Não! Não Olhe! | Crítica: Jordan Peele entrega um novo espectáculo cinematográfico cheio de questionamentos

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Ter Direção e Roteiro por Jordan Peele em um filme significa muita coisa nos últimos anos. É um sinal de prestígio, é sinal para você espectador ficar de olho, é um sinal de que alguma coisa inesperada vem aí. E com Não! Não Olhe! (Nope, 2022) não é diferente. O que temos aqui realmente é um filme daqueles de arrancar os cabelos de bom de Jordan Peele. Não tem outra definição, a não ser essa. O nome de Peele nos créditos do longa já diz tudo que o espectador, e você leitor, precisa saber, e principalmente, esperar do longa.

Outra coisinha, claro, que é importante saber de Não! Não Olhe! é quem, o elenco de talentos gigantes de Hollywood, que o diretor trouxe para contar essa história. Por que aqui isso faz totalmente a diferença. E tem muita gente boa dando as caras no longa. E como um bom filme do diretor, Não! Não Olhe! vai deixar muita gente confusa, mas no final das contas, o espectador deve rir (é o texto mais cômico entre os filmes de Peele), se assustar (afinal é um filme de Peele), ficar pensativo, e também acabar por ser sugado por essa experiência avassaladora visual que o filme entrega.

E é tão difícil falar de Não! Não Olhe! sem querer estragar essa tal experiência que Peele quer contar. Vou tentar o máximo não estragar para você aqui. Afinal, o longa não pode ser descrito como uma coisa só.… “ah é um filme sobre conflitos raciais e classe”, ou “é um filme sobre sombras e doppelganger”, ou “é uma adaptação de uma antiga série de sucesso”.

Não! Não Olhe! é suspense, é ficção científica, e sim, nesse meio tempo também é tudo isso e muito mais.

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Daniel Kaluuya em cena de Não! Não Olhe!
Foto: © Universal Studios. All Rights Reserved.

Em um primeiro momento, Não! Não Olhe! até acaba por ser sobre uma ameaça que vem dos céus e que vem para atrapalhar a rotina de dois irmãos (Daniel Kaluuya e Keke Palmer) que vivem em uma fazenda. Mas particularmente, acho que o filme não é só sobre isso não, Não! Não Olhe é muito mais do que apenas isso. É sobre nossa relação com situações anormais, com experiências fora desse mundo, e como, nós, como sociedade, estamos na busca de transformar tudo em um espetáculo midiático, onde o show não pode parar nunca, e como somos atraídos de uma forma magnética para o caos, para o inesperado, e para a confusão.

É sobre o poder que todas essas situações extremas, algumas violentas e quase surreais que fazem o ser humano querer olhar para isso e aquilo, a curiosidade em querer acompanhar a tragédia, mas claro, do conforto do lar. E você deve sim, olhar, e muito, para Não! Não Olhe!, sim. E bem de perto, e se possível na maior tela possível, e na sala mais silenciosa possível, afinal, cada detalhe, cada cena, cada passagem está ali por algum motivo para te ajudar a montar esse quebra-cabeça. Peele sim, entrega um espectáculo viciante, intenso e cheio de metáforas. Se você já chegou até agora sem tomar spoilers do filme, parabéns. Quanto menos você souber sobre Não! Não Olhe! melhor.

Assim, Peele vai por criar essa história misteriosa, e que começa Não! Não Olhe! com um mar de possibilidades. Sobre o que será o filme? Aliens? Espíritos? Demônios? e até um determinado momento, o próprio Peele e os personagens brincam sobre isso, mas fica claro a intenção do diretor em querer nos primeiros minutos fazer com o que o espectador fique vidrado nessas perguntas, nesses personagens e o que pode acontecer com eles. Desde da incrível e sufocante cena inicial, que envolve uma plateia, um programa de TV e um macaco, até mesmo uma que envolve a cor vermelha (vocês vão saber quando assistirem), já lá na frente na trama, quando nossos personagens se veem presos dentro da casa com a ameaça vindo em direção a eles, Peele sabe conduzir com maestria todas essas cenas, seus atores e tudo mais.

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Keke Palmer em cena de Não! Não Olhe!
Foto: © Universal Studios. All Rights Reserved.

Afinal, o diretor leva um tempo dentro da história do filme para fazer com que o espectador descubra e conheça mais das figuras dos irmãos OJ (Kaluuya) e Emerald (Palmer, excelente aqui e a melhor atuação do filme), que são completamente opostos em termos de personalidades uns dos outros, mas se veem com um plano em andamento para tentarem resolver o mistério que vem do céu depois que seu pai morre em um evento que envolve moedas e chaves voadoras.

E com o contexto que um ancestral deles foi o primeiro homem a estar em frente às câmeras isso se cria um simbolismo tão grande para a história do filme e tudo mais. A presença de Angel (Brandon Perea) outro curioso que acaba se auto-convidar para o experimento e de um diretor conhecidíssimo chamado Antlers Holst (Michael Wincott) cria-se esse grupo que quer gravar esses acontecimentos, comprovar que estão falando a verdade, e quem sabe ganhar fama com isso.

E Kaluuya e Palmer estão tão bons juntos, se destacam em todas as cenas, juntos ou separados, e que só elevam Não! Não Olhe! e o trabalho que Peele quer apresentar aqui. Inclusive Kaluuya tem uma cena dentro do carro que é simplesmente uma das melhores passagens do filme. Já Perea até serve como um alívio cômico para o filme, e serve como se fosse o próprio espectador dentro do filme, e se destaca no meio dos veteranos.

Mas lembra que falamos sobre tudo ser feito para gerar um espectáculo? É isso que conecta o personagem do ótimo Steven Yeun com a trama. O ex-ator mirim, agora dono de um rancho e uma casa de shows, parece estar um pouco desconectado com a trama geral, mas preste atenção, afinal, nada é feito por acaso num filme de Jordan Peele, e Yeun tem seus momentos de também se destacar…

Claro, quanto mais com expectativa você for para o filme, talvez, mais você possa se decepcionar. Não espere grandes reviravoltas no estilo The Twilight Zone e etc. Peele aposta no mistério, em perguntas complexas, mas entrega respostas das mais simples possíveis (simples para os padrões Peele, claro). O mais interessante de Não! Não Olhe!, talvez, fique com a crítica sobre a própria indústria de Hollywood, de capitalizar em cima das tragédias, e de eventos anormais, e não só de um ponto de vista racial, mas como uma sociedade de maneira geral. A diferença é que aqui Peele não expõe os horrores da sociedade contra esses personagens, e sim, deixa esses personagens apenas serem parte desse horror, um que vem do céu, e não foca tanto em questões sociais como vimos em seus outros filmes.

No final, ao querer criticar a busca pelo espectáculo, com Não! Não Olhe!, Peele faz justamente isso, um espectáculo visual, de ideias, e marcado por cativantes e viciantes atuações. O que temos aqui, é um dos roteiros mais interessantes do ano, sem dúvidas, num dos filmes mais bacanas de 2022.


Avaliação: 4 de 5.

Não! Não Olhe! chega nos cinemas nacionais em 25 de agosto.

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