Logo de cara, vou dizer que esse texto de Paradise não terá spoilers dos principais acontecimentos do começo do seriado. É muito mais legal, você, espectador ir por descobrir o que acontece por sua conta e risco. E claro, por que eu concordei em não revelar nada quando recebi os três primeiros episódios antecipados. Risos.
Mas sobre a série e o que eu posso falar. Algum tempo atrás, o que mais me chamou atenção em Paradise foi aquilo que foi divulgado da premissa (aparentemente) simples da atração. Que a série seria mais uma história com um toque de suspense, onde íamos acompanhar o dia-a-dia do Chefe Serviço Secreto americano, que iria descobrir que o Presidente dos EUA tinha morrido no seu turno e que aí, então, talvez, ele fosse se ver metido em algum tipo de conspiração governamental e etc.
Até aí nada de novo. Já vimos isso em diversas produções ao longo dos anos. E era basicamente isso que sabíamos do seriado, além do fato que seria protagonizado por Sterling K. Brown e que o projeto tinha sido criado por Dan Fogelman. Para quem não lembra, ou não associou os nomes, ambos trabalharam juntos, durante anos, em This Is Us, atração que deu para Brown o Emmy de Melhor Ator em Série de Drama lá em 2017.

E num é que aqui a parceria pode nos encaminhar para Brown levar mais um prêmio para casa? Afinal, Paraside faz muito mais do que isso do que falei nos parágrafos acima. Muito, muito mais. A série entrega, sim, toda essa trama de conspiração nos bastidores da Casa Branca, mas faz uma que para se diferenciar de todas as outras produções que falavam sobre isso, de Homeland até O Agente Noturno, para A Diplomata, entrega um plot twist de cair de queixo de tão bom e tão surtado que é. E um (apresentado logo no começo) que vai fazer o espectador quer, desesperadamente, e na mesma hora, continuar a atração, logo depois que o episódio 1 terminou, no que já podemos chamar de primeira grande estreia do ano, sem dúvidas.
Afinal, o trabalho de Fogelman em criar essa ambientação extremamente convidativa para o primeiro episódio é um trabalho incrível de acompanhar. Afinal, em Paraside, o trabalho principal que temos é prestar atenção em todas as pistas e dicas que a trama vai dar nesse começo e que culminam em um dos melhores ganchos pós-primeiro episódio em muito tempo.
Por termos outros 7 a caminho, sinto que Paraside vai direto ao ponto e não cozinha, ou enrola, o espectador em nada. Pelo menos no começo, é certeira, é brutal em sua proposta, e coloca todas as cartas na mesa, logo de cara, e ainda, guarda algumas outras na manga para ir, aos poucos, mostrar, como chegamos, aonde chegamos, e para onde vamos, na medida que os eventos que são mostrados no primeiro episódio são jogados na nossa cara para depois nos episódios posteriores ficarmos extremamente investidos para sabermos mais sobre tudo que acontece.
E a grande graça, é ir, sempre se surpreendendo pela narrativa e para os lados que a trama vai. Afinal, quando somos apresentados ao Agente Xavier (Sterling K. Brown), ele está de patrulha por mais uma noite com a equipe que está com o Presidente Carl Bradford (James Marsden) que gosta de conversar, testar os funcionários, tomar uns bons drinks, e fumar horrores.

O que acontece é que pela manhã seguinte, às 08h01, é que o chefe da segurança encontra o chefe do Estado, de roupão, estirado no chão, com uma poça de sangue, no meio do quarto dele. Xavier precisa pensar rápido e colocar seus anos de experiência em prática na medida que analisa e avalia o que aconteceu, e como ele vai conseguir, reunir todas as pistas da melhor forma, e da forma mais rápida possível. Diversos questionamentos surgem já o político foi morto no que podemos chamar de casa mais vigiada do mundo (e não estamos falando do BBB) e em um lugar basicamente impossível de entrar.
Assim, Paraside parece colocar todos esses personagens numa caixinha de surpresa, onde a cada minuto da história, alguma coisa, alguma informação, nova surge em tela e nos faz ver personagens, acontecimentos e eventos com outros olhos e outras perspectivas. Na medida que uma nova informação surge, um novo relacionamento é apresentado, ou até mesmo uma cena do passado desses personagens é contada, tudo mostra que Paradise acaba por ser um trabalho impecável do ponto de vista narrativo. Já que precisamos reunir todas as pistas que temos, enquanto vemos o trabalho de investigação dos personagens e precisamos também, com eles, tentar descobrir o que aconteceu quando as câmeras do local ficaram desligadas por algumas horas na madrugada.
E para uma atração do gênero, isso deve ser um dos grandes primeiros pontos altos do ano quando falamos do mundinho de séries e de streaming. Mas particularmente, o que eu achei de mais brilhante em Paradise é que Fogleman usa toda sua expertise de anos de This Is Us para ir apresentando as diversas peças desse quebra cabeça, seja por flashbacks, ou montar as cenas com as informações que precisamos para entendermos o que acontece, o que fazer apenas a narrativa se expandir e se contrair para nos introduzir e apresentar todas as variáveis para nós investigamos junto com o protagonista o que aconteceu.
E se uma coisa fica claro em Paradise é que nem tudo parece ser e que alguma coisa nem sempre é tão simples como que acabamos de ver. E Brown segura o começo da atração como ninguém. Apoiado por um bom texto, que mescla humor e reflexões, e com uma atuação extremamente baseada em um olhar penetrante e um semblante que você vê as engrenagens rodando mesmo quando o personagem está em total silêncio, o ator realmente mostra que o Agente Xavier, assim como boa parte dos outros personagens da atração tem alguma coisa a esconder no meio dessa história toda.
E não só ele está bem, todo o elenco está bem aqui. De Marsden que aparece mais nos flashbacks como um personagem meio debochado, canastrão, e falastrão, para Julianne Nicholson (incrível aqui e já uma das melhores personagens do ano) que interpreta uma bilionária chamada Samantha, parece mais nos capítulos seguintes, e sem dar muito spoiler, dá para dizer que ela é meio quem é que faz a banda tocar nisso tudo para os outros funcionários do serviço secreto como o agente Billy (Jon Beavers) e a agente Nicole Robinson (Krys Marshall) que faz a chefona maior do Serviço Secreto e que tem também outras conexões com a alta administração do governo.
Essa união desses personagens cheio de segredos, entrega uma história tão bem amarrada, tão interessante, tão surreal, mas, ao mesmo tempo, tão possível de se acontecer que o gostinho de quero ver mais é muito especial. No final, Paradise é uma para deixar no radar e observar todas as pistas possíveis para compor esse grande e viciante mosaico. Qual a teoria de vocês?
Paradise estreia com os 3 primeiros episódios em 28 de janeiro.