Palm Royale | 1ª temp.: Crítica: Meninas malvadas e golpistas nos anos 60

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Num primeiro momento daria para descrever Palm Royale, a nova série do AppleTV+, como uma mistura de Saltburn, onde, em vez do objeto final ser conseguir a propriedade aristocrática, temos a busca por um título no clube mais badalado de Palm Beach, Florida com o clássico dos anos 2000 Meninas Malvadas da roteirista Tina Fey. Mas a atração criada por Abe Sylvia (roteirista do longa Os Olhos de Tammy Faye que deu o Oscar de Melhor Atriz pela atuação de Jessica Chastain com a personalidade da TV americana Tammy Faye Bakker), sai dessa caixinha, da Tiffany, claro, e acaba por ser bem mais do que isso. 

Kristen Wiig em cena de Palm Royale. Foto: Courtesy of Apple.

E fico feliz com isso. Afinal, Palm Royale entrega uma atração divertida, exagerada, e principalmente muito bem escrita. O seriado nos dá também uma reunião de nomes consagrados em Hollywood, com uma história viciante de se querer acompanhar, e uma Kristen Wiig no seu auge cômico. “Você é muito boa em deixar as coisas desconfortáveis.” afirma uma das personagens para a protagonista de Wiig e que acaba por realmente definir muito bem o que esperar de Maxine, da atuação de Wiig, e da série de maneira em geral ao longo dos 10 episódios que temos na primeira temporada. Afinal, é engraçado notar que somente agora Wiig tenha emplacado uma série depois do seu envolvimento no divisivo Mulher-Maravilha 1984 e depois ter dado a volta por cima com Duas Tias Malucas de Férias, o já icônico e clássico cult no film twitter longa conhecido como Barb and Star Go to Vista Del Mar. 

E do quarteto de comediantes que saíram do Saturday Night Live, Wiig foi uma das últimas a deslanchar com uma série para chamar de sua depois de Tina Fey, Amy Poehler, Maya Rudolph terem tido e protagonizado produções próprias e que fizeram sucesso de certa maneira. Mas aqui, com Palm Royale, Wiig faz por merecer por todos esses anos, afinal, a atriz entrega uma personagem caoticamente deliciosa de se acompanhar, com caras, bocas, trejeitos e um humor físico sem tamanho. E já parte para a corrida pelo Emmy lá em Setembro. E claro, ela não tá sozinha, afinal, o elenco reunido para Palm Royale é incrível.  É o dream team de qualquer um, mas principalmente dos gays, e que definitivamente são o público alvo da atração.

Da vencedora do Oscar Allison Janney como a socialite e Queen Bee de Palm Royale, a implacavel Evelyn para Leslie Bibb como Dinah até mesmo as participações especiais de Carol Burnett como Norma D’ellacourt, uma socialite mais velha e lendária e até mesmo o cantor Ricky Martin (de volta para o mundinho das séries depois de ter participado de The Assassination of Gianni Versace: American Crime Story) como o garçom do clube, o jovem Robert, a também vencedora do Oscar, Laura Dern como Linda, uma feminista, líder de um grupo de feministas, com um passado obscuro. 

Todo mundo está bem e apenas eleva o texto afiado que foi adaptado do livro Mr. & Mrs. American Pie. Afinal, são as referências culturais aos EUA dos anos 60, o famoso jogo de morde e assopra que a alta sociedade de Palm Beach jogava entre um martini e outro a beira da piscina, e claro, segredos e mais segredos escondidos entre joias, chapéus gigantes e vestidos de gala.  Os episódios, alguns com 50 minutos de duração, sabem utilizar muito bem todos esses personagens, o que acaba por dar ritmo para a atração. E as longas durações dos episódios acabam por ser primordial para contar essa história, em que Palm Royale faz isso sem soar cansativo, ou que acaba por enrolar e não chegar em lugar nenhum. 

Pelo contrário, a trama gira, igual o roladex que uma das personagens tem e que armazena as informações de toda a elite da cidade litorânea.  Palm Royale então, faz uma atração viciante de se assistir ao mesmo tempo que capricha na produção, seja nos figurinos, nos cabelos, nos ambientes que esses personagens vivem e desfilam. A cada episódio parece que a série só cresce, dos cenários dos jardins do clube, para as mansões, e até mesmo no hospital, onde algumas boas cenas do seriado se passam, até mesmo para as atuações desse excelente elenco.

Laura Dern e Ricky Martin em cena de Palm Royale. Foto: Courtesy of Apple.

E claro, na trama doida que se desenrola na medida que a recém chegada na cidade, Maxine (Wiig) quer por que quer fazer parte desse grupo de socialites e figuras endinheiradas. Primeiro passo: se tornar membro do clube. E o que ela faz? Escala as paredes, cai direto perto da piscina, e usa seu charme com o grupo das dondocas que desfruta de suas bebidas e que claro, a ignoram.

Ela não pode sentar com elas! E claro que é expulsa do lugar. Mas Maxine é uma mulher com um plano. E ao longo dos primeiros episódios vemos nossa protagonista galgar sua posição no Palm Royale na medida que ela se aproxima dessas mulheres e dos seus segredos, enquanto ela mesmo guarda alguns dos seus. É interessante vermos que em boa parte dos episódios quando as coisas, mesmo que terminem bem para Maxine, pode ter certeza que nos próximos minutos, ou nas cenas dos próximos capítulos não estarão.

Com uma pegada mais satírica, mais novelesca, mas sem deixar o tom de Cinderela, de lado Palm Royle, nos leva para dentro desse mundo glamouroso na medida que as mentiras e tramoias criadas por Maxine acabam dando certo e ela se vê dentro da alta sociedade, das festas, dos desfiles no costureiro e claro no círculo íntimos das mulheres da cidade. Das pequenas chantagens, para os cheques sem fundo, o seriado mostra que Maxine vai ralar para conseguir seu espaço aqui junto com o marido Douglas (Josh Lucas) nessa sociedade cheia de aparências e regras. E claro que isso virá com problemas, afinal, logo no primeiro episódio descobrimos que alguém vai bater as botas lá no futuro. Quando? Talvez no Baile que é realizado todo final de temporada de verão. Mas até lá a série promete muitas outras reviravoltas. 

Allison Janney em cena de Palm Royale. Foto: Courtesy of Apple.


E com a voz anasalada de Wiig narrando os episódios, e a forte estética sessentista, Palm Royale agrada e empolga na medida que Maxine vai por esbarrar nos segredos de todos os colegas, e não só nos segredos, como nas fofocas, nas histórias do passado e que influenciam o presente desses personagens Seja nos segredos mais cabeludos (tentativa de assissinato, roubo e corrupção) para algumas mentirinhas triviais. E nada medida que a história fica mais doida, e as reviravoltas mais malucas, e mais frequentes, a atuação de Wiig fica maior e mais espalhafatosa. Ao lado de Jenney, Wiig faz um trabalho cômico impecável. O mesmo dá para dizer de Ricky Martin que realmente está bem aqui e tem um papel de destaque, sem dúvidas. 

No final, Palm Royale só parece uma série fútil e vazia, mas faz uma que coloca um espelho nas relações e na dinâmica da sociedade da época e que reflete muito do que acontece atualmente. Com discussões interessantes sobre gênero e conceitos feministas, a atração é um deleite visual de se assistir, marcado por excelentes atuações desse elenco gigantesco e cheio de ótimos nomes e que estão ótimos aqui. E vamos de mais Muy no nosso Thai, por favor!

Palm Royale chega com 3 episódios iniciais em 20 de março e depois novos episódios todas às quartas-feiras no AppleTV+.

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