Acho que um dos grandes méritos de A Mulher no Jardim (The Woman in the Yard, 2025) é que por ser um filme que se passa em basicamente uma única locação consegue fazer um suspense bacanudo ao usar as habilidades da atriz Danielle Deadwyler da melhor forma possível.
Deadwyler se prova, mais uma vez, ser realmente uma estrela em ascensão em Hollywood e aqui lidera e comanda o elenco com uma atuação extremamente eficaz e interessante de se assistir. Construído de uma maneira simples e com uma duração enxuta, o diretor Jaume Collet-Serra (que retorna dos blockbusters como Jungle Cruise, Adão Negro) aproveita os cenários, a estrutura da casa, e o uso de luzes e sombras para fazer essa história acontecer na medida que conhecemos uma família que vive num casarão isolado na zona rural e que está passando por um momento difícil. Até que uma mulher surge, sentada, no jardim da propriedade.

E assim, logo de cara, somos jogados para dentro desse local, e vamos por acompanhar uma manhã na rotina dessa casa, uma manhã que poderia ser aparentemente comum para Ramona (Deadwyler, ótima), e os filhos Annie (Estella Kahiha), a menor, com uns 6 anos, e Taylor (Peyton Jackson), o mais velho e já adolescente. Só que não vai ser isso que vai acontecer, já que o roteiro de Sam Stefanak vai aos poucos nos dar um panorama maior, com mais informações, contexto e peças de um quebra-cabeça do que está por acontecer, do que aconteceu e em que momento de vida encontramos esses personagens.
Stefanak não tem medo de os escrever e os apresentar como serem pessoas que sejam fácies, ou gostáveis, logo de cara, afinal, como descobrimos na hora que Ramona acorda e pega seu celular: ela perdeu seu marido, e os filhos, seu pai. Então, todos eles não estão em uma boa fase, onde fica claro que por baixo dos panos do vestido todo preto, e do véu que a tal mulher misteriosa que se encontra no jardim da personagem de Deadwyler usa, vemos que A Mulher no Jardim está por fazer um filme sobre luto e seus estágios.
A Mulher no Jardim então vai dissecar essa relação de Ramona com os filhos, o que aconteceu com o marido David (Russell Hornsby) que como descobrimos não está presente com essa família e faleceu. Combinado com a direção bastante inspirada de Collet-Serra, que abusa de uma trilha sonora latente e que contribui com o sentimento de tensão que a narrativa vai ganhando quando a presença da mulher começa a afetar a rotina da casa, A Mulher no Jardim vai por escancarar os conflitos entre esses personagens de uma forma bastante interessante.
Principalmente entre Ramona e o filho adolescente, já que a narrativa consegue construir e mostrar que ambos estão por lidar com a perda de David a sua maneira. Claro, as perguntas mais importantes sobre a tal figura, as razões de sua presença, o que ela deseja, e o que ela vai fazer são feitas pelos personagens e logo deixadas de lado pelo roteiro de A Mulher No Jardim muito rapidamente, afinal, fica nítido, logo de cara que o que importa são os moradores dentro da casa e não a figura misteriosa fora dela e sim quais serão as consequências que sua presença no jardim oferece para a trama e sua narrativa.

Na medida que todas as tentativas de deixaram o lugar, ou de pedirem ajuda, falham (e fica claro que muito pela interferência dessa entidade sobrenatural), A Mulher no Jardim vai por brincar com o fato de será que isso é alguma coisa que é da cabeça de Ramona?, de ser apenas um surto psicótico, e que, talvez, possamos ter mais coisas por trás dessa história toda?
E sim, A Mulher no Jardim vai por esse caminho, mas ao mesmo tempo que a narrativa dá uma pirada e se torna um pouco bagunçada e confusa, num contraste gigante do que foi apresentado por aqui, dá a chance de Deadwyler brincar com uma certa dualidade e uma certa complexidade que essa personagem e que essa narrativa entrega lá pela sua metade.
Deadwyler é a melhor coisa do filme e sua presença em tela é magnética e que você não consegue tirar os olhos em nenhum momento. E principalmente quando vamos descobrir mais sobre a personagem e o que ela vivia antes do acidente. Enquanto a figura da mulher no jardim (interpretada por Okwui Okpokwasili) se aproxima da casa como uma sombra que se espraia pela parede na medida que o sol avança e o dia segue seu percurso, o longa vai por mostrar como isso afeta os personagens e os conflitos que eles passam na medida que discussões acaloradas, lavagem de roupa suja e micro-ofensas são disparadas.
E “casos de família” todo se desenrola enquanto a jovem Annie colore na mesa da sala e faz a lição de casa. “A perninha do R é sempre para a direita!” brada Ramona para filha enquanto eles estão na sala e vêem a figura da mulher se aproximando cada vez mais e mais.
A Mulher no Jardim é um filme de quebra-cabeças, onde as coisas estão intrinsecamente conectadas e a narrativa é fluida e circular. E quando a noite chega, e a mulher misteriosa adentra a residência, o longa ganha seus ares mais de terror (tem uns 2 jumpscare que me fizeram pular da cadeira) onde ao mesmo tempo se apoia numa coisa mais um pouco mais conceito e que pode afastar os fãs do terror mais galhofa. Mas por outro lado, acho que A Mulher no Jardim mesmo que divague para contar e explicar o que realmente está acontecendo na casa quando a família se vê finalmente cara a cara com a figura onipresente da mulher do véu, os momentos finais tem uma explicação que pode gerar debates (e até mesmos videos de finais explicados), mas, que, para mim, finalizam a história de uma maneira aceitável, melancólica, e triste para essas pessoas.
E igual quando Annie conta a história do Lobo Mau e os Três Porquinhos para o bichinho de pelúcia no começo do final, não vou dar spoilers das partes que as coisas ficam realmente ruins e pesadas em A Mulher No Jardim para todos eles. Mas faz um bom filme, sem dúvidas.
A Mulher no Jardim está em cartaz nos cinemas nacionais.