Em uma das cenas de Thunderbolts* (2025) a personagem Valentina Allegra de Fontaine de Julia Louis-Dreyfus diz para um bando de senadores que “Os Vingadores não vão aparecer! Quem vai manter o povo americano em segurança?“. E vou dizer, ainda bem que aquele grupo não está mais disponível, afinal, o MCU se expandiu de uma forma tão exponencial e rápida que fica claro que existe lugar para mais personagens sim. E aqui no caso, são os anti-heróis que ganham seu lugar ao sol.
Como capítulo final dessa fase do MCU pós-Ultimato, Thunderbolts* se firma como o projeto que mais avançou a trama para chegarmos num ponto onde uma nova ameaça era necessária para termos um novo time de heróis unidos, após o grupo original vencer o roxão Thanos, e vermos Tony Stark ir de arrasta, Capitão América voltar para o passado, Natasha se sacrificar pelo Universo, Thor ir curtir suas aventuras e Hulk ficar preso nos direitos autorais e não ter a chance de ter um filme próprio.

O foco agora? O bad-guys. A resposta da Marvel Studios para o Esquadrão Suicida da DC vem com Thunderbolts* que não decepciona e faz um filme extremamente bem feito, bacana e que mostra que sim o MCU está “arrumando a casa” para receber novas visitas. Sejam elas vilões ou heróis. Afinal, Thunderbolts* meio que reúne diversos rostos que passaram por produções do estúdio nos últimos tempos e os coloca no mesmo filme e na mesma fórmula Marvel que tem dado certo, e dinheiro, há anos.
Assim, o que temos é um sim filme de ação, de formação desses novos personagens e um pouco mais. Alguns deles que foram apresentados em produções no streaming, outros em rápidas cenas pós-créditos, e agora aqui em Thunderbolts*, avançam suas participações, onde fica claro que conseguem mostrar para que vieram.
É o caso da própria Valentina de Dreyfus, descrita como uma Nicky Fury do mal e que desde de Víuva Negra (2021) tem tocado o terror nos bastidores dos projetos de operação ilegais e trás a mercenária, ex-Viúva Negra Yelena Belova (Florence Pugh) para o centro da história. Temos também o personagem do Guardião Vermelho (David Harbour) que também foi apresentado em Viúva Negra, do Agente Americano, John Walker (Wyatt Russell), que foi visto na série do Falcão e o Soldado Invernal, para a Fantasma (Hannah John-Kamen), a vilã do fraco Homem-Formiga e a Vespa lá de 2018 e até mesmo o carismático e favorito dos fãs Bucky Barnes de Sebastian Stan que tem sido a carta coringa da Marvel nas últimas produções, tendo dado as caras também em Capitão América: Admirável Mundo Novo alguns meses atrás.
Thunderbolts* coloca esses personagens todos juntos, amarra as pontas de onde estamos na linha do tempo do MCU (o filme após os eventos do último filme do Capitão América onde o Presidente Ross se tornou o Hulk Vermelho) e mostra que, às vezes, o mundo pode ser salvo pelos vilões. Aqui no caso, figuras heróicas que já fizeram muita coisa de ruim.
E no meio de sofrer uma tentativa de impeachment e deixar o cargo de chefe da CIA, Valentina Allegra de Fontaine (uma excelente Dreyfus) quer amarrar as pontas, e apagar seus rastros, antes que esteja tarde demais para o desespero de sua assistente Mel (Geraldine Viswanathan) antes ela vá parar na cadeia por muitos anos.
Entre planos obscuros, pesquisas malucas, laboratórios secretos na Ásia e no meio do deserto, e a tentativa de desenvolver mais uma vez um super-soldado, tudo isso parece que explode na cara da personagem, e é claro, que ela coloca diversos mercenário para limpar tudo e quem sabe acabar um com os outros.
Existe um humor bem interessante, e muito executado, em Thunderbolts*, um que mostra o quão surreal algumas coisas podem ser, e como as coisas que podem soar as mais absurdas são as mais reais. E ao mesmo tempo Thunderbolts*, talvez, seja também um dos mais reflexivos filmes que já se passaram na história do MCU nesses mais de 20 anos de filmes. Os momentos cômicos aliados com um roteiro afiado e um ótimo uso do elenco que pende mais para a comédia (Dreyfus,Viswanathan, Harbour) se juntam com as cenas de ação, com uma reflexão sobre saúde mental, e depressão que há muito tempo não passava pelo MCU (talvez, desde de WandaVision) e entrega um filme que é difícil enquadrar ou colocar em uma caixinha específica, afinal, Thunderbolts* acaba por querer falar de diversas coisas e como diz John Walker em um dos momentos do filme: isso aqui tem muitas variáveis acontecendo ao mesmo tempo.
