Festival do Rio 2023 | Meu Nome é Gal | Resenha

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Meu Nome É Gal participou da Première Brasil no Festival do Rio 2023.

Direção: Dandara Ferreira e Lô Politi.

Sinopse: Meu Nome É Gal retrata parte da trajetória de Maria da Graça Costa Penna Burgos, uma menina tímida que desde muito cedo soube que a música iria guiar seus caminhos. Aos 20 anos, Gracinha, como era chamada pela mãe, decide viajar rumo ao Rio de Janeiro para se tornar cantora. Lá, encontra seus amigos da Bahia: Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Dedé Gadelha, que acompanham seus primeiros passos na música profissional no final da década de 1960.

O que achamos: Melhor ver o documentário sobre a Gal, comandado pela mesma diretora.

Ao tentar prestar uma homenagem para Gal Costa, Meu Nome É Gal apenas comprova que Sophie Charlotte é uma baita atriz, com uma potência maravilhosa de se assistir e que, aqui, sem dúvidas, carrega esse projeto de uma forma contagiante.

Mas infelizmente esse recorte de vida, esse trecho da vasta e plural trajetória da vida dessa cantora, uma das maiores do Brasil, sofre com um filme que não sabe o que quer ser e contar.

Charlotte é fundamental para Meu Nome É Gal e faz com o filme tenha alma, cor e expressividade quando, ao mesmo tempo, acaba por não fazer jus a grandiosidade dessa cantora, o seu legado, e também o trabalha dessa que a representa. Com pouco mais de 1h30, Meu Nome É Gal falha ser filme formulaico de origem, ao mesmo tempo que também sofre também em não ser um tradicional, e não abraçar essa estrutura para contar essa história. Afinal, passagens e momentos da vida da cantora são jogados em tela, por um roteiro que não define as estruturas narrativas, e não estabelece os limites na quais vão contar essa história.

É tudo muito bonito em termos de ambientação e figurino, desde da chegada da chegada de Maria da Graça (Charlotte), vindo da Bahia para o Rio de Janeiro, até a forma como ela explode nas paradas musicais ao fazer uma parceria com Caetano Veloso, onde depois ganha destaque no cenário cultural nacional no movimento do Tropicalista que marcou o Brasil nos anos 60. 

E por mais que Meu Nome É Gal acerte nessas representações históricas de diversos momentos, e munido de cenas de arquivo, o longa apenas se apoia nessas passagens para estabelecer datas, pessoas, e situações do que efetivamente contar uma narrativa ficcional com um arco narrativo com começo, meio e fim. Ao querer contar essa história da lagarto que virou borboleta, falta-se também uma carga dramática, um momento de boom, que vem do arco de superação, e coisa que se espera desse tipo de produção.

 Tudo bem não seguir o padrão, afinal, Costa como artista serviu para quebrar paradigmas e padrões, mas o longa não se aprofunda em nada, nem nas relações da cantora, a parte com a mãe, ou até mesmo em outros relacionamentos pessoais. Parece que o filme nunca vai a fundo nas questões mais polêmicas, e desvia da complexidade que foi a cantora. 

Foto: Courtesy of Festival do Rio.

Meu Nome É Gal não é de todo ruim, o show de Costa em que vemos Charlotte com um figurino vermelho e uns espelhos é o momento que você acha que o longa vai explodir e tudo mais. Esse momento até serve como o ápice do filme, afinal, a atriz está monumentalmente gigante, mas o texto de Politi, Maria Buhler e Mirna Nogueira não sabe trabalhar o que vem nos momentos seguintes.

Os desfiles de nomes conhecidos do cenário musical, no começo do longa, apenas servem para apresentar e contextualizar a chegada de Gracinha na casa do Rio de Janeiro onde estavam Maria Bethânia (Ferreira numa caracterização excelente), Caetano (Rodrigo Lelis), Gilberto Gil (Dan Ferreira) e Dedé Gadelha (Camila Mardila) e também apresentar a figura do empresário Guilherme Araújo (Luis Lobianco). Aliás, junto com Charlotte, Lobianco é o outro destaque, e entrega um timing cômico mais um vez acertado e seu personagem mais ácido e debochado contrasta com os momentos mais pesados e que se mesclam com a carreira de Gal e a ditadura brasileira. 

Mas no final, Meu Nome É Gal apenas são alguns amontoados de trechos, com algumas músicas e passagens. Quase como se fosse pequenos esquetes para irem ao ar em algum perfil no TikTok ou canal no YouTube. Infelizmente, a história de Gal ficou mais bem contada de forma documental, talvez, até mesmo pela proximidade com os eventos que envolveram a morte da cantora. Sinto que para um longa da vida de Gal, precisasse de mais uns 10 anos para marinar essa trajetória incrível que merecia um projeto de ficção a altura. 

Nota:

Estreia no circuito comercial em 12 de outubro.

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