É tão bom ver que o gênero da comédia romântica está de volta, firme, e forte. E não só aquela rom-com estilo anos 2000 padrãozona, bobinha e água com açúcar, sabe? E sim, com projetos que retratam, com um certa dose de sarcasmo e humor, a realidade nua e crua, do que são, e em que pé estão, os relacionamentos modernos.
Saem as garotas perfeitas de Nova York, com seus sapatos de grife, com encontros pelas grandes avenidas, cafés nas mãos em busca do “the one” e entraram as garotas que lutam para conseguirem trabalhos, se destacarem, terem sucesso, com aquela beleza comum, e que são de certa forma personagens complexas, cheia de sentimentos, e principalmente humanas.
É assim que conhecemos a Bia de Bruna Marquezine (fenomenal e, talvez, no melhor papel da carreira dela) logo nos primeiros episódios de Amor da Minha Vida, a nova produção nacional do Disney+: “Essa sou agora, partida em 1 milhão de pedaços. Destruída. Sentindo tudo. Que merda.” diz ela em um dos momentos da atração.
O mais interessante é que Amor da Minha Vida se apresenta ser uma série “baseada em desilusões amorosas” e nada poderia ser melhor para descrever esse projeto criado por Matheus Souza como isso. Afinal, chega de histórias de mocinhas que precisam ser resgatadas, de príncipes encantados, e finais felizes, a gente sabe que boa parte do mundinho de relacionamentos são formados de desilusões (disse o autor desse texto sofrendo uma, e sendo ainda mais impactado do que deveria pela série).
Mas ao mesmo tempo Amor da Minha Vida mostra que a busca por um amor também faz parte desse mundinho e esses personagens querem, pelo menos, sentir alguma coisa, nem que seja a dor, a fossa de um término, para depois mudar para outro relacionamento e tentar sentir outra coisa, o cobiçado amor. E aqui, os roteiristas Souza, Juliana Araripe, Luiza Fazio, Bryan Ruffo, Nátaly Neri criam para Bia diversas situações e momentos que podem soar tão conectáveis para o público e que devem, talvez, redefinir o que é uma rom-com para toda uma nova geração do streaming. Ou, pelo menos, aquela que veio do boom do gênero alguns anos atrás e agora está por viver a Era do Streaming.
Afinal, as situações, os momentos de vida, os encontros e desencontros, não só de Bia, mas também de Victor (Sergio Malheiros), o melhor amigo, e co-protagonista da série, que no começo vive um relacionamento heterosexual e monogamico com Luiza (Malu Rodrigues), mas que em certo momento da atração também parte para a vida louca dos solteiros, são o que dão liga e movem a trama para frente.
Claro, Bia e Victor começam como amigos, melhores amigos, mas a série também não deixa de flertar com a pergunta: e se essa amizade foi mais do que isso? Extremamente bem humorada, com um texto incrível de se assistir, Amor da Minha Vida vem nessa leva de produções do streaming sem medo de entregar personagens autênticos, carismáticos, e falhos.
Ao embarcar, e misturar na narrativa, enemy to lovers e friends to lovers, Amor da Minha Vida chega como um novo frescor para o gênero das séries rom-com. Vimos isso na Apple como Amor Platônico, no Prime Video com My Lady Jane na Netflix com Ninguém Quer, e talvez, Amor da Minha Vida dê um banho em todas elas, pelo fato, de mesmo por fazer um recorte (de raça, condições sociais e tudo mais) de tipos de relacionamentos bem específicos entregue em uma história, essa história, com um gostinho brasileiro, quase universal, apaixonante de se assistir e personagens que definitivamente gostaria de estar numa mesa de bar para bater um papo.
De Bia, uma jovem atriz em ascensão, e que não descola nenhum teste, que emenda um casinho no outro, seja um fotógrafo (Danilo Mesquita), um ator bonitão, mas sem muito sagacidade (um divertido João Villa), ou um assistente de palco (David Reis), para Victor, que herda a loja de lustres do pai que faleceu e precisa ver diversas mudanças acontecerem em sua vida, para as melhores amigas da dupla, e parceiras Erika (Agda Couto) e Helena (Pamela Morais).
Amor da Minha Vida costura essas narrativas amorosas enquanto acompanhamos momentos chaves da vida de Bia e Victor ao longo dos anos. Claro, algumas lacunas não são preenchidas, em termos de o que, e como, certas coisas aconteceram, tramas secundárias somem, personagens vão e vem, mas Amor da Minha Vida acerta ao trabalhar bem essa história pelo ponto de vista do romance (e das desilusões) que eles vivem.
Até onde vimos, os 4 primeiros, é uma jornada bastante divertida, cheia de surpresas, tanto na trama, entrada de personagens e rostinhos de atores e atrizes conhecidos na história. Logo no primeiro temos um grande gancho que estende a narrativa para os próximos capítulos (e ainda bem que o segundo já estava disponível para mim). No terceiro temos Fernanda Paes Leme em um episódio incrível que se passa num parque de diversões, no quarto temos um olhar sobre a indústria da venda de conteúdo adulto em plataformas pagas e com uma ótima Rayssa Bratillieri.
E tudo isso é contado de uma forma engraçada, espirituosa, e que Marquezine (principalmente ela) e Malheiros elevam o material já muito bom que o seriado entrega. A atriz também atua como co-diretora em episódios do seriado, além de produzir a atração. Talvez, por isso esse empenho todo de Marquezine no projeto, e que, no final, ajuda a dar certo para a série de maneira geral, em ser ancorada por ela.
Com Amor da Minha Vida, você espectador, seja fã de rom-com ou não, vai cair de amores por essa série. Uma produção nacional gostosinha de se ver, que vai dar o que falar, e ainda por cima maratonavel. E que faz uma excelente adição ao mundinho rom-com no streaming que tá com tudo nos últimos tempos e que, talvez, Amor da Minha Vida seja um dos ápices desse tipo de conteúdo que quem em ondas galopantes. Igual, os sentimentos que esses personagens vivem e são expostos aqui.
Amor da Minha Vida chega em 22 de novembro no Disney+.