Um Filme Minecraft (A Minecraft Movie, 2025) é definitivamente alguma coisa. Alguma coisa boa? Definitivamente, para mim, não. Mas sinto que, talvez, para quem seja fã dos jogos, para as crianças que surtaram nas sessões de Sonic 3 no final do ano passado acabe por ser uma experiência divertida.
Memorável? Aí só o tempo dirá e se esse bloco vai ser um que vai ficar preso na mente da galera. Já que um dos pontos que mais o longa se apoia e entrega é essa busca irrefreável por easter-eggs e conseguir colocar o espectador dentro desse universo familiar dos jogos. E no final, das contas é o que sustenta o filme de maneira geral.

Mas para um não fã e não jogador dos jogos, eu vejo Um Filme Minecraft como alguma coisa mais do que isso. É a busca por destrinchar cada vez mais uma nova propriedade intelectual (as chamadas IPs), e em querer alimentar a máquina Hollywoodiana que tem se apoiado nesse conceito e está faminta para novos blockbusters e franquias para chamar de seu e entregar novas experiências no cinema para bater de frente com o hábito adquirido pós pandemia de ver coisas em casa e boom do streaming.
E se a Era da adaptação dos livros de fantasia passou, a dos super-heróis segue meio balançando, e a de filmes de produtos, principalmente de video-game, é a nova queridinha do momento. Mas ao mesmo tempo, Um Filme Minecraft também serve para colocarmos a lupa nessa questão e talvez seja uma das bandeiras vermelhas mais chamativas sobre essa questão. Com Um Filme Minecraft fica claro que nem tudo, nem toda IPs PRECISA virar filme. E se vira, que pelo menos faça alguma coisa satisfatória para agradar o maior público possível.
Blockbusters assim são os famosos tipos de filmes que devem atingir todos os quadrantes demográficos, ou seja, ser um filme que converse com todos os gêneros e todas as idades. Em sua definição é isso, um filme que agrade o maior número de pessoas. Aqui, particularmente sinto que Um Filme Minecraft fala com um público extremamente específico.
E que talvez para esse público, talvez, um filme como é Um Filme Minecraft, acabe por ser um bom filme, já o que é entregue aqui por Jared Hess é uma história dentro desse universo de blocos de montar, criaturas amalucadas, objetos perdidos e tudo mais. Definitivamente, talvez, encontre um sucesso com uma parcela extremamente nichada. Afinal, é para o público que consome esse tipo de jogo que Minecraft que é o que acaba sendo esse filme.
Mesmo que de maneira geral eu ache que Um Filme Minecraft acabe por ter uma história irrisória, personagens extremamente quadrados (sem piadas sobre o formato dos blocos de construir), e uma narrativa que meio que se apoia em tudo que já vimos em outros longas do tipo seja Jumanji, o antigo e o novo (estrelado pelo próprio Jack Black), Uncharted, Borderlands, Sonic e até mesmo Free Guy – Assumindo Controle (o melhor dessa safra).
E já que o grande bloco, a grande espinha dorsal, que faz Um Filme Minecraft ser um filme filme, acaba por ser sustentado pela necessidade desesperada de conectar com os jogos, e com as legiões de fãs, outras coisas não ajudam a defender muito o projeto. Nem mesmo o elenco consegue sobressair nessa história toda. Jason Momoa e Jack Black estão no piloto automático em Um Filme Minecraft, e realmente suas atuações estridentes e gritantes seguem presentes aqui e eles fazem o que sempre fazem nos outros filmes. Enquanto Momoa e Black lutam para ver quem grita mais, o longa subaproveita os outros atores, do elenco jovem formado por Emma Myers e Sebastian Hansen para duas atrizes com bons timing cômicos, mas que não dão liga com o tipo de humor que é apresentado aqui: Danielle Brooks e Jennifer Coolidge.
