O Sequestro do Voo 375 | Crítica: Produção nacional decola e empolga ao contar caso real

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E na contra mão de tudo que tinha saído, já dá para começar por dizer que O Sequestro do Voo 375 (2023) sim entrega um bom filme e realmente faz um olhar interessante para um caso real nacional, um dos marcos da História brasileira e que por algum motivo ficou esquecido no imaginário popular.

E talvez seja por misturar tudo isso que o longa realmente empolga, no ponto de vista cinematográfico, ao contar essa maluca história de um avião comercial sequestrado em pleno voo, onde o sequestrador tinha a ideia de jogar a aeronave em Brasília.

A narrativa de suspense, extremamente tensa (tinha horas que eu nem respirava!) e as boas atuações do elenco principal, são os motivos que fazem O Sequestro do Voo 375 decolar. Acho que o longa realmente acerta ao fazer o espectador embarcar nessa história e ficar preso ao longo do filme nessa trama e nos acontecimentos que cercam a tomada do avião comercial da VASP 375 pelas mãos do trabalhador Nonato (Jorge Paz, ótimo).  

Claro, fica difícil o longa nacional entregar, narrativamente, alguma coisa extremamente nova,  ainda mais depois de ter estreado depois da série Sequestro no Ar (Hijack), mas não é nada que a direção de Marcus Baldini não saiba explorar ao longo do filme para contornar esse desvio de rota.

A câmera apertada que se move, claustrofobicamente, pela cabine do piloto, onde fica ali na cara do comandante Murilo (Danilo Grangheia, na melhor atuação do longa) e mostra toda a tensão com o avião já sequestrado, ou nas cenas que a nave está prestes a ser abatida pela força aérea brasileira depois que o Ministro da Defesa do governo Sarney da época, o Brigadeiro Bastos (Adriano Garib) dá a ordem para acabar com tudo, ou até mesmo  as cenas em terra onde a operadora de voo Luiza (Roberta Gualda, também excelente) precisa negociar com o sequestrador e impedir que o avião seja arremessado no Palácio do Governo em pleno governo Sarney pós ditadura e com a democracia e os planos econômicos ainda eram frágeis.  

O trabalho de Baldini é fundamental para o longa nos deixar preso na cadeira o todo mundo para saber o que vai acontecer e como tudo vai se desenrolar. E por conta das cenas, o ritmo e  timing do longa, também funcionam graças à edição e a montagem (da dupla Lucas Gonzaga e Gustavo Vasconcelos) que O Sequestro do Voo 375 apresenta.

O longa funciona tanto na parte da aeronave, onde apresenta os passageiros, a tripulação, e humaniza esses personagens ao longo do filme, e na medida que a situação extrapola, e Nonato tenta o máximo que consegue seguir com seu plano. A atuação de Paz também é primordial para entregar o retrato dessa época, e fazer com que o espectador se posicione para  compreender o que psicologicamente se passava na cabeça do sequestrador e suas motivações, mas é o trabalho impecável  Grangheia que molda a tensão que o filme passa e é responsável pelas cenas mais dramáticas, principalmente lá pelo final, aqui sem spoilers.

Afinal, o ator transmite em tela o sentimento de terror que o piloto vive na medida que, por conhecer as operações, e protocolos, começa entender o que realmente acontece, e o que pode acontecer se as exigências do sequestrador forem aceitas. 

O suspense é criado e escalonado aos poucos pelo roteiro da dupla Lusa Silvestre e Mikael de Albuquerque, mas sempre deixa o espectador com o sentimento angustiante de que qualquer coisa é possível de acontecer. Mesmo sendo uma história real que você pode ir no google momentos antes do filme começar (por favor não faça isso com o filme rolando nos cinemas), é a forma como a história é contada que dá todo o charme para O Sequestro do Voo 375 que não fica aquém de nenhum produção estrangeira sobre o tema.

E fora que os efeitos especiais do longa não deixam a desejar e realmente ajudam a nos fazer embarcar, de 1º classe, nessa doideira e realmente fazer um olhar para trás para essa história com DNA 100% brasileiro, seja bem ou por mal.

No final, O Sequestro do Voo 375 serve para relembrar, não no sentido de celebrar, e sim de alertar para esse caso, e para que nunca mais tenhamos uma situação como essa, mesmo nos dias de hoje, com o aparato de segurança muito mais sofisticado do que na época.

Nota:

O Sequestro do Voo 375 chega em 7 de dezembro nos cinemas nacionais.

Visto visto em Outubro no Festival do Rio.

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