quarta-feira, 11 dezembro, 2024
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Festival do Rio | Todo Tempo que Temos | Crítica: Apenas Florence Pugh e Andrew Garfield é o suficiente?

Será que apenas Florence Pugh e Andrew Garfield é o suficiente para fazer Todo Tempo que Temos funcionar? Nossa crítica do longa.


A ideia de juntar Florence Pugh e Andrew Garfield em um filme de romance é simplesmente genial e aqui é o que move, e deverá, motivar o espectador a dar uma chance para Todo Tempo que Temos (We Live In Time, 2024). Mas é o bastante?

É o que tem guiado a campanha de marketing, os virais (com cavalos no pôster e papelões em tapetes vermelho), e sem dúvidas, é uma peça importante. São as atuações da dupla de atores queridinhos de Hollywood do momento que dá o que podemos chamar de “o molho” para o filme, afinal, o roteiro até que bastante perspicaz e afiado por mais que acerte, e ajude, a dupla a entregarem bons personagens, se apoia simplesmente no carisma dos dois do que efetivamente contar uma história linear. É uma boa história? Sim. É uma que foi a melhor decisão ter sido contada dessa forma. Acho que não.

Florence Pugh e Andrew Garfield em cena de Todo Tempo que Temos. © Peter Mountain/ STUDIOCANAL.

Não se enganem, Todo Tempo que Tempos faz um sim um filme incrível de se assistir por conta de Pugh e Garfield que estão muito bem, seja juntos, seja separados, e em diversas cenas. Mas o que tem me pegado com o filme é forma como o roteiro de Nick Payne resolveu dividir os momentos que esse casal passa e a forma como o filme foi editado para contar essa jornada que deixam um pouco a desejar em alguns momentos.

Ainda gosto, ainda acho uma produção cinematográfica agradável, mas são questões estruturais que ainda me incomodam. Afinal, Payne intercala os momentos chaves da vida desse casal Tobias (Garfield) e Almut (Pugh) entre passagens felizes e passagens tristes e como algumas ações no presente influenciam as decisões no futuro. O único problema é que a narrativa de Todo Tempo que Tempos é uma que se mistura o tempo todo e se o espectador não estiver REALMENTE prestando atenção, algum trecho, alguma passagem pode soar um pouco confusa. Eles tão em que fase? Agora eles estão tão casados? Agora eles já tiveram a filha? Eles tão passando essa cena em qual momento na linha do tempo, mesmo?

A narrativa de Payne resolve contar essa história de forma não linear que parece que estamos vendo um reality show onde um produtor resolve fazer uma narrativa do que aconteceu e que é quase como se fosse uma opinião sobre esse casal da parte do roteirista e não uma história expositiva, como vemos tradicionalmente, em que fica a cargo do espectador ir por descobrir a história.

E isso se repete em diversos momentos de Todo Tempo Que Temos. Afinal, quando uma coisa muito ruim (como um um acidente, ou um diagnóstico de doença) acontece, a edição e sua história muda o foco da narrativa para mostrar alguma outra coisa muito legal (seja o nascimento de um bebê, ou uma declaração de amor).

Claro, tirando isso, é muito legal, e de certa forma até emocionante, ver em Todo Tempo Que Temos as passagens ao longo da vida que o executivo de marketing Tobias e a chefe de cozinha Almut passam, e de ver o relacionamento desses personagens surgiram, aflorescerem ao longo dos anos, e enfrentarem os mais difíceis percalços ao longo do tempo.

E o diretor John Crowley consegue construir uma boa ambientação para contar essa história ao longo de uma década. Por exemplo, Crowley usa a câmera de uma forma tão intima e que nos convida para esse relacionamento que é impossível não achar lindo de ver, em uma das cenas, o personagem de Garfield tentando se declarar para a parceira interpretada por Pugh.

Os dois atores estão ótimos, tão muito bem, em criarem essas personas um pouco opostas um dos outros, ele como o sensível Tobias, ela como a ambiciosa e sem que sem papas na língua Almut. E o bom aqui é que a dupla consegue construir personagens humanos e complexos e que não faz idealizados e arquétipos fáceis de outros longas do gênero. Pugh e Garfield estão confortáveis, e como falamos são os que vendem esse filme e que fazem Todo Tempo que Temos ser um bom filme, sem dúvidas. 

É uma atuação memorável, transformadora, merecedora de Oscar? Não, mas o boom de romances, seja de comédia, ou de dramas, tá tão intenso que sinto que Todo Tempo Que Temos a continuação natural dessa nova leva e que é estrelado por dois dos atores mais interessantes e talentosos dessa nova safra em Hollywood. Que prazer ver os dois atuando e atuando juntos.

 Claro, é mais um filme que vem nessa onda de termos personagens chefes de cozinha, depois que O Urso explodiu e se tornou um fenômeno cultural, mas é compreensível que Almut seja uma e que participe de uma competição internacional de culinária em um dos arcos narrativos do filme e que dê mais uma camada para ela, além da trama da doença que também é apresentada e que tá no trailer.

E isso dá uma certa profundidade para a personagem e para o que Pugh consegue entregar para a chef e os desafios tanto pessoais quanto profissionais que ela enfrenta ao longo do filme. Já Garfield realmente tem aperfeiçoado o tipo “homem bonito, gente boa com olhar de triste” e realmente faz de Tobias um novo com a sua marca registrada. A cena dele andando de roupão pelas ruas para ir atrás de uma caneta em uma loja de convivência é tão uma de um personagem que o ator faria e não deixa de ser cômica ao mesmo tempo que triste. 

No final, o zig-zig narrativo não impede de fazer com que Todo Tempo que Temos emocione na medida que as atribulações da vida impactam a vida desse casal que precisa lidar com questões médicas que afeta a jornada que eles vivem, e como, e quando eles vivem. E por mais que Pugh e Garfield nos conquistem é válido notar que talvez Todo Tempo que Temos possa não convencer TODO mundo. É compreensível.

Nota:

Longa visto durante o Festival do Rio 2024 em Outubro.

Todo Tempo Que Temos chega nos cinemas em 31 de outubro.

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Miguel Morales
Miguel Moraleshttp://www.arrobanerd.com.br
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