Drácula: A Última Viagem do Deméter | Crítica: Ruim de fazer vampiro se remexer no caixão

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A ideia e a premissa de Drácula: A Última Viagem do Deméter (The Last Voyage of the Demeter, 2023) era uma super interessante: contar uma história pouco conhecida, uma parte pouco explorada em Drácula de Bram Stoker, sobre a viagem do navio Deméter vista no capítulo “The Captain’s Log”.

Mas ultimamente nem tudo que tem uma boa ideia pode virar um longa metragem e aqui Drácula: A Última Viagem do Deméter com todo o potencial que tinha, afunda igual ao navio, visto na história, depois que chegou na costa de Londres em 1897 sem nenhum tripulante a bordo.

Dá para entender o apelo para o projeto, afinal, o senhor das Trevas, o Drácula em si, capturou a atenção de cineastas, e entrou no imaginário popular há anos, e é o segundo filme sobre o personagem no ano, depois do espirituoso e divertido Renfield.

Cena de Drácula: A Última Viagem do Deméter.
Foto: © 2023 Universal Studios and Amblin Entertainment. All Rights Reserved.

Mas Drácula: A Última Viagem do Deméter realmente faz alguma coisa de outro mundo. E por todas as razões erradas. É pavoroso o quanto o filme é ruim, entrega cenas ruins, diálogos embaraçosos, personagens nem um pouco bem desenvolvidos. Nem a ambientação escura, a atmosfera claustrofóbica, e o cenário pronto para entregar um bom filme de terror e suspense ajudam Drácula: A Última Viagem do Deméter a se sair bem nessa empreitada de colocar a tripulação como vítimas de um serial killer, aqui representado por um dos personagens mais conhecidos do cinema, mesmo que com uma aparência mais monstruosa e menos glamourosa.

O diretor André Øvredal até tenta, mas tudo é perdido do momento que o Deméter deixa o porto e parte para sua rota mar adentro. Drácula: A Última Viagem do Deméter tem cara de produção televisiva com orçamento pequeno, daquelas bíblicas que passam por ai na TV aberta brasileira, mas até isso joga contra o filme na medida que ultimamente tem séries de streaming tem caprichado tanto visualmente quanto narrativamente em contar boas histórias.

E pensando bem, talvez se Drácula: A Última Viagem do Deméter fosse uma produção para TV, e não um longa, o roteiro de Bragi F. Schut, Stefan Ruzowitzky e Zak Olkewicz tivessem mais tempo para desenvolver mais algumas coisas, esses personagens e essa história. 

O fato do roteiro tentar brincar com o suspense de “O que é essa criatura?” e “será que é essa criatura que está por atacar essa tripulação?” é querer brincar muito com a inteligência do espectador e marinar demais a paciência de quem for assistir. Sim, a criatura é um vampiro, sim esse vampiro, não é só um vampiro qualquer, é *o* Drácula, mesmo debilitado, e sim, é ele que está atacando a tripulação. Pronto, vamos para a próxima. 

E até mesmo a forma como toda a questão que envolve a criatura é apresentada, escondida nas trevas, até realmente aparecer em sua total glória, em um dos momentos do filme, lá para o final, e que era para ser um dos ápices filme, é entregue de uma forma tão sem graça, tão qualquer nota, onde a tentativa de criar um suspense, igual tivemos com o primeiro Um Lugar Silencioso, com o visual do Drácula, apenas deixa o filme gastar mais tempo que não precisava. 

Claro, os efeitos práticos que envolvem toda a criação do vampiro, e a atuação de um mascarado e pintado Javier Botet, que realmente mostra que o trabalho de um ator realmente é muito melhor de se ver que um cheio de efeitos visuais, é um dos poucos acertos de Drácula: A Última Viagem do Deméter. Assim, o longa aos poucos trabalha ao mostrar o personagem partir de ser uma figura frágil para um ser sobrenatural quase como uma gárgula, onde a cada noite vemos o personagem se alimentar um pouco mais, e de um passageiro.

E a medida que o filme passa, o Drácula sai das sombras e ao melhorar sua aparência ganha mais destaque a forma como os produtores resolverem escolher o visual do personagem que acaba por ser uma escolha tão interessante, e uma opção de uma forma bacana que o time de produção acerta na caracterização.

Corey Hawkins e Aisling Franciosi em cena de Drácula: A Última Viagem do Deméter.
Foto: Credit: © 2023 Universal Studios and Amblin Entertainment. All Rights Reserved.

Mas o longa demora para estabelecer diversas questões e fica por atirar o tempo todo para diversos lados. É na história de Clemens (Corey Hawkins), um médico que se junta à equipe Deméter e precisa provar seu valor, ou toda a trama do capitão Elliot (Liam Cunningham) com o sobrinho Toby (Woody Norman), a viagem clandestina que a jovem Anna (Aisling Franciosi) faz e todo o mistério por trás, principalmente depois é encontrada doente e debilitada (era o lanchinho de viagem do Drácula). Fora que a personagem também tem todo o arco dos marinheiros acharem que ela é a culpa dos acontecimentos por conta do mito de que mulher a bordo só causa perigo.

Dentro da tripulação ainda temos as narrativas paralelas do atormentado Wojchek (David Dastmalchian) que se espreita pelas sombras depois que o barco zarpa rumo ao seu destino e até mesmo o cozinheiro do navio, o supersticioso Joseph (Jon Jon Briones).

Ou seja, muita gente, muito sangue para o Drácula e pouco tempo. Assim, na medida que os personagens precisam decifrar o que acontece, evitar serem a próxima vítima, e investigar quem é o assassino que tem causado os eventos terríveis no barco, Drácula: A Última Viagem do Deméter só fica mais e mais desinteressante, afinal, nós como espectadores já sabemos todas as respostas e ficamos apenas na deriva esperando a trama desenrolar. 

Dastmalchian e Cunningham fazem o melhor que podem com o que tem aqui, talvez por serem os mais experientes, e talvez por serem os nomes mais conhecidos do filme. Os dois estão muito bem, e realmente elevam a produção que por mais que tente parece sempre que estamos a assistir uma paródia de um filme de terror. Afinal, os diálogos não se completam, os jumpscares não assustam, e tudo parece mais encenado do que é e feito para transmitir alguma coisa real, ou assustadora.

Ovredal parece ter melhorado seu apelo para conseguir transmitir visualmente boas cenas do gênero para a telona, principalmente depois do também fraco Histórias Assustadoras para Contar no Escuro, mas aqui, novamente, foca mais na estética do que realmente contar uma boa história. 

No final, Drácula: A Última Viagem do Deméter pega um fiapo de história para tentar se estender o máximo possível e faz uma experiência assustadoramente ruim de se acompanhar e assistir. Pior fica quando temos a possibilidade de uma sequência por conta dos últimos minutos, mas aqui sem spoilers.

O que fica claro, é que dentre os lançamentos da Universal Pictures de filmes do ano, definitivamente Drácula: A Última Viagem do Deméter faz o mais fraco, e possivelmente o pior de todos eles, no ano.

Avaliação: 2 de 5.

Onde ver Drácula: A Última Viagem do Deméter?

Drácula: A Última Viagem do Deméter chega nos cinemas nacionais em 24 de agosto.

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