Um bate-papo com a figurinista indicada ao Emmy Ane Crabtree sobre seu trabalho na série The Changeling – Sombras de Nova York

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Talvez de nome Ane Crabtree não soe tão familiar, mas definitivamente você já deve ter visto o trabalho dela por aí.

Vencedora do prêmio do Sindicato de figurinistas de Hollywood, o Costume Designers Guild Awards por seu trabalho na série The Handmaid’s Tale lá em 2018 e triplamente indicada ao Emmy na Categoria de Melhores Figurinos em Séries de Fantasia e Ficção Cientifica pela mesma em 2017, 2018 e 2019, Crabtree trabalhou em diversos projetos como Westworld, Os Sopranos e Invasão.

Ane Crabtree e seu mood board para a série The Handmaid’s Tale.
Foto: George Kraychyk/ © 2018 Hulu. All Rights Reserved.

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O icônico look das aias, o vestido vermelho e o chapéu branco, em The Handmaid’s Tale saiu das telas e se tornou um dos símbolos da luta das mulheres em manifestações em todo mundo nos anos depois que a série estreou. Agora, Crabtree assumiu um novo desafio com a série The Changeling – Sombras de Nova York que estreia no AppleTV+.

The Changeling – Sombras de Nova York é baseada no aclamado best-seller homônimo de Victor LaValle, e o seriado é descrito como um conto fantástico para adultos: uma história de terror, uma fábula de paternidade e uma odisseia perigosa através de uma Nova York desconhecida.

Assim, batemos um papo com Crabtree que conta um pouco sobre suas influências, trabalhar com a cultura brasileira que aparece na atração, e claro, seu trabalho com Kelly Marcel, a showrunner da atração.

LaKeith Stanfield e Clark Backo em cena de The Changeling – Sombras de Nova York.
Foto: Courtesy of Apple.

ArrobaNerd: Você trabalhou anteriormente com outra série baseada em um livro, The Handmaid’s Tale. É mais desafiador trabalhar com projetos que são adaptados de livros? O que você olha antes de começar o seu trabalho: a história original dos livros ou os roteiros adaptados para a versão feita para a TV?

Ane Crabtree: Com The Handmaid’s Tale eu já conhecia o livro, eu já tinha lido algum tempo atrás, e quis me reconectar com isso que eu tinha lido lá nos anos 80. Eu era uma mulher muito mais jovem, com certos medos e preocupações, daquela época, e quando eu cresci, e fiz The Handmaid’s Tale, algumas coisas continuaram iguais.

Já com The Changeling – Sombras de Nova York eu não era familiarizada com o livro. Depois que eu me encontrei com Kelly Marcel [produtora executiva e showrunner] e Melina Matsoukas [produtora executiva e diretora], eu também me encontrei com Victor LaValle [autor do livro] e falei: ok, eu vou cair de cabeça [nesse projeto] por que a história é muito rica.

Então eu sou assim, eu sempre vou no melhor roteiro que eu tenho. E para ser honesta, eu tive que fazer isso, por que naquela época eu tinha 7 propostas de roteiros e 7 diferentes histórias e projetos, mas The Changeling – Sombras de Nova York foi a que eu escolhi por conta da história e a possibilidade de uma grande amplitude de trabalho que eu poderia fazer. E eu me apaixonei pela trama.

Eu amo a história, mas eu sempre tenho que deixar de lado [e começar do zero]. O roteiro da série como um todo nunca é parecido com o do livro. O que é bom por que senão meu cérebro não dá conta, e não se confunde, por que nós trabalhamos em vários episódios de uma vez só. Mas eu nunca me esqueço da ideia original.

ArrobaNerd: Na série o personagem do ator LaKeith Stanfield usa muitos gorros. Quantos chapéus ou gorros de lã foram escolhidos ou feitos para The Changeling – Sombras de Nova York?

Ane Crabtree: [Rindo] É a primeira vez que alguém me pergunta isso!

Então, eu sou um pouco masculina, eu tenho traços femininos e curvas, mas eu amo roupas masculinas. Eu amo esse estilo, e pelos últimos 10 anos eu não tive muito cabelo… eu tinha pouco, quase nada, então eu raspava e ficava careca. E eu sempre usei esse gorrinho.

