Quais desafios que temos quando precisamos trazer uma série que deu muito certo em um país e tentamos adaptar para outro? E não só para outro idioma, mas também outra cultura e outro tipo de público? É o que fomos atrás de descobrir com Barbie Kligman e Hank Steinberg, a showrunner, criadora, e o produtor executivo, respectivamente, de Doc, a nova série médica do Disney+.
Também produtora-executiva do seriado Barbie Kligman trabalhou em diversos outros seriados ao longo de sua carreira entre eles Magnum P.I., Secrets and Lies, Private Practice. Já Steinberg tem no currículo atrações como For Life e Without a Trace.
E os dois trabalharam em parceira com a Sony Television e a FOX Entertainment Studios para trazem a versão italiana da série Doc — Nelle tue mani para o mercado americano, onde a atração é exibida no canal FOX, para outros mercados, como o Brasil.
O seriado acompanha a história da Dra. Amy Larsen (Molly Parker, indicada ao Emmy por House of Cards), a brilhante e obstinada chefe de medicina interna e familiar do Westside Hospital, em Minneapolis. Depois que uma lesão cerebral apaga os últimos oito anos de sua vida, Amy precisa navegar em um mundo desconhecido, onde não se lembra dos pacientes que tratou, dos colegas com quem cruzou, da alma gêmea da qual se divorciou, do homem que agora ama e da tragédia que a levou a afastar todos. Ela pode contar apenas com sua filha de 17 anos, de quem se lembra quando tinha 9 anos, e com alguns amigos dedicados, enquanto luta para continuar exercendo a medicina, apesar de ter perdido quase uma década de conhecimento e experiência.
Doc também é estrelada por Omar Metwally (The Affair), Amirah Vann (How To Get Away With Murder), Jon Ecker (Firefly Lane), Anya Banerjee (The Blacklist) e também Scott Wolf (Party of Five) e Patrick Walker (Lessons In Chemistry).
Assim, confira os principais destaques do nosso bate-papo com a dupla.

ArrobaNerd: O que foi que mais atraiu vocês na versão italiana que os fez pensar: “Ok, talvez tenhamos uma boa série para o mercado americano”?
Hank Steinberg: Bem, tive a sorte de trabalhar com a Sony [Television] e eles adquiriram os direitos da versão italiana e me mostraram. Assisti a tudo em dois dias. É muito, muito comovente, bem atuado e bem contado, e então, é claro, você pensa, bem, por que o mundo precisa de um outro seriado igual a esse e qual seria o propósito? Poderíamos simplesmente fazer o que eles fizeram com personagens americanos? Mas não seria uma grande mudança… Então a primeira coisa que pensei foi como seria se mudássemos para uma mulher em vez de um homem? Como isso mudaria a dinâmica da série? E eu pensei: “Ah, isso é realmente interessante!”.
Normalmente, não vemos uma mulher que se fecha e afasta as pessoas porque não consegue lidar com sua dor. Essa é uma característica mais masculina. O que seria se essa mesma mulher estivesse tendo um caso com um homem mais jovem, não apenas um homem mais jovem, mas um homem mais jovem, e que ainda trabalhasse para ela. Isso é muito transgressor. Geralmente é um personagem masculino que faz isso. E isso é mais aceito com um homem.
E pensei: “Ok, temos alguma coisa interessante aqui”. O que aconteceria se pegássemos os personagens, na versão italiana, temos uns 10 ou 12 personagens, e se reduzíssemos na nossa versão para uns 5 ou 6 personagens principais e realmente nos aprofundássemos mais neles? E se tivéssemos flashbacks que realmente mostrassem de forma consistente o que estava acontecendo com a personagem de Amy? Então, essas foram todas as coisas sobre as quais Barbie e eu conversamos e trabalhamos no início e, sabe, eu mostrei a ela o programa e foi assim que resolvemos tudo.
Barbie Kligman: Sim, foi incrível, porque quando o Hank me ligou para ver se conseguiríamos, sabe, nós queríamos trabalhar juntos há muito tempo. Então, quando Hank me ligou para saber se queríamos fazer isso, meu pai era médico de família. Ele foi médico por 50 anos e eu trabalhei em quatro programas médicos. Então, eu estava muito animada para fazer isso, mas também não conseguia parar de assistir.
No começo, eles só nos deram 11 episódios e eu pensava: “Onde estão os outros 5?” Onde estão, porque eram muito bons. E acho que, para nós, sentimos que era muito bom. Por isso, não vamos mudar as coisas que eles fizeram, de uma forma prejudicasse o sentido original da atração. Então decidimos que iriamos criar uma versão que seja nossa, mas que pegue a ideia e alguns dos princípios, mas que faça um seriado que você possa achar as versões italianas e americanas, cada uma, de uma vez, e ainda assim gostar das duas por motivos diferentes.
ArrobaNerd: Em 2023, tivemos as greves em Hollywood, que foram muito importantes para o setor conseguir melhorar as condições de trabalho, é claro, mas também adiaram vários projetos.
Isso teve impacto na produção da série? Ajudou vocês a melhorar alguma coisa ou a analisar melhor alguma coisa que vocês acham que não estava funcionando muito bem por algum motivo?
Hank Steinberg: Sim, quero dizer, foi um período difícil para todos no ramo. Acho que isso nos deu mais tempo para pensar em como aprofundar o show, mas estávamos prontos para começar e tivemos que esperar. Mas estávamos felizes com o que nós tínhamos até então.
Barbie Kligman: Foi uma época assustadora, porque quando a greve aconteceu, muitos shows foram cancelados e tivemos a sorte de que, quando a greve terminou, pudemos voltar, então fomos realmente abençoados nesse sentido. Além disso, Hank está sempre pensando em coisas em sua cabeça, então você sabe que quanto mais tempo ele tem, mais ele vai esperar. Ah isso aqui pode ser melhor.