É tudo muito over, exagerado, em Um Filme Minecraft e que segue por todo o filme. E isso fica claro de cara, logo no começo onde conhecemos a figura de Steve (Black, que não ofende, mas também não ajuda com seu humor caraterístico no primeiro de dois filmes no ano), um cara que vive uma vida normal e que decide se aventurar nas minas e acaba por encontrar um cubo mágico com luz azul fluorescente e que vai parar em um novo e curioso mundo. Familiar? Chamado Mundo Superior, ele encontra nesse universo, um lugar mágico e moldável, com diversas criaturas diferentes que tem a possibilidade de ser criado de acordo com as vontades dele.
E tudo é apresentado num grande monólogo que leva boa parte do começo do filme, somos introduzidos de verdade para esse universo e para suas regras. E também para outro universo, o Nether, onde somos apresentados para os vilões do filme e sua líder Malgosha uma porquinha quadrada que quer acabar com toda a criatividade do mundo superior e de todos os outros mundos e é uma garota malvada e quadrada com um plano.

E isso também meio que acaba por ser um filme dentro de um filme, já que logo depois que somos apresentados para todo esse universo, e de uma forma engraçadinha e bastante ágil, logo chegamos no mundo real, onde novos personagens são introduzidos aqui. Dos irmãos Natalie (Myers vindo da popularidade de Wandinha) e Henry (Hansen) que chegam na cidade para um novo começo, ela para trabalhar na fábrica de batatas e ele para encarar novos anos no colégio, para o personagem de Momoa que é um antigo astro de competição de videogames dos anos 80 e que vive das glórias do passado para Dawn (Brooks, a melhor coisa do filme e que disparada a que mais trabalha com menos que tem), uma jovem que tem diversos empregos, e também para o arco mais aleatório e avulso do longa e de um longa dos últimos tempos que é tudo que envolve a personagem de Jennifer Coolidge, a diretora do colégio Marlene.
Um total e completo desperdício de tempo de tela e de carisma de Coolidge que fechou esse no auge da popularidade pós Emmy, pós White Lotus. Assim, o roteiro de Chris Bowman, Hubbel Palmer, Neil Widener, Gavin James e Chris Galletta leva um tempo não só para pouco introduzir e contextualizar o espectador com esses personagens, mas também para efetivamente os levar para o mundo de Minecraft.
Mas também quando eles chegam, e pensamos que talvez as coisas iriam melhorar, é como se um bloco caísse na minha cabeça já que não, as coisas melhoram tanto, sabe? Claro, é bacana ver o que time de efeitos visuais e práticos fizeram com as peças, com os objetos dos jogos como espadas, armaduras, e tudo mais, mas tudo acaba por ser muito simples mesmo, sem vida, e meh. É como eu descrevo o filme, MEHnecraft.
Por que a narrativa de juntar essas pessoas desconhecidas e com personalidades diferentes fica sobressair em detrimento para a busca desenfreada de Steve em apresentar as regras do mundo para os novos visitantes e consequentemente para o público espectador e que não necessariamente está a par de tudo que está acontecendo.
Durante muitas cenas, fica claro que elas estão ali para serem algum easter-egg, mas ao mesmo tempo para mim, muitas soaram como uma coisa meio só para inflarem o tempo do filme. E ao mesmo tempo não sei se ter mais tempo para desenvolver tudo isso ajudaria o filme, afinal, as poucas mais de 1h40 me pareceram mais que suficientes.
No meio das aventuras com blocos, efeitos especiais, poucas piadas que funcionam e que fazem rir de verdade, Um Filme Minecraft me soa como um filme fraco, vazio e sem brilho, por mais que todos os envolvidos parecem que querem fazer de tudo para fazer o contrário. No final, é como se Um Filme Minecraft fosse um grande bloco que caísse num lugar errado e atrapalhasse seu jogo, mas sei lá eu sempre fui um cara mais do Tetris mesmo.
Um Filme Minecraft chega em 3 de abril nos cinemas nacionais.