Tem um certo charme nostálgico em A Fonte da Juventude (Fountain of Youth, 2025) que faz com que o longa se sobressaia de outras produções do gênero que tentaram replicar esse sentimento visto nos filmes antigos de aventura nos últimos tempos. E por ser um filme que faz os personagens resolverem pistas, mistérios e encaixarem peças, acho que o que dá certo aqui é uma combinação de diversos fatores.
A primeira: O diretor Guy Ritchie se une com a Apple e com nomes conhecidos em Hollywood para acho que entregar um dos maiores projetos que já passaram pela plataforma. Claro, a Apple já teve o grandioso Napoleão, o divertido Lobos, e até mesmo o surpreendentemente bom Entre Montanhas no começo do ano, mas sinto que A Fonte da Juventude é o primeiro grande filme da plataforma com cara de ser um grande filme que foi feito para o streaming, sabe?

Em parceria com a Skydance, A Fonte da Juventude poderia ter sido um Netflix Originals e ter dominado os charts da plataforma, mas aqui chega no AppleTV+ que tem tido um bom ano e com mais produções disponíveis e tem tido mais acertos. E definitivamente A Fonte da Juventude faz um desses acertos e o longa tem chances de entregar bons números já está posicionado numa excelente janela de lançamento.
Vamos ter uma noção nas próximas semanas quando sair a tabela de audiência. Basta agora ver se quem tem AppleTV+ vai assistir e dar uma chance para o filme, afinal, sai bem na época do início da temporada de lançamentos de blockbusters nos cinemas e se tivéssemos em outros cenário, talvez, um pré-pandêmico, definitivamente A Fonte da Juventude estaria também nos cinemas.
E seria uma boa aventura para se ver nos cinemas, sem dúvidas, afinal Ritchie trabalha aqui com excelentes atores e que deixam A Fonte da Juventude fugir de ser apenas um longa de ação e de aventura genérico. Do carismático e engraçado John Krasinski para Natalie Portman (que demora para achar o tom de sua personagem, mas quando acha lá na metade do filme ninguém a segura) para Eiza González (que já virou figurinha carimbada nesses tipos de filme e volta a trabalhar com Ritchie) para Domhnall Gleeson e o astro mirim Benjamin Chivers como o filho de Portman no filme.
Eles são as peças que Ritchie coloca junto para funcionar. E curiosamente nesse grande quebra-cabeça global em busca de artefatos e pistas, todo mundo desempenha um papel para fazer as coisas se encaixarem e a trama girar e funcionar. Até mesmo o inspector da polícia internacional Abbas (Arian Moayed vindo do sucesso de Succession) que persegue o arqueólogo Luke Purdue (Krasinski extremamente cativante no papel) depois que ele invade um museu que sua irmã Charlotte (Portman) trabalha e rouba um dos quadros mais importantes em exibição na galeria e sai correndo do local com se fosse uma quarta-feira qualquer.

A Fonte da Juventude se comporta como um tradicional filme de Guy Ritchie e a estética visual que o fez trabalhar com a Disney em Aladdin e que garantiu 1 bilhão de bilheteria em todo mundo. Será que o longa vai ser um que vai dar um boom de novos assinantes? Como falamos, tem tudo para fazer sucesso na plataforma. Afinal, logo na cena inicial, temos cenas de perseguição típicas dos filmes de Ritchie, aquelas que duram um bom tempo e focam nos personagens correndo, empurrando, gritando e encontrando maneiras de se livrarem de quem os perseguem com decisões tomadas no calor da perseguição e em microssegundos. Quem está também é a câmera frenética que oscila entre closes fechados e depois tomadas em wide para dar o sentimento de grandiosidade da cena e que como falamos acabou por virar a assinatura do diretor.
E te falar A Fonte da Juventude é um filme grandioso, sim de sua própria forma. Nem só por conta de ser uma aventura global que se passa, e foi gravada em diversos cantos do mundo, mas por conta do elenco, e por ter um roteiro (de James Vanderbilt que trabalhou nos filmes Pânico e no longas Mistério no Mediterrâneo para a Netflix) que une Indiana Jones, Dan Brown e Agatha Christie e que faz um prato cheio para quem é fã desses tipos de história.
Afinal, não são só quadros que Luke e sua equipe também formada por Deb (Carmen Ejogo) e Patrick (Laz Alonso capitalizando no sucesso de The Boys) roubam e estudam. Luke está de olho numa lenda que seu próprio pai cobiçava em desvendar: a da fonte da juventude. Assim, já com a ajuda de sua irmã Charlotte, os comos e porquês vocês assistam por que é legal ver a química entre Krasinski e Portman no filme como dois irmãos que se pentelhammuito e discutem bastante, e um bilionário com uma doença grave interpretado por Gleeson, o grupo descobre as pistas deixadas no quadro roubado e partem atrás das próximas pistas.
Como fã desse tipo de história, em que eles se reúnem e precisam decifrar alguma coisa e a história meio que faz o espectador estar no meio da busca pelas pistas, sinto que a grande graça de A Fonte da Juventude fica nesses momentos em que eles estão empacados na jornada, decifrando as pistas até que alguém tem uma brilhante ideia e que acaba por resolver tudo. Faltou Ritchie intercalar mais esses momentos com as cenas de perseguição, por são nessas cenas que Krasinski, Portman, Chivers, Alonso e Ejogo mais entregam boas interações e bons momentos. Bem mais do que vendo o grupo fugindo da personagem de González, uma misteriosa mulher chamada Esme que quer manter a localização da fonte em segredo, e também do inspetor de Moayed que entrega boas frases de efeito sempre quando aparece: “Eu não tinha nada haver com o roubo! Foi isso que você falou não foi, Charlotte?” diz ele em uma das passagens mais divertidas lá na metade do filme.
Assim, A Fonte da Juventude coloca todas as pistas no mesmo lugar, o que dá para os personagens o mapa certo, mas antes, claro, temos outros desafios a serem ultrapassados antes do prêmio final. E claro, algumas reviravoltas, que você acaba por sacar que estão vindo bem antes, mas que não chegam a entregar as surpresas que os momentos finais entregam.
E se roteiro mesmo que bom, acaba dando uma tropeçada, sinto que o longa trabalha bem os efeitos especiais aqui no filme e que ajudam a contar essa história: seja na cena em que vemos Luke e Charlotte andarem por uma uma embarcação que estava submersa há muitos anos, ou até mesmo quando eles invadem uma das pirâmides do Egito e precisam se guiar dentro dos labirintos e câmeras secretas lá dentro.
Cheio de aventuras, e com uma mensagem bacana, no final, A Fonte da Juventude literalmente bebe da fonte de longas como Indiana Jones, Willow – Na Terra da Magia, Os Goonies, A Princesa Prometida e entrega uma história extremamente superior do que outras empreitadas no gênero recente como o pavoroso Cidade Perdida de 2022 ou o okzinho The Old Guard lá na Netflix de 2020.
O que temos, é um combinado de peças que se encaixam perfeitamente e que fazem uma boa, divertida, e espirituosa aventura para se ver no streaming e passar bons momentos com figuras conhecidas de Hollywood que definitivamente ganharam um bom dinheiro para estrelar esse. Por que aqui, o prêmio é melhor que a jornada, sem dúvidas.
A Fonte da Juventude chega em 23 de maio no AppleTV+.