Enquanto os tópicos que Thunderbolts* toca são interessantes, ao mesmo tempo que o filme entrega ação Marvel no text book dos filmes de outras fases, as relações entre esses personagens, o timing cômico de diversos deles, e a forma como a história conta e define alguns pontos que realmente devem reverberar pelos próximos longas da franquia é muito interessante de se ver desdobrar na medida que esses personagens precisam fugir da ameaça de Valentina. Os planos da diretora da CIA ficam claro que vão dar errado logo de cara e o filme é ágil em estabelecer a narrativa e atrelar os acontecimentos com um experimento científico que não sai como o esperado.

Afinal, Thunderbolts* tenta que meio responder a pergunta: E se o Superman fosse do mal? Onde a série The Boys já fez isso durante boas temporadas. Mas aqui, não chega a ocupar muito da trama, ou, ser abertamente falado isso. Mas é uma piscadela interessante, na medida que somos apresentados para o projeto Sentinela.
E no meio da missão de Yelena, o Guardião Vermelho, Fantasma, Agente Americano, e Bucky que se junta mais lá na metade, temos a figura de Bob (Lewis Pullman) que realmente é mais uma nova cara apresentada no MCU junto que Shang-Chi de Simiu Liu, a She-Hulk de Tatiana Maslany, o Hércules de Brett Goldstein, a Clea de Charlize Theron e tudo mais. Nenhum desses personagens retornaram para o MCU nesse filme, mas a importância de Bob para a trama e o desenvolver de Thunderbolts* é mega importante.
E sem spoilers, mas é a presença de Bob que se desenvolve através da introdução desse personagem garante que Thunderbolts* tenha esse ar de reflexão muito mais bacana do que apenas de porradaria e ação e ação o tempo todo. Pullman consegue trabalhar a complexidade de nuances que Bob apresenta para a história e para esse personagem, mas os destaques ficam mesmo com Dreyfus que esbanja carisma em toda cena que está, e Pugh que lidera o elenco perfeitamente, está fantástica e meio que faz do filme ser de Yelena, uma das personagens mais bacanas que o MCU apresentou desde então.
Entre um texto bacana e que trás um certo frescor para o MCU e para as produções extremamente apoiadas em gêneros característicos (bruxas em Agatha Desde Sempre, mitologia egípcia em Cavaleiro da Lua, e o dia-a-dia nas ruas tanto em She-Hulk quanto em Demolidor e Ms. Marvel), Thunderbolts* volta a focar nas ameaças maiores e que somente um grupo de heróis, unidos, consegue cuidar.
Principalmente quando o vilão aqui é uma figura que se diz chamar o Vácuo e engole todo mundo na escuridão. E aqui,parece que aqui o diretor Jake Schreier quis sair o máximo possível da tela verde ou do volume que a Disney tem usado em suas mega produções. E meio que visualmente, isso dá um charme para esse projeto. As cenas de ação parecem que são mais realistas, as explosões também, seja quando temos Yelena em missão pulando de um prédio super alto, as de perseguição no deserto movimentam o meio do filme, ou quando o bicho realmente pega em Nova York mais uma vez. Os moradores já nem ligam quando alguma coisa ameaça mais uma vez. Claro, tudo isso é feito em uma escala menor, mas parece que temos um retorno para as primeiras fases da Marvel, onde tudo ainda era meio que uma experimentação.
No final, Thunderbolts* termina essa fase que atirou para todos os lados do MCU e consegue terminar de forma redondinha com uma premissa muito clara: preparar esse grupo de heróis para uma nova ameaça. É como se tivéssemos, sim, vendo um filme de formação de equipes, uma aqui formada pelos não tão bonzinhos heróis e sim uma que sabe jogar nas áreas cinzentas. E o asterisco em Thunderbolts*? É explicado e meio que apenas corrobora tudo aquilo falado aqui.
Thunderbolts* chega em 30 de abril nos cinemas nacionais.