Igual, sei lá, milhões de pessoas. É um acessório muito estiloso e LaKeith ficou muito bonito neles. Aliás, ele usa também [na vida pessoal]. E ele me falou: O que você acha de eu usar também [como personagem]?. E eu: Cara, eu tô dentro!

É uma história que se passa em Nova York, ok, boa parte se passa em Nova York, que tem muitas roupas com um estilo urbano, tanto para a moda masculina quanto a feminina, mas a masculina em Nova York é mais marcante. Então a resposta é sim, temos milhares de gorros, mas a piada aqui é que eu não gosto de usar nada na cabeça, ou nos cabelos, ou se for para ser [ter] chapéus interessantes. Mas eu talvez tenha subconscientemente colocado várias peças de roupa aqui.

ArrobaNerd: No seriado temos uma passagem que a personagem da atriz Clark Backo vista o Brasil. Quais foram suas referências para os figurinos nessa parte em especial? Como brasileiros achamos que tudo mostrado em cena foi muito fiel do que poderíamos encontrar em Salvador [onde a cena se passa]….

Ane Crabtree: Eu acho que isso é a melhor coisa que alguém pode me dizer. Eu sou muito obcecada com pesquisas, não só do local, e também do período, mas também do psicológico que o personagem que vai usar esse figurino.

São muitas camadas. Eu realmente quis mostrar alguém que fosse bem viajada. Ela cresceu no Sul dos EUA, foi para Nova York. E para mim, ela seria respeitosa ao viajar por aí, principalmente como uma mulher que viaja sozinha, mas também misturar [os figurinos locais] com o que ela usa. Então acho que a pesquisa para a personagem, o lugar, a forma como se encaixa na trama, o misticismo por trás de tudo ajudou na pesquisa.

ArrobaNerd: O seriado é descrito como um conto de fadas para adultos. Vocês quiseram referenciar algum conto de fada mais tradicional e conhecido como Branca de Neve, Cinderella? Ou foi uma coisa que não passou na cabeça de vocês na pré-produção?

Ane Crabtree: Eu acho que até seguimos com uma coisa dos contos de fada, mas decidimos fazer nossa própria versão. Afinal, existe uma mistura cultural muito grande com esses personagens. Alguns deles tem raizes na África, outros na Noruega, um deles é do Sul, e existe uma rica história cultura negra no Sul dos EUA que se misturam com a cidade de Nova York e todas as inspirações que vem disso.

E eu acho que contos de fada fazem parte disso. Pelo menos para mim. Acho que a maior coisa sobre os contos de fada, tirando a parte da repetição das histórias através dos tempos, é ver esses personagens vindo de diferentes lugares.

Eu tentei pensar em grandes ondas de ideias, principalmente quando falamos do casaco de Emma que tem um jeitão e um tipo de conto de fadas. Afinal, nos conecta em um período de tempo e o que acontece na história. É a jornada emocional dela, e ajuda de uma forma visualmente bonita. Não é apenas um casaco que faz movimentos dramáticos que às vezes vemos em outras obras literárias. Ela é uma mulher em Nova York. É esse o tipo de casaco.

Eu quis brincar com essas ideias de proteção, não só a parte física, mas também o que acontece com ela na história. Então, o que mais tem dos contos de fada é a capa. É como se fosse uma capa de super-herói.

ArrobaNerd: Falando em super-heróis, Kelly Marcel trabalhou com a Sony Pictures nos filmes da Marvel com o personagem Venom. Vocês conversaram sobre a possibilidade de você entrar nesse mundo de super heróis? Qual seria sua visão para o personagem? Ou para até mesmo o Homem-Aranha?

Ane Crabtree: Não! Mas vamos ligar para a Kelly agora mesmo! [Risos]

Eu a respeito muito e ela é muito parceira dos figurinistas em Londres. Espero que ela esteja nos ouvindo. Todo nós crescemos com super-heróis, e eu acho que quando somos crianças é o que nos faz continuar. Através de contos de fadas e super heróis, que são a mesma coisa. Todos nós queremos ser invisíveis, todos nós queremos voar. Nós queremos salvar o mundo.

The Changeling – Sombras de Nova York chega em 8 de setembro.

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