Vermelho, Branco e Sangue Azul | Crítica: Contos de fadas LGBT entrega conto de desastres

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Na onda de Hollywood para contar histórias mais diversificadas e para diversos públicos, a adaptação do livro Vermelho, Branco e Sangue Azul veio em uma hora perfeita. Assim como a Fada Madrinha vem no auxílio de Cinderella e a ajuda ir ao Baile, o projeto de transformar as páginas desse conto de fadas moderno LGBT em filme (Red, White & Royal Blue, 2023) movimentou a atenção dos fãs que finalmente poderiam se ver representados em uma comédia romântica protagonizadas por dois homens e que seguiria toda a fórmula que há anos inunda a indústria cinematográfica com casais heterossexuais. 

E da escolha dos atores, para as gravações, e depois a divulgação bem tímida do Prime Video, Vermelho, Branco e Sangue Azul movimentava as redes sociais por conta dos fãs ávidos pelas novidades escondidas dentro dos servidores da Alexa. E talvez, isso tenha ficado claro por alguma razão bem especifica.

Taylor Zakhar Perez e Nicholas Galitzine em cena de Vermelho, Branco e Sangue Azul.
Foto: Amazon Studios. All Rights Reserved.

Infelizmente, vou decepcionar, você leitor, mas o filme é bem mediano, para não dizer ruim. Vermelho, Branco e Sangue Azul não faz jus ao livro e esse é o primeiro de uma série de erros gigantes, tão gigantes quanto o bolo do casamento real que Alex e Henry caem em uma das partes do filme, que o longa de Matthew Lopez entrega.

São mídias diferentes, claro, e a história precisa ser contada de formas diferentes uma das outras, mas Vermelho, Branco e Sangue Azul não faz um filme para entrar para a história (huh?) quando se trata de como fazer uma boa adaptação. Digo isso porque o roteiro, e consequentemente a atuação dos atores, descaracteriza totalmente esses personagens, o contexto que eles vivem, relações que eles tem, como eles foram retratados no livro e que levaram milhares de pessoas a ler, torcer, e gostar dessas pessoas fictícias. 

No filme, meio o que acabamos por ter, é uma história bonitinha, mesmo que ordinária de basicamente outros personagens. O livro de Casey McQuiston que já não era nada rebuscado, tinha uma trama e a escrita simples, mas em comparação ao filme soa bem mais complexa do que é, afinal, tudo que temos aqui é muito mais simplório e pobremente adaptado. Principalmente Alex, que é particularmente o que mais sofre ao ser transportado das páginas para a tela.

A personalidade carismática, a inteligência, e sagacidade é reduzida a olhares, e caras e bocas vergonhosas de Taylor Zakhar Perez. Perez claro é a representação visual de Alex, mas aqui deixa muito muito a desejar. Não que se esperasse uma atuação de um novo Robert DeNiro, mas….todo o charme do personagem nos livros é 80% deixado de lado no filme, onde o ator realmente não sustenta e não se garante como o filho da Presidente dos EUA.

Talvez seja porque Lopez não gaste tempo no filme apresentando com folga o que faz o Alex dos livros ser tão carismático e interessante, talvez Perez não esteja em uma fase de sua carreira que consiga entregar um alcance emocional e dramático necessário para transmitir a personalidade do personagem, que novamente, não é tão complexo assim. São várias questões que me passaram na cabeça ao assistir Vermelho, Branco e Sangue Azul.

O abismo entre o ator e os outros colegas é enorme, e isso por que a veterana Uma Thurman como a Presidente dos EUA, é a coisa mais caricata do ano até agora. Já em cenas com Sarah Shahi (vista em Adão Negro no ano passado) como a Chefe de Gabinete Zahra Bankston, Perez desaparece, onde a colega tem seus bons momentos e ofusca o colega em todas as cenas. 