Mas já estávamos trabalhando no seriado há mais de um ano antes das greve. A série já tinha sido aprovada já estávamos construindo cenários e outras coisas. Foi uma época complicada. Mas ficamos muito felizes quando a greve terminou, pois fomos um dos primeiros a ser chamados para filmar pelo canal FOX: Estamos de volta, vamos lá Isso mostra o quanto eles acreditavam no programa. Isso foi muito encorajador.

ArrobaNerd: Barbie, você mencionou que trabalhou em outros seriados e eu vi aqui que você tem alguns seriados médicos no seu currículo. O que você aprendeu nesses outros projetos que você conseguiu colocar em prática de uma forma mais fácil agora em Doc? Fica mais fácil ou mais difícil?
Barbie Kligman: Tem seus momentos mais fácies e outros mais difíceis sabe? [risos]
Tem algumas partes que são mais fáceis porque eu brinco o tempo todo que finjo que sou médica. Eu estava em um voo quando estávamos no meio do seriado e alguém no meio alto-falante disse: “Temos algum médico a bordo?. E eu quase me levantei para ir ajudar, mas disse para mim mesma: “Espere, você não é médica. Volte a se sentar em seu lugar. O que está fazendo?” Mas, para mim, eu adoro a medicina, sabe?
E meu pai se foi há cerca de 15 anos, mas ele continua a ser uma grande presença. Então, para mim, há algo que quase me aproxima um pouco mais dele por ser capaz de fazer isso. No primeiro seriado que eu trabalhei, eu era assistente, isso vai dedurar minha idade, mas eu era assistente em ER, Plantão Médico. Isso há muitos, muitos, muitos anos. [risos] E foi um programa muito inovador, gigante e uma experiência inacreditável.
Depois, quando eu já tinha começado a escrever roteiros, trabalhei na série Everwood, que era um médico de uma cidade pequena. Depois, em seguida, em Private Practice, que era um consultório particular de vários médicos, um programa da Shondaland. E, anos mais tarde, foi o Code Black, que tratava muito da emergência do USC County.
Portanto, todos eles eram diferentes e nos deram todos os sabores de coisas que poderíamos querer explorar. Mas escolhemos especificamente a medicina interna. Acho que eles estavam fazendo algo semelhante na versão italiana, mas escolhemos especificamente a medicina interna porque sempre achei interessante o fato de meu pai tratar de todo mundo, pois não havia limitação em termos de especialidade.
ArrobaNerd: Eu acho que para um série como Doc era crucial e importante escolher a atriz certa para ser a Dra. Amy Larson. A personagem é fundamental para fazer a trama girar já que ela interage com todos os outros personagens. Como foi para vocês chegarem no nome da Molly Parker que para mim está muito bem.
Hank Steinberg: A escolha de Amy foi primordial. Quer dizer, nós precisávamos, sabe, que aquele artista fosse capaz de incorporar tantas características diferentes de um personagem muito complicado, o antes, o depois, a parte mais suave, a parte mais cautelosa, a parte compassiva, a parte defensiva, o humor, o humor mais ácido que surge nessa situação absurda e então tínhamos que escolher alguém que não apenas tivesse cada uma dessas qualidades, mas que fosse capaz de metabolizá-las e fazer com que todas elas estivessem presentes em todos os momentos.Você conhece até mesmo a nova Amy que acorda após perder a memória e que é uma pessoa mais calorosa e compassiva. Você sente sugestões dessa versão mais sombria e ousada dela. Ela está lá. Está por baixo.
Isso poderia surgir a qualquer momento, e é isso que faz com que o conceito de que ela era uma espécie de duas versões diferentes, duas identidades diferentes de si mesma, e que é possível, Molly, de alguma forma, encontrou uma maneira de reunir todos esses aspectos, e você sabe que sem ela não haveria show. Sim, ela foi incrível.
ArrobaNerd: As séries médicas de TV têm sido muito populares entre os telespectadores de todo o mundo, e alguns dos médicos dessa série têm um status icônico. Vocês têm um médico de TV favorito?
Barbie Kligman: Ah essa pergunta é difícil! Mas para mim, o Dr. House com certeza era um dos meus favoritos.
Hank Steinberg: Eu gosto do personagem do ator David Morse em St. Elsewhere!
Barbie Kligman: Eu fui uma das pessoas que, apesar de ER – Plantão Médico e Chicago Hope terem sido originalmente exibidos na mesma noite, mesmo que depois não foram mais, eu assisti a ambas em sua totalidade. Eu não lembro muito o nome do personagem do Mandy Patinkin no seriado, mas ele era fantástico em Chicago Hope.
E todos em ER – Plantão Médico. Eu amo aquele programa. Eu amava aquele programa antes de ir trabalhar lá. Meu começo em Hollywood foi lá e você ter um trabalho no seu seriado favorito… uau não dá para ter alguma coisa melhor que isso.
ArrobaNerd: E vocês tem algum episódio que acham que os fãs vão enlouquecer nas mídias sociais quando for exibido e que, oh, meu Deus, vamos twittar muito ou entrar assuntos mais comentados?
Barbie Kligman: Acho que temos muitas coisas que acontecem com a vida pessoal dos personagens no episódio 6. Mas a trama do 7º…. os casos médicos que cercam alguns dos personagens. Eu acho que definitivamente pode entrar nos assuntos mais comentados sim.
Hank Steinberg: É bastante polêmico.
Barbie Kligman: Mas a trama da temporada avança muito rápido, principalmente nos episódios 7,8,9 e o final do 9 acaba com um cliffhanger gigante que vai preparar a trama para o final da temporada.
Doc chega em 14 de maio com todos os episódios disponíveis no Disney+.