Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado | Crítica

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Se você, como eu, foi uma criança que viveu nos anos 90 certamente ouviu e viu um comercial na TV com um homem que lembrava um feiticeiro e que falava as palavras Ligue Djá junto com um número de telefone gigante na tela.

A figura mística de Walter Mercado foi uma das representações mais marcantes da época, e agora ganha um documentário na Netflix que celebra a diversidade e o ser diferente através de uma das figuras mais chamativas da TV latina, e claro, do mundo. 

Walter Mercado é personificação da TV do final dos anos 80, e 90, e assim Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado (Mucho Mucho Amor, 2020) entrega um programa repleto de nostalgia como uma grande cápsula do tempo que nos leva para os bastidores da carreira de Mercado e seus altos e baixos ao longos dos anos. Para muitos, a figura de Walter Mercado ficou marcada por aquilo que o apresentador, astrólogo e vidente passava: as jóias extravagantes, o cabelo armado, e as capas efusivas. Mercado é uma mistura das apresentadoras Oprah e Hebe Camargo com o cantor Liberace, e como um dos entrevistados diz, nunca pareceu necessário saber quem era a figura por trás disso tudo, e é isso que o documentário, lançado no Festival de Sundance no começo do ano, faz.

Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado | Crítica
Foto: Netflix

Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado passa pelas fases da vida e da carreira de Mercado bem rapidamente sem se aprofundar muito, como se fosse uma grande página visual da Wikipédia, mas também parece que Mercado não tinha muito o que contar, afinal ele dedicou sua vida toda para esse único papel que criou. Assim, o documentário mostra como a figura chamativa e marcante acabou assumindo de vez a vida toda de Mercado, onde fica claro que o personagem e a pessoa real se mesclaram de uma forma única.

O mais importante é mostrar a trajetória de Mercado como um garotinho tímido do interior de Porto Rico se tornou uma das figuras mais conhecidas do público latino ao dar dicas de astrologia e passar um sentimento de otimismo e alto astral para o público. Quando surgiu no cenário do entretenimento, a TV era uma grande potência e para muitos a forma única de entretenimento, e Walter Mercado era um ponto fora de curta dentro da programação diária da TV marcada por telenovelas e programas de fofocas.

Walter Mercado tinha uma presença completamente magnética em tela, sempre vinha cercado de palavras bonitas, atraia a atenção do público e isso se refletia em audiência – no seu auge atingiu 120 milhões espectadores na comunidade latina, números que hoje se assemelham a uma parte de SuperBowl – e claro, na forma que ele se comportava com a fama.

Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado faz uma verdadeira imersão na importância cultural que Mercado teve para a comunidade latina e para levar palavras de positividade para uma comunidade extremamente religiosa e claro cheia de preconceitos. Era aceitável ver um homem com uma aparência andrógina entrar na casa de milhares de dona de casa, com roupas coloridas, e uma voz mansa, para dizer o que elas poderiam esperar em seus futuros.

Os entrevistados como o mexicano Eugenio Derbez e o porto-riquenho Lin-Manuel Miranda servem como ponte para o público americano por serem figuras conhecidas da comunidade latina no país, e narram suas experiências de como suas infâncias foram moldadas pela figura de Mercado que viva por aparecer todas as tardes e encantar seus parentes.

Juntamente com depoimentos do seu assistente pessoal Willie Acosta, vemos a trajetória de sucesso de Mercado, e a introdução de sua marca pessoal na TV americana, onde participou do programa Primer Impacto, e claro na TV brasileira, onde tinha bastante fãs por conta das propagandas na TV com o seu icônico bordão Ligue Djá. No documentário, por exemplo, vemos uma breve entrevista com a apresentadora Marília Gabriela, no programa De Frente Com Gabi, que foi ao ar em 1998.

O documentário Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado é bem estruturado e narra as conquistas e problemas que Mercado de uma forma bem rápida mesmo, o que não o torna cansativo de assistir, acho que a figura de Walter Mercado vem com tanta informação que é jogada em tela, seja pelo visual ou pela história pouco conhecida, que no final é a melhor opção mesmo.

O famoso caso judicial contra o empresário Bill Bakula que passou a perna no artista ao garantir os direitos da marca Walter Mercado apenas mostram a inocência e a pureza de Mercado fora das câmeras e até mesmo livra a barra do apresentador por suas outras polêmicas como o caso dos programas televisivos que arrecadavam dinheiro em ligações pagas e caríssimas para época. Bakula dá seus depoimentos para o programa o que o torna o vilão da história.

No final, Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado faz um interessantíssimo documentário sobre uma das figuras mais marcantes que já passou pela história da TV e que sem dúvidas continua no imaginário popular na medida que novas gerações, com o poder das redes sociais, e de ferramentas como o streaming e YouTube, conseguem celebrar a figura televisiva que Mercado foi.

Marcado por bordões e outras excentricidades, a figura de Mercado está presente na cultura pop até hoje, onde Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado é uma volta no tempo com um gostinho de saudades disponível na Netflix. 

Nota:

Ligue Djá: O Lendário Walter Mercado disponível na Netflix.

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