E nada ajuda também que Lopez em Vermelho, Branco e Sangue Azul retira diversos elementos que faziam Alex ter seu charme nos livros. Toda a questão do Trio da Casa Branca, tão interessante no livro, é cortada, e aqui é um sopro do que foi, com apenas Nora (Rachel Hilson) dando as caras em poucas linhas e passagens.

Nada de June Claremont-Diaz no filme, nada do “trauma” do divórcio entre a Presidente Claremont (Thurman) e o Senador Diaz (Clifton Collins Jr.), e toda a parte que envolvia o Senador Rafael Luna é esquecida pela história no livro. Isso tudo não ajuda a transmitir traços da personalidade Alex para o espectador, onde o personagem já é jogado no romance com Henry e que deixa Nicholas Galitzine ter muito mais o que trabalhar mesmo que quase ⅔ do filme seja focados em Alex. 

Taylor Zakhar Perez e Nicholas Galitzine em cena de Vermelho, Branco e Sangue Azul.
Foto: Amazon Studios. All Rights Reserved.

Galitzine se garante e muito nas cenas como o atormentado Príncipe Henry que precisa decidir entre as regras da monarquia e viver o romance com o Primeiro-Filho americano, e claro se assumir não só para a família mas também para o mundo que o sempre colocou nos holofotes.

Talvez por anos de The Crown e pelo fascínio que verdadeira família real desperta nas pessoas na vida real, Galitzine consegue com pouco se destacar e capitaliza e muito com seu Príncipe de olhar tristonho. O ator entrega as melhores partes do longa, sem dúvidas e realmente é quem segura as pontas e não deixa Vermelho, Branco e Sangue Azul ser um completo desastre, e faz isso enquanto segura as mãos de Alex por aí escondidos em quartos de hotéis e armários de limpeza em hospitais.  

Claro, a química entre Perez e Galitzine ajudam o longa nas passagens mais românticas e os dois atores tem uma boa relação, e o segundo alavanca o primeiro, mas ainda acho que Perez combina no papel apenas visualmente, e que está em total desvantagem no longa.

E com Galitzine fazendo toda a parte mais pesada, Vermelho, Branco e Sangue Azul parece que resolve só focar diversas cenas especificadas e mais marcantes do livro (a cena do jogo de pólo, a exposição dos emails, a cena no museu e etc) e que apenas são jogadas ali sem muita costura narrativa.

Mas se tem uma coisa que Lopez acerta, são nas cenas onde temos as trocas de mensagens entre dois, afinal um está na Inglaterra e o outro nos EUA. São poucas passagens que o truque visual é usado, mas que garante um sentimento de “Ah que fofo!” de se assistir. E é isso.

Com muita coisa importante para contextualizar tudo isso, cortada, Vermelho, Branco e Sangue Azul transforma uma história já simples em alguma coisa completamente rasa e não chega a empolgar em quase nenhum momento. Nem a cena final, onde deveria ser o ponto alto dramático do filme, os produtores acertaram, afinal, edição é brusca e pula do emocionante discurso de Henry quando finalmente peita o avô, o Rei (Stephen Fry, ótimo em apenas 5 minutos) para focar em outra cena importante nos livros, a das eleições que a mãe de Alex tenta uma re-eleição e que o filme mal passou tempo desenvolvendo e criando a carga dramática que leva-se na páginas para desenvolver.

No final, fica claro que Vermelho, Branco e Sangue Azul parece ser um grande amontoado de cenas feitas para o TikTok vibrar e que abusam de quão extremamente bonitos são esses atores para os colocar em cenas mais ousadas apenas pelo fato de mostrar que pessoas transam. Afinal, em termos de produção cinematográfica e se temos um filme robusto, bem feito, Vermelho, Branco e Sangue Azul não faz nada disso, principalmente ao priorizar a mensagem de diversidade em vez de contar uma boa história (huh?).

Avaliação: 2 de 5.

Onde assistir o filme de Vermelho, Branco e Sangue Azul?

Vermelho, Branco e Sangue Azul chega no Prime Video em 11 de agosto.

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