Será que essa Bailarina consegue dar seus pulos? A parte mais curiosa da franquia John Wick é que ao longo dos anos, o primeiro longa realmente foi um marco no gênero, e sim, a trama apresentada nas sequências de maneira geral dava margem para a criação de um Universo John Wick. E foi isso que aconteceu, onde os produtores entenderam que com essa história criada daria para se criar uma nova “propriedade intelectual” e assim trabalhar nela aos poucos.
Mas, refletindo agora, anos depois, talvez, mas do que nunca, fica claro que John Wick, o filme, a franquia, só deu certo, por conta de John Wick, o personagem, e claro, Keanu Reeves. Afinal, a primeira aposta de expandir a franquia, a série de TV sobre o Hotel Continental, não deu muito certo, e aqui, nessa nova aposta com Bailarina – Do Universo de John Wick (From the World of John Wick: Ballerina,2025) fica claro que o que temos é um novo capítulo da franquia que pouco sabe se sustentar por si mesmo.

Credit. Larry D. Horricks/Lionsgate
Mesmo liderado pela carismática Ana De Armas, que aqui está muito bem, sustenta o filme como ninguém, e que entrega boas cenas de ação, Bailarina parece ser apenas um fiapo de filme, um que até tinha potencial, mas que acaba por não conseguir se estruturar de uma forma minimamente apresentável.
É bonito, tem visuais bonitos, mas parece que essa bailarina nunca consegue dar uma pirueta completa e efetivamente empolgar. Claro, é muito legal ver a personagem de De Armas explodir as coisas, enquanto vai em busca de respostas do passado, e bater bastante nos bandidos, mas, fica claro aqui que quem apanha é o espectador com um filme que é um amontoado de cenas de porradaria isoladas que se conectam apenas por uma fraca fraca que desesperadamente tenta lembrar quem assiste que essa história está dentro do Universo de John Wick, introduzido ao longo dos outros 4 filmes anteriores.
O longa precisa até reforçar isso no título e no material de divulgação. Fica claro que é preciso mais do que apenas trazer Keanu Reeves como John Wick de volta, juntamente com a diretora de Anjelica Huston e também Winston de Ian McShane, o Charon, do Hotel Continental, interpretado pelo falecido Lance Reddick, e colocar a personagem de De Armas, a órfã Eve, para entrar no lobby do Continental e entregar a tal moeda de ouro na recepção.
Bailarina pega uma trama novelesca, completamente batida, e extremamente previsível para fazer Eve já ter cruzado caminho com John Wick, sua fama como o Baba Yaga, em outras oportunidades e depois o encontrar novamente. As reviravoltas que o roteirista Shay Hatten (e que trabalhou nos filmes da franquia de John Wick) coloca em Bailarina são preguiçosas, são matadoras de clímax e você as vê chegar minutos antes do que quando efetivamente elas acontecem. Juro, uma hora eu estava esperando algum plot de gêmeas más tipo em A Usurpadora acontecer. Tá certo que De Armas é cubana, e o ritmo novelão é sucesso nos mercados latinos, mas pera lá né?
Isso é um filme que deveria apelar para todos os público. E basicamente erra sempre que pode. Menos nas cenas da ação, mas também se errasse nisso era fechar as portas da franquia. Bailarina segue em acompanharmos a personagem em busca de desvendar mais sobre seu passado, afinal, quando jovem, Eve ficou órfã e foi morar com a Ruska Roma liderada pela implacável personagem de Huston. Assim, o filme meio que acompanha a jornada da personagem ao longo dos anos enquanto era treinada nos costumes da organização e em balé clássico.
E até aí, poxa interessante né? Mas a parte do treinamento de Eve é completamente jogada, a colega de quarto dela idem, e Hatten apressa o texto que seria fundamental para contar, e desenvolver, a história de Eve, apenas para tentar encaixar a história dela, na linha do tempo entre os filmes de John Wick.
O filme gasta momentos preciosos, com cenas e dialógos que nos remetem onde o personagem de Reeves estava em determinado momento da vida de Eve. E ele nem quase aparece. Maior parte do tempo de Bailarina se passa durante os eventos de John Wick 3, onde o personagem tira um tempo para perseguir Eve a mando da Diretora, já que ir em busca de respostas sobre seu passado vão contra as regras da Ruska Roma.

Credit. Larry D. Horricks/Lionsgate
E se as coisas não poderiam soar mais ruins em termos de narrativa, ficam piores. A participação de Norman Reedus no longa é de zero a inexistente, e eu até tinha esquecido que ele tava no longa, e quando ele apareceu entrou, ficou 5 minutos em tela, e foi embora. O ator Gabriel Byrne que interpreta o chefão de uma outra organização do mundo do crime do Universo de John Wick também dá as caras e vive no telefone ameaçando as pessoas. Um desperdício.
Então fica claro que Bailarina só serve para nos apresentar para mais uma organização e mais um hotel Continental em uma parte do mundo. O da vez foi da filial de Praga com um novo gerente (Marc Cram) e uma Concierge (Anne Parillaud). Afinal, as cenas de ação que o diretor Len Wiseman entrega, por mais que bem filmadas e coreografadas não tem o mesmo impacto que nem nos filmes originais. Claro, Wiseman consegue usar o melhor que De Armas consegue oferecer, e como falamos, a atriz é muito carismática e tem uma impressionante presença de tela.
Em uma das poucas realmente boas cenas que o longa oferece é Eve numa boate, onde as luzes roxas, violetas e neon, se contrastam com um vestido de gala vermelho e a personagem sai na mão com todo mundo no local. E claro, a cena final onde a personagem pega uma grande tocha de fogo para acabar com os inimigos, onde ela, no melhor estilo John Wick se vê perseguida por uma cidade inteira só de criminosos e precisa sair na mão com todos eles.
Bailarina sofre para se espelhar no longa original, e faz as coisas parecerem que estão ali por que precisam estar. As cenas de ação sim, são boas, algumas até que se prolongam bastante na narrativa, mas sinto que tudo que envolve a trama, os comos, e porquês dessa história soam fraco, e sem muita empolgação de queremos estar lá nesse canto do Universo de John Wick.
E nem é culpa de De Armas, ou por termos uma mulher como protagonista, ou estão “substituindo John Wick por uma mulher que lacração é essa?” que você poderia encontrar nos cantos mais podres das redes sociais, e sim, que, no final, Bailarina não consegue entregar um bom filme e ponto final. Talvez, fosse melhor mesmo ter deixado John Wick ser apenas um cara que foi atrás dos bandidos que levaram o cachorro dele depois que a mulher dele morreu.
Mesmo visualmente estiloso e liderado por uma excelente atriz no papel principal e que sustenta o filme com seu charme, Bailarina dança conforme o ritmo da música que toca em Hollywood atualmente e apenas serve o propósito de alimentar a máquina Hollywoodiana faminta de querer expandir uma história o máximo possível, a qualquer custo. Mas a que custo?
Bailarina – Do Universo de John Wick chega nos cinemas com sessões de pré-estreia em 4 de junho.