Echo Valley (2025) é mais um capítulo do bom ano que a Apple tem tido com produções em longa-metragem até agora e em atrair grandes nomes de Hollywood para fazer conteúdo para a plataforma de streaming da empresa.
Liderado pela vencedora do Oscar Julianne Moore e por uma das queridinhas de Hollywood no momento, a atriz Sydney Sweeney, o filme chega com uma combinação tão perfeita de novelão, suspense e reviravoltas que até parece ter sido encomendado pela inteligência artificial que ronda os telefones da gigante de tecnologia. Mas aqui, talvez, seja o “star power” de Moore que garante que o filme saia do lugar comum, de ser apenas um longa para streaming, e entregue alguma coisa bem interessante.

Num primeiro momento, Echo Valley se comporta como um drama sobre mãe e filha, e o comportamento co-dependente, abusivo e nada saudável entre as duas, quando a viciada em recuperação Claire (Sweeney, muito bem) passa para visitar a mãe Kate (Moore) no rancho que ela vive, cuida e trabalha e que dá nome para o filme. A visita de surpresa, com a filha indo atrás de dinheiro e um novo celular, escancara os problemas na relação das duas, enquanto, vamos descobrir mais sobre o passado delas, enquanto, elas discutem, fazem as pazes, e vivem suas vidas no local que, assim como, a relação entre elas, está desgastado e prestes a desmoronar.
Mas claro que o roteiro de Brad Ingelsby (de Mare Of Eastown) nos garante que tenhamos mais coisa para acontecer nessa história e garante algumas boas reviravoltas, principalmente quando o também viciado Ryan (Edmund Donovan), o namorado de Claire, aparece e acusa a jovem de ter jogado fora uma mala com coisas importantes (drogas!) para o líder de uma organização interpretado por um ótimo Domhnall Gleeson que também aparece na porta de Kate alguns dias depois.
Ingelsby cria um sentimento de tensão e suspense palpável em tela que Moore acerta em transmitir o que texto quer passar em tela para nós o público que caímos de paraquedas na história dessa família. Afinal, aos poucos descobrimos que a personagem está de luto pela perda de um ente querido, precisa visitar o ex-marido, Kyle MacLachlan numa participação especial, para pedir dinheiro para reformar o rancho, e ainda precisa lidar agora com a presença da filha que abala sua rotina.
O diretor Michael Pearce consegue trabalhar e posicionar bem a câmera para focar nas angústias, ressalvas e medos que Moore entrega para a personagem. É um trabalho sutil, que se apoia no menos é mais, e parece que Kate vive um pesadelo que em luta para acordar. Ao usar basicamente uma única locação, o rancho, Pearce consegue fazer com que as paranoias, dúvidas, e o sentimento de que alguma coisa está errada com a complexa dinâmica entre essas duas personagens salte em tela e domine a atmosfera extremamente triste que o longa se apresenta.
E como falamos, o roteiro, abraça também o lado novelão e move a trama para uma direção bastante curiosa e que dá para Echo Valley a chance de mostrar um novo olhar para tudo que tem acontecido entre essa mãe e filha na medida que Claire aparece mais uma vez na porta de Kate, só que agora, numa noite e cheia de sangue. E que não é dela, então de quem será?

Por mais que Echo Valley se apoie em conveniências, algumas até bem cretinas, e precisa muito forçar algumas conexões e ideias, a trama de gato e rato se intensifica e escalona de uma forma extremamente empolgante de se assistir. Assim, na medida que Kate contempla tudo de doido que aconteceu naquela noite, com ela, com Claire, e agora também com a figura que começa a ser tornar onipresente de Jackie (Gleeson em um dos seus melhores papéis) em sua casa, a trama toma rumos inesperados e que fazem o espectador questionar o que foi apresentado até então.
Moore tem ótimas cenas com todo mundo, de Sweeney, onde as duas criam e desenvolvem uma dinâmica bem interessante de se assistir, para Gleeson que tem chance de estar ali pau a pau com a veterana atriz, e também com Fiona Shaw que interpreta uma vizinha e amiga de Kate que a ajuda a sair da cilada que ela se meteu.
No meio de planos mirabolantes e inventivos, conflitos familiares de deixar Casos de Família de cabelo em pé, e situações para lá de tensas, Echo Valley galopa para o os momentos finais de uma forma que nos deixa tenso para tudo que acontece com esses personagens, como as coisas vão desenrolar e quem vai acabar vivo no meio desse caos todo.
Vindo do controverso Segredos de Um Escândalo e do galhofa seriado Sereias, Moore é o que sustenta esse novo longa da Apple, sem dúvidas. A atriz entrega com Echo Valley mais uma personagem ambígua, complexa e que é mais um prato cheio para o rol de personagens que tem feito nos últimos anos. No final, o que acontece em Echo Valley, fica em Echo Valley, mesmo que o tenhamos um final aberto para ser debatido on-line.
Echo Valley chega no AppleTV+ em 13 de junho.