim como foi com Bohemian Rhapsody, Judy – Além das Estrelas, Rocketman e o filme filme da Whitney Houston, e do Elvis, onde todos esses projetos conseguiram encontrar um artista que trouxesse para as telonas a essência da pessoa que eles representam no filme, em Bob Marley: One Love não é diferente. E o trabalho de escalação, novamente aqui, foi fundamental e extremamente importante para o longa dar certo e se sair melhor que alguns dos projetos anteriormente citados. 

E o ator Kingsley Ben-Adir realmente se entrega e se transforma no cantor de reggae e entrega um excelente Bob Marley. E Ben-Adir se dá mais uma vez e parece querer coletar essas personalidades históricas depois de interpretar Malcolm X em Uma Noite em Miami… lá em 2020. E depois de passar pela Marvel Studios, na série Invasão Secreta, e se destacar, o ator mostra para que veio aqui também.

Afinal, não é só visualmente, com o uso de dreads, as roupas, e tudo mais que Ben-Adir entrega uma boa atuação. No longa, o ator se transforma por conta das expressões corporais, no tom de voz mais calmo e sereno que é aplicado. Ben-Adir faz mais do que apenas repetir trajetos e sim personifica Bob Marley de uma forma incrivelmente interessante de se assistir e nos leva de a cair de cabeça nessa história, mesmo que simples na forma como é contada.

Mas Ben-Adir acerta principalmente nas complexidades, no estilo de vida, e nas excentricidades que Marley tinha. Mas não quer dizer que tudo são flores, e tá tudo de boa no longa. Como outras biopics, Bob Marley: One Love não poupa em mostrar as partes ruins, mesmo que não vá por esse caminho, 100% a fundo em algumas questões mais delicadas e polêmicas da vida do cantor. Seja o consumo de substâncias ilegais, as bebedeiras, as traições, e tudo mais. Mas, o filme, também não pinta o cantor de santo, o que é importantíssimo para o projeto assim dar certo e coisa que Bob Marley: One Love acerta de certa forma.

O trabalho do roteiro em quatro mãos (Terence Winter, Frank E. Flowers, Zac Baylin e Reinaldo Marcus Green) em contextualizar o espectador sobre o relacionamento dele com Rita Marley (Lashana Lynch, ótima), desde da época que os dois eram mais jovens em flashbacks, até  o relacionamento dele com os filhos, e com os colegas de “trupie” são importantes para deixar Ben-Adir criar camadas para Bob Marley.

Principalmente depois que Marley sofre eventos traumáticos como a tentativa de assassinato e o diagnostico de cancer em que o cantor começou a ficar paranoico e sem saber em quem confiar já nos anos finais de sua vida.

Acho que o diretor Reinaldo Marcus Green que vem de uma outra história em que tinha o ator principal por interpretar alguém que existiu conhece aproveitar aqui o timing entre a narrativa dramática e a musicalidade que a história exige. Afinal, Bob Marley: One Love não é um musical, mas sim um drama com músicas, as músicas do próprio cantor e que são cantadas ao longo do filme. E Green navega por essas duas vertentes que o longa oferece de uma forma bastante interessante para visualmente esses dois lados do filme se unirem para contarem essa história. 

Kingsley Ben-Adir, Lashana Lynch em foto de Bob Marley: One Love. Foto: Chiabella James/Chiabella James – © 2023 Paramount Pictures. All Rights Reserved.

Não temos grandes shows, grandes apresentações, mesmo que a trama se concentre entre shows que Bob Marley fez na Jamaica e que serviram para unir a população no meio da guerra civil. Narrativamente falando são esses dois momentos que a trama estabelece sua tensão, mas a forma como Ben-Adir se comporta entre os dois eventos é diferente. 

O filme, diferente de Bohemian Rapsody que vai numa crescente que termina com o grande show de Fred Mercury, aqui segue diversos picos narrativos. Seja a tentativa de assassinato de Marley, a forma como a história estabelece a questão das visões, a ida para a Europa, onde vemos a maior parte do público nos shows serem majoritariamente branca, e depois como o empresário Chris Blackwell (James Norton) lidou com a carreira do cantor tentando sempre focar em regiões chaves como os EUA. 

No final, o trabalho de produção e do elenco de Bob Marley: One Love é fazer com que o filme sirva, e entregue um tributo, uma homenagem para o cantor. Dos nomes mais conhecidos do público como Ben-Adir, Lynch até Norton, todos estão extremamente entrosados para tirar melhor ao mostrarem essa curta passagem que Bob Marley teve no mundo, mas que deixou um impacto, sem dúvida, no cenário musical.

Assim, fica claro que é meio que é para isso que servem esses filmes, e por isso, que Hollywood apostou em fazer e continua a fazer esses projetos: não só para ganhar dinheiro, mas também para manter as memórias vivas dessas pessoas que foram maiores que elas mesmas.

Nota:

Bob Marley: One Love chega com sessões antecipadas já em 12 de fevereiro nos cinemas nacionais